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Ricardo e eu ficamos abraçados por um bom tempo, até que um carro esportivo apareceu e a garota de cabelos azuis — que por anos eu vi como ameaça — buzinou para nós.

  — Ei, pombinhos — Meg gritou, irônica, abaixando o vidro —, vocês vão ficar aí parados?

  — Você é tão irritante, Megali — provoquei, tão logo nos afastamos.

  — E você, simpática como sempre — rebateu, e eu lhe mostrei a língua. Ela me respondeu com o dedo do meio.

  — Deus, eu tinha esquecido como vocês são insuportáveis juntas! — Ricardo exclamou, meio rindo.

  — Ela quem começou — Meg apontou para mim, feito criança birrenta. — Cadê o Beto?

  — Com a Linda. — Ele respondeu. — Eles nos esperarão lá, pra não dar bandeira.

  — Ótimo! Vamos que eu tô doida pra encher a cara!

  — Porque é a única maneira de me aturar? — Provoquei de novo, me acomodando no banco de trás.

— Ah, que bom que você sabe disso — ela rebateu, girando a chave de ignição.

  — Tentem se manter vivas e  não quebrem nada na cabeça de ninguém.

  — Eu não vou quebrar coisa nenhuma na cabeça dela, Rick!

  — Eu sei. Eu estava falando da Larah.

Empurrei-o e me fiz de emburrada. Ricardo riu e me abraçou.

Senti uma certa paz, a sensação tão familiar de aconchego.

Não era mais apaixonada por ele, não sentia atração ou desejo. Ricardo não era minha Grande Dor, só que eu ainda o amava.

Segurei em meu pingente.

Pela primeira vez, depois que o encontrei, eu senti medo de perdê-lo.

Não para Beto, mas para uma coisinha triste, misteriosa e definitiva: a morte.

  — Você tá chorando? — Ele perguntou baixinho.

Fiz que sim.

  — Quer falar sobre isso?

  — Não. Só promete que vai ficar aqui.
Ele acarinhou meus cabelos e beijou-os.

  — Você sempre foi um dos motivos para eu permanecer.

              ***
Ricardo e Beto foram para o quarto ao lado, enquanto eu, Meg e Linda estávamos na cama, bebendo champanhe e comendo petiscos.

Olhei para meu pulso e passei os dedos sobre minha tatuagem, emotiva.

Lucas ressurgiu em meus pensamentos com tamanha força, numa espécie dum lembrete de que, por mais que eu tentasse seguir em frente, não o esqueceria assim, tão rápido.

Demoraria muito para que esse amor desaparecesse por inteiro. Uma vida só já não me parecia o suficiente para isso.

  — E essa tatuagem aí? — Meg indagou, observadora.

Meus olhos marejaram.

  — É muito mais que uma tatuagem, mas você não entenderia.

  — Ué, por quê?

  — Porque você não parece ser do tipo que valoriza pequenos gestos. — alfinetei.

  — E você não parece ser do tipo que vai subir ao altar com um cara que tá dando pra outro, mas tudo bem.

O Noivo Sumiu - em busca de respostasOnde histórias criam vida. Descubra agora