Quando fui pagar os custos, com o cartão de Ricardo, sem Lucas nem fazer ideia, a atendente me disse que o cartão de crédito havia sido bloqueado.
Sério, Ricardo? Você some e ainda por cima interfere nas minhas compras?
Tá, o cartão era dele. Ainda assim, ele não tinha esse direito.
Bem, ele tinha, mas não estamos falando sobre ética moral aqui.
— Há outra forma de pagamento?
— Sim — menti —, vou pegar minha bolsa.
Agitada, me sentei e tentei pensar numa alternativa.
Algo como fugir com Lucas do hospital e sair sem rumo por aí.
É, e o Brasil vai levar sete gols na Copa.
Suspirei, abri a bolsa, e comecei a vasculhar, sem fazer ideia do quê exatamente estava procurando.
Foi quando eu a avistei. Minha tiara de diamantes.
Caminhei de novo até a recepcionista.
— Tem alguma joalheria aqui?
— A do seu Valcir — respondeu, simpática —, vou te explicar onde fica.
Eu sorri.
Lucas tinha razão, embora as coisas tomassem um rumo diferente do que planejamos algumas vezes, nós sempre conseguíamos voltar para a direção certa outra vez.
Sendo assim, cá estava eu agora, na joalheria, com minha tiara sendo avaliada pelo dono e joalheiro, seu Valcir.
Era um senhor de meia-idade, cabelos grisalhos e corpo roliço.
— São verdadeiros — falou ele, todo embasbacado — Tem certeza que quer penhorar?
— Não quero penhorar. Quero vender. Definitivamente.
Ele me olhou, desconfiado.
— Aqui a nota fiscal — entreguei —, não foi roubada.
— Certo — disse, coçando a cabeça —, isso aqui é um tesouro. Eu te ofereço cinquenta mil.
— Tá de zoeira, né? É uma tiara ainda mais valiosa. Eu pesquisei os preços, a marca, tudo. O valor estimado é de, no mínimo, meio milhão de reais.
— O que acha de quatrocentos mil? — Propôs.
— Está bem. Eu vendo.
— Me passe seus dados bancários, vou ao banco transferir. Vem comigo?
Aquiesci e fui.
Em menos de duas horas, eu já estava super riquíssima e com condições de pagar o valor do hospital.
Assim eu fiz, acertei as contas e comprei os remédios que o médico passou, logo depois de dar alta a Lucas.
Ele estava bem sorridente, de pé, ao telefone.
Fiquei espiando atrás da porta, o coração batendo rápido dentro do peito, as pernas amolecidas, os olhos cheios d’água.
— Está bem, Cupcake . Eu peço desculpas também, prometo que volto logo. Vamos resolver isso juntos, como sempre foi. Te amo.
Prendi a respiração, meu peito ficou comprimido, uma dor pungente e dilacerante tomou conta de mim.
Lucas amava Verônica. Talvez descobriu isso enquanto estava em coma, entre a vida e a morte.— Ah, Larah é... Uma amiga. Ela é incrível e...
Saí. Não conseguia mais ouvir aquilo.
Eu não queria ser sua amiga.Eu queria ser seu amor.
E como não era, não podia mais me permitir ser torturada daquele jeito.
Seja feliz, mocinho, desejei, enquanto voltava para a sala de espera.
***
Lucas saiu do quarto como se não estivesse quase partido noites atrás. Vestia uma camiseta azul-marinho e bermusa jeans, os cabelos arrumados, um cheirinho bom de sabonete e algum tipo de perfume amadeirado.
Estava lindo, como sempre.
Ei, eu te amo.
— Olha quem veio te visitar — falei, o peito preenchido de um amor puro, forte e único.
Ele olhou para o garotinho, nos braços de Catarina, e sorriu. E lá estavam elas, as covinhas que faziam eu sair de órbita e meu coração disparar feito um doido.
Eu era maluquinha por ele, hipocrisia minha se negasse isso.
— Ei, amigão — falou, carinhoso —, vem pro tio.
E, vendido do jeito que era, Bernardo se jogou para Lucas.
A ficha caiu.
Lucas queria um filho, Verônica disse na mensagem que estava disposta a aceitar suas condições. Tudo se encaixava, e doía em mim, pra caramba.
Me aproximei dos dois e mexi nos cabelos de Bernardo, que logo se jogou para meus braços.
— É, eu sei, é difícil resistir aos encantos da Larah — Lucas comentou, e a esperança brotou em mim outra vez.
— Bem-vindo de volta ao mundo real, rapaz. Podemos ir?
— Eu tenho que ver as contas antes, seu Francisco. Me disseram que é um hospital particular.
— Está tudo certo, Lucas.
— Cartão de crédito ilimitado? — Brincou.
— Não. Uma coisa preciosa para muitos, mas que pra mim não tem valor algum.
— Obrigado. — agradeceu, todo bobo.
Aquiesci.— Vamos? — dona Charlotte chamou. — Vou preparar um almoço daqueles.
Antes de sairmos, quando todos já estavam no carro — inclusive o Bê —, Lucas segurou em meu braço.
— Depois do almoço, iremos para a casa de praia e encontraremos seu noivo.
— Você me parece bastante apressado.
— Quero acabar logo com isso, mocinha.
Eu entendia a pressa.
Se fosse preciso pular um abismo onde Lucas me esperaria do outro lado, eu nem pensaria duas vezes.
Lucas queria dar esse salto, mas a mulher que ele ansiava por encontrar, não era eu.
Talvez tivesse sido algum dia.
Mas tudo mudou.
Sua grande dor não era eu, embora ele fosse a minha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Noivo Sumiu - em busca de respostas
Lãng mạn.."Larah está feliz da vida. Depois de tantos altos e baixos em seu relacionamento com Ricardo Albuquerque - seu namorado de longa data -, as coisas finalmente parecem se ajeitar assim que ele a pede em casamento. Ela está tão perdida em seus sonhos...