Recebi uma mensagem de Bela, assim que voltei para o hospital, nela, minha amiga dizia:
“Flor, eu fui à mansão, procurei por essa tal de Ângela e me falaram que ela se demitiu. Encontrei Eduardo, tá bem feinho, me perguntou um bocado de coisas e eu inventei tantas outras também. Estou orgulhosa de mim, menti sem nem coçar o nariz.”
Eu ri, Anabela sempre coçava o nariz quando ia nos contar alguma mentira. Meu peito apertou, sentia muita falta dela. Pessoas como a Bela — divertidas, leais e verdadeiras — são muito raras de se encontrar.
Por isso, se acaso se esbarrar com uma delas por aí, você faz como eu.
Você cuida.
Digitei um: “obrigada, Bela. Não confie em Edu, caso ele te ofereça qualquer coisa não aceite. Voltaremos logo
Amo você."E entrei.
Lucas estava assistindo um jogo de futebol. Era Inter contra Grêmio, dois grandes adversários.
O famoso Grenal.
No quarto estavam dona Charlotte, Catarina e seu Francisco, acomodados em bancos, concentrados na TV.
— E o Bê? — Eu perguntei.
— Tá na casa da avó paterna. Vem, Larah, tem cadeira sobrando.
— Não — Lucas discordou, a voz mansa —, Larah senta comigo.
Aquiesci, toda derretida, e me sentei ao seu lado, na cama.
Ele segurou minha mão e, baixinho, confessou:
— Senti saudades, mocinha.
Sorri, afetuosa.
— Eu também, mocinho.
Começamos a assistir a partida, empolgados.
Quando o olhei, eu consegui ver.
Os cabelos pretos ficando grisalhos com o passar do tempo, uma barba rala e esbranquiçada, ruguinhas nos cantos dos olhos que continuariam tão azuis e cheios de vida.
É, eu encontrei meu velhinho da varanda.
—Trouxe roupas, comida, escova de dentes e seu celular — avisei, desconcertada com minha constatação.
— Obrigado, Larah — e levantou-se. — Vou escovar meus dentes.
Acompanhei-o com o olhar.
— Deus, você nem disfarça! — Catarina exclamou.
— Calada — brinquei, jogando a almofada nela.
— Minha boca é um túmulo. Mas minha intuição é forte — e jogou a almofada de volta.
Lucas retornou segundos depois, deitando-se perto de mim.
— Qual seu time? — Ele quis saber, acarinhando meus cabelos.
— Não tenho. E o seu?
— Grêmio.
— Então eu tô torcendo pro Inter.
Ele riu, rolando os olhos. Em seguida seu olhar pousou em minhas mãos.
— Você roeu as unhas — observou.
— Roí.
— Mas elas eram tão importantes pra você.
— É, mas tem alguém que é mais.
Lucas me encarou, os olhos emotivos, brilhando de adoração e orgulho.
Levou minhas duas mãos até a boca e as beijou, carinhosamente.Preciso dizer que o amei ainda mais por isso?
— Vem cá, Larah.
Eu fui e deitei a cabeça em seu peito, seus batimentos estavam rápidos, e, como eu sabia a causa dos meus, fiz de conta que o motivo era o mesmo.
Voltamos a atenção para o jogo. Grêmio estava com um gol na frente, feito por Vilassanti.
Era segundo tempo já, quando Bitello fez mais um gol.
Lucas vibrou, todo contente.
Nos minutos finais, um jogador do Internacional marcou um ponto, mas não adiantou, o centroavante do Grêmio trouxe a vitória para o time.
Eles venceram de 3 a 1.
Papai são paulino, Madá corintiana, Linda do Vitória, Guga; Bahia. Lucas era gremista.
E eu, por motivos óbvios, agora sou Colorada.Pois foi graças à derrota do Inter, que ganhei de Lucas um beijo intenso e apaixonado.
***
O pessoal saiu, nos deixando a sós. Lucas comia um dos sanduíches enquanto bebia o suco. Fiquei olhando-o comer, admirando cada detalhe seu.De repente ele parou, sério, me deixando desentendida.
— Você comeu, Larah?
— Hum... Eu...
— Coma. — Ordenou.
— Lucas, você precisa comer. Eu me viro.
— Não vou comer se você não comer — teimou.
Assenti e peguei um pedaço do pão, na cesta.
Não me sentia faminta, mas meu estômago pedia por algo que não fosse água.
— A polícia vai aparecer. Você foi envenenado e a principal suspeita sou eu. Eu sei quem fez isso, foi o irmão de Ricardo. Mas não fale do bombom, Lucas. Inventa qualquer coisa, mas não fale.
— Por quê? Ele precisa ser preso.
— Ele tem esquizofrenia. Deve ter tido um surto.
— Se você foi capaz de inventar um transtorno mental só pra eu não contar a verdade, então tem seus motivos.
— Tenho, tenho sim.
— Me prometa que não fará nenhuma maluquice, mocinha.
— Prometo — mas eu ia.
— E sobre o beijo, não irá se repetir até você e seu noivo romperem de verdade.
— Quanto a isso, eu decidi que...
O médico abriu a porta, me interrompendo.
— O delegado quer conversar com você, Lucas. — e me lançou um olhar sugestivo.
Plantei um beijo na cabeça dele e saí.
Quando estava na sala de espera, o celular de Lucas, que ainda permanecia na minha bolsa, vibrou, anunciando a chegada de uma nova mensagem.
O nome de Verônica piscava na tela. Eu sabia que era errado, invasivo e indecoroso, ainda assim, trêmula, eu abri.
“Oi, Luluca.
Fico feliz que tenha aceitado conversar comigo, para, juntos, acertarmos nossas questões.
Estou de acordo com as condições que impôs, quero ficar bem de novo com você.
Sinto sua falta.
Te amo.”Guardei o celular e, sufocada, comecei a chorar.
De qualquer forma, eu perderia Lucas. Eu sabia desde o início que seria assim, não é?
Ele era como um sapato bonito, desses que a gente olha na vitrine, se encanta, mas não o leva para casa, pois pertencerá à outra.
Lucas pertenceu à Verônica uma vez.Ele pertencerá novamente.
Só me restava pedir, em silêncio, para que ela o fizesse feliz.
Se ele estivesse bem, ainda que longe de mim, eu também estaria.
Porque eu o amo, e o amor é isso.
Agora eu entendia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Noivo Sumiu - em busca de respostas
Romance.."Larah está feliz da vida. Depois de tantos altos e baixos em seu relacionamento com Ricardo Albuquerque - seu namorado de longa data -, as coisas finalmente parecem se ajeitar assim que ele a pede em casamento. Ela está tão perdida em seus sonhos...