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Quatro dias antes do casamento...

  — Não tenho ninguém pra convidar — Ricardo confessou, desanimado.

Estávamos em meu quarto, com o notebook ligado, fazendo a lista de convidados para nosso casamento, pois mandaríamos ainda hoje para Dávila. Falando nela, o lance com o Fábio, filho de Antônio, pareceu vingar. Segundo minha cerimonialista, os dois já até falam em algo mais sério.

  — Então vai ser só o Beto e a Meg? — Eu quis saber, preenchendo a lista.

  — E a Ângela.

  — Qual o lance com ela?

  — Tinha um irmão gay. Não tem mais.

  — E morreu o assunto.

  — E morreu o assunto — ele repetiu. — Mas para resumir, nós nos conhecemos no Facebook, em um grupo privado. Eu usava um fake. Conversamos e ela veio trabalhar em casa.

  — Por pura coincidência?

  — Não.

  — Uau, você é assim tão reservado sempre?

  — Desculpa, eu não consigo falar muito sobre isso. Mas você tem todo o direito de saber a história completa. Esse é o número da Ângela, procure-a e diga que eu autorizo.

Aquiesci e salvei o contato da garota que um dia eu jurei ser apaixonada por Ricardo.

  — Esse quarto traz tantas lembranças. — ele comentou, nostálgico.

  — É, traz sim.

  — Lembra quando eu dancei uma música da Lady Gaga e — apontou para a janela — bati a cabeça bem ali?

  — Fico me perguntando como eu nunca desconfiei. — soltei um muxoxo.

Ricardo gargalhou.

  — Não seja preconceituosa, querida — mas riu novamente.

  — Não é preconceito — me defendi — mas é a Lady Gaga. A Lady Gaga, Ricardo!

Então ele ficou sério, meio pensativo talvez.

  — Que foi?

  — É que... É difícil deixar você pra trás, Larah.
— admitiu. — Se eu não fosse...

  — Mas você é. — Eu o interrompi. — Por favor, me prometa que nesses sete meses você vai tentar se aceitar do jeito que nasceu.

  — Você acha mesmo que eu nasci assim?

  — Tenho certeza disso.

  — É estranho. Às vezes sinto que sou uma anomalia, um erro genético. Alguém que deveria ter perdido na corrida contra os espermatozoides.

  — Difícil, você sempre foi bem rápido — brinquei. — Como conseguia?

  — Muitas vezes eu pensava nele.

— Não sei se queria ter ouvido isso — zombei.

— Então me conte algo que eu não gostaria de ouvir. — Propôs. — Vai, dá o troco.

  — Eu nunca tive um orgasmo.

Ricardo me encarou, surpreso.

  — Então você fingia? — Inquiriu.

  — Ei, nem adianta me julgar, você fazia a mesma coisa. — acusei.

  — Não dá pra refutar  — sorriu e encarou a tela do notebook. — E você? Tem alguém que queira convidar?

O Noivo Sumiu - em busca de respostasOnde histórias criam vida. Descubra agora