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Quando a ficha caiu, quando me dei conta de que Lucas se foi, eu soltei um grito agudo de dor. As pernas amoleceram, fracas, e eu caí.

  — VOLTA PRA MIM! — Gritei, ainda no chão. — VOLTA PRA MIM, MOCINHO.

Era doloroso demais.

Lucas tinha partido. Meu Lucas tinha partido.

Como eu viveria num mundo sem um cara de sorriso prepotente e duas covinhas?

A vida ficaria tão cinzenta sem o azul dos olhos dele.

  — Por Deus, não — e chorei, inconsolável.
Alguém me aplicou uma injeção, tranquilizante talvez, e eu fui ficando mole, exausta e sonolenta.

  — Vem, você precisa descansar — aconselhou uma enfermeira, me arrastando para sei lá onde.

Andei, trôpega, e fui deitada numa maca, em um quarto vago.

O choro cessou, mas a dor — forte, pungente e insuportável — permaneceu dentro dos cacos que um dia foi meu coração.

Agarrei em minha correntinha.

  — Amo você, mocinho — murmurei, grogue. — Eu vou te amar pra sempre.

Levei o pingente à boca e selei minha promessa com um beijo.

As covinhas de Lucas vieram em meus pensamentos, e foi a última imagem que vi antes de apagar de vez.

Eu estava no penhasco do Bob, sozinha. Até que ele chegou.
— Oi, mocinha.
Eu o encarei, meus olhos pinicaram e meu coração doeu de saudade.
  — Por que você se foi?
  — Eu não fui a lugar algum, Larah.
  — Você partiu, Lucas. Eu vi. Você me deixou sozinha.
  — Enquanto eu existir, mocinha, você jamais estará sozinha.
Abaixei a cabeça, tristonha.
  — Aí é que tá, Lucas. Você não existe mais.

Acordei com o coração quebrado. Partido em mil pedacinhos. Deus, o que eu faria de agora em diante?

Eu nem tive tempo de me despedir. Eu nem tive tempo de dizer para Lucas que o amava, que voltaria com ele e abriria mão de descobrir o que Ricardo escondia.

Se estava com Linda. Ou com Meg. Ou Ângela.

Se tinha sido raptado. Ou estava com uma doença grave. Ou engravidou alguém.

Isso nem importava mais.

Quem realmente importava já não estava mais aqui, para rir dos meus comentários, me abraçar bem forte e implicar comigo.

Nada mais fazia sentido para mim agora. Eu já nem tinha mais forças pra seguir em frente.

  — Como eu vou viajar sem você, mocinho? A quem eu vou assustar com minhas ultrapassagens malucas e minha péssima habilidade no volante? — E tornei a chorar.

Doía tanto, tanto.

Nós só sabemos o valor das pessoas, quando elas viram lembranças.

A porta se abriu e o médico entrou.

  — Como você está? — Ele quis saber.

— O senhor já sentiu que uma grande parte do seu coração foi arrancada e nada e nem ninguém poderá colá-la de volta outra vez?

  — Sinto isso sempre que perco um paciente.

Lucas foi um deles.

Uma lágrima rolou e eu a enxuguei.

— Sobre o enterro — comecei — a família resolverá. Se certifique de que será lindo, como Lucas merecia. Eu só... Não terei forças para velar o homem que eu amo.

O Noivo Sumiu - em busca de respostasOnde histórias criam vida. Descubra agora