Capítulo 82 l Medo

6.4K 716 101
                                    

Mareena Carter ~

Eu senti um maldito frio na barriga ao encarar o enorme castelo à minha frente depois de tanto tempo.

Eu não sabia se era uma boa idéia retornar para a Inglaterra antes do casamento ser oficializado e acontecer. Eu não sabia o que fariam comigo, e eu temia o que aconteceria quando todos me vissem no vilarejo.

Me despedir temporariamente da França não foi difícil, lá não era meu lar, eu não me sentia em casa.

- Mareena? - Ouvi a voz de Henrique me chamar fazendo com que eu prestasse atenção na realidade novamente. O mesmo deu passos curtos até mim parecendo preocupado. - O que foi? - Perguntou.

- Eu não sei... O que vai acontecer comigo quando eu entrar lá? - Me referi ao castelo. Eu sentia medo de encarar a morte outra vez, e acho que não conseguiria lutar contra ela novamente.

Cheguei tão perto da morte que qualquer coisa me assustava, eu me sentia perdida dentro de mim mesma depois da guerra, como se um buraco tivesse se formado dentro de mim, um vazio incompreensível.

Minhas mãos tremiam, eu sentia meus pelos se arrepiarem e meus olhos embaçados com a imagem de Henrique à minha frente.

- Mareena... - Sua voz era calma e baixa, até que sinto suas mãos aquecidas segurarem as minhas mãos frias e trêmulas. - Não vai acontecer nada de ruim. - Eu queria acreditar nele, mas meu coração acelerava e uma dor súbita subia fazendo minha garganta se fechar e meus lábios tremerem pelo medo que nunca senti.

- Eu... Eu estou com medo. - Confessei com a voz trêmula. - Eu não quero passar por isso denovo, eu não consigo. - Me encolhi por instinto. Eu podia sentir a lâmina entrar em mim e meu corpo queimar pela dor, eu podia sentir. - Eu preciso... Eu preciso respirar! - Me afastei dele apoiando minhas mãos em minha barriga tentando controlar minha respiração.

Eu senti meu rosto esquentar e as lágrimas descerem com facilidade enquanto eu revivia memórias nesse castelo antes de ir para a guerra.

- Mareena. - Sua voz estava tão distante como no maldito dia da minha quase morte. Eu era uma mulher morta. Algo em mim morreu naquele dia, talvez minha coragem, ou a minha força.

Encarei minhas próprias mãos e pude ver sangue de pessoas inocentes que só estavam lá por obrigação. Eu podia ouvir as espadas e os cavalos. Os homens gritando desesperados. O vento gelado daquele dia.

Eu senti mãos me tocarem e me afastei brutalmente com medo de ser machucada outra vez. Denovo não...denovo não...

- Amor, sou eu! Eu não vou te machucar... - Eu neguei com a cabeça assustada como uma criança perdida. Eu estava perdida na minha própria mente. Era demais pra mim.

E então eu comecei a chorar, como se algo tivesse sido tirado de mim me fazendo perceber tudo o que havia acontecido. E eu chorei de desespero ao ponto de sentir minhas pernas falharem.

Eu estava desesperada, com medo, assustada. Eu me sentia fraca, indefesa, como no começo de tudo. Como quando eu tive que fugir do meu vilarejo pra sobreviver. Como quando, eu perdi minha mãe...ao menos eu achava que tinha perdido.

Eu senti os braços que eram como âncoras em minha vida me puxarem para realidade e meu choro aumentar aos poucos. Eu me sentia quebrada.

- Eu estou aqui, está tudo bem! - deitei meu rosto em seu peito e desabei em seus braços que me seguravam. - Nada vai machucá-la, eu prometo! - Eu soluçava em seu peito desesperada por ele. Eu quase o perdi...

E se ele acreditasse que eu o trai? E se ele não fosse até a França por mim? E se...e se...

Ouvi passos se aproximarem de nós, e também ouvi Henrique mandá-los para longe no mesmo instante, provavelmente guardas pedindo para entrarmos.

A Guardiã do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora