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O estabelecimento era bastante acanhado; as paredes, pintadas de verde e amarelo por causa da Copa, estavam gastas, o ventilador em cima do teto não funcionava e a dona volta e meia saía para bater boca com o dono da borracharia.

— Rixa antiga — explicou o funcionário, enquanto anotava nossos pedidos.

Ele saiu, e voltou minutos depois com uma bandeja na mão. Serviu o pão amanteigado e o copo de suco de maracujá sem adoçante para mim e quatro mistos e um copão de café com leite para Lucas.

Olhei para ele, cética.

Como podia devorar aquilo tudo e ainda manter aquele corpo?

Sacanagem.

Comemos em silêncio, e essa foi a deixa para que eu descobrisse o que tanto me pinicava. Sem que eu me desse conta, uma lágrima escapou, rolando, de forma traiçoeira, pelo meu rosto.

— Larah, está tudo bem? — Lucas perguntou, preocupado.

— Uhum — respondi, segurando em meu pingente, sem encará-lo —, é só que...

Mais lágrimas.

Droga.

— Mocinha — ele chamou, com certa agonia.

Ergui o rosto e ali estavam elas; as duas turquesas, me dizendo coisas que eu sequer sabia o que significavam.

Lucas segurou minha mão e fez um afago, como se aquilo fosse o bastante para afastar minhas inquietações.

Para minha surpresa, foi.

O toque de Lucas era gentil, quente, e estranhamente certo. E foi só por isso que eu desfiz o contato.

Funguei algumas vezes e fui limpando as lágrimas com as costas da mão, forcei um sorriso e desviei o olhar.

— Você vai querer mais alguma coisa? — Ele perguntou.

— Não — respondi —, pode pedir a conta.

Abri minha bolsa, vasculhando em minha carteira em busca de grana, e quando catei tudo e ergui o rosto para pagar minha parte, Lucas já havia feito isso.

— Ah, qual é — ralhei. —, estamos no século vinte e um. É normal dividir a conta, sabia?

— Eu sei — ele respondeu presunçoso —, mas nenhum homem deixa uma mulher pagar a conta no primeiro encontro.

Sorriu, e acrescentou:

Nem mesmo os sequestrados.

— Não estamos num encontro — retruquei, apertando os lábios para não rir.

Lucas esticou o corpo contra a cadeira, de forma descansada.

— Levando em conta que você me deu um cano — ele disse, sem perder o bom-humor —, isso aqui se transforma, oficialmente, em nosso primeiro encontro.

Foi inevitável rebater.

Eu sempre ficava sem jeito quando Lucas sorria assim, despreocupado, de uma maneira fácil e prepotente. Eu gostava disso nele, dessa energia boa que emanava, da paz que sua presença trazia, das covinhas que surgiam e me faziam perder o foco.

— Tudo bem — respondi —, esse é o nosso primeiro encontro.

— No próximo você paga — ele falou, estendendo a mão para mim.

— Combinado — aceitei, correspondendo ao seu gesto.

Foi só eu fechar a boca que me dei conta de que tinha acabado de marcar um próximo encontro com Lucas. Ah, mas com certeza ele estava brincando, não devia estar levando a sério, provavelmente nem se lembraria disso depois.

O Noivo Sumiu - em busca de respostasOnde histórias criam vida. Descubra agora