O acidente que mudou minha vida

Capítulo 9

Cê tem uma cara de quem vai foder minha vida
Música - Girassóis de Van Gogh

Hinata Hyuuga

— Shion, assim não! — Praguejei vendo a loira desenhar algo totalmente sem contexto.

— Ah, assim fica muito mais bonito! — Sorriu maliciosamente observando sua obra de arte: Um desenho - que era pra ser do osso femoral -, mas a engraçadinha transformou em um pênis. — Não sei qual é o problema, já que isso também faz parte da anatomia humana!

— Mas Kurenai pediu para desenharmos os ossos, senhorita! — Apaguei tudo.

— Av, sua chata. — Cruzou os braços jogando seu corpo na cama. — Vamos dar um tempo e comer algo então? Tô com muita fome!

— Ok, ok! — Bufei levantando da mesinha de estudos. Estávamos no meu quarto, mas a bonita não sossegava um segundo sequer.

...

— Minha mãe deixou uma parmegiana pra gente, que sorte!

Tirei a forma de alumínio do forno e depositei-a na mesa, separei talheres e dois pratos.

— Onde está o resto do pessoal?

— Minha mãe acompanhou meu pai em uma reunião importante, e Sasuke — Quando ia falar, ouvi barulho na porta da frente. — Acabou de chegar.

Shion se endireitou rapidamente. É minha amiga, mas pensa em uma pessoa totalmente sem caráter, é ela.

— Hina. — Meu irmão rodeou a mesa, me dando um beijo na testa. — Shion. — Cumprimentou a loira com um beijo na bochecha.

— Quer comer? Acabei de tirar do forno. — Apontei pra forma.

— Sim, e coloca mais um prato na mesa.

— Mais um prato?

— Aí, Sasuke, como pode andar na frente e me deixar perdido nesse lugar?! — Outra voz, que não reconheci, soou pelo ambiente. Uma cabeleireira loira logo se fez presente no cômodo.

— Era só andar reto, idiota.

Seus olhos azuis fincaram nos meus arregalados. Esse rosto me era imensamente familiar. Shion, que nem percebi ter levantado, fora ao encontro do homem parado.

— Caraca, Sasuke! Por que não falou que traria visitas, eu teria me arrumado!Eu sou Shion. — Ficou na ponta dos pés para cumprimentar o rapaz, com a mesma intimidade que Sasuke a cumprimentou.

Ao invés de se afastar, ele retribuiu o cumprimento, demorando-se no beijo em sua bochecha.

— Olá, Shion. — Sorriu sacanamente. — Me chamo Naruto.

Naruto.. nem parece que duas semanas atrás estava todo machucado, e quase sem vida. Sem tirar o fato de que é estranho vê-lo na minha cozinha e pensar que já estive em cima dele. Tudo bem que era pra salvá-lo, mas mesmo assim..

— Hina, tenho quase certeza que ele bate com a descrição que nos deu de seu paciente no primeiro dia! — Sasuke comentou enquanto lavava suas mãos. O encarei de maneira séria, e ele acabou por murmurar: — Tudo bem, não está mais aqui quem falou!

— Você não me disse seu nome. — Tomei um baita susto quando me virei, dando de cara com o homem que há poucos segundos estava com Shion.

— Você não perguntou.

Não quis soar rude, mas percebi um ar problemático assim que deu seu sorrisinho besta para a loira. Algo em mim alertou o perigo, então somente me defendi. Já havia assistido séries demais para saber que ele era o tipo de garoto que impediria meu relacionamento perfeito.

O ignorei, seguindo para perto dos outros. Nos sentamos para almoçar em um clima bem desconfortável, por que vira e mexe percebia o olhar dele em mim.

— Onde se conheceram? — Shion quebrou o silêncio. Sasuke estava mastigando então Naruto se dispôs a falar.

— Na faculdade. Viramos amigos desde o primeiro momento! — Enquanto estava entretido na resposta para Shion, observei seu corte na testa, e sua cicatriz ainda estava bem recente indicando ter tirado a pouco tempo os pontos.

— Mentira! Me colocaram de babá desse calouro irritante. — Sasuke protestou.

— E por que o trouxe aqui? — Perguntei ao meu irmão.

— Por que tenho que passar as matérias que ele perdeu.

— Ei, não falem como se eu não estivesse aqui!

Contive a vontade de revirar os olhos. Tinha que ser logo aqui em casa?

Meu celular vibrou em sinal de mensagem, e quando olhei era de Toneri me chamando para almoçar. Já estava satisfeita, mas faria de tudo para fugir dali o mais rápido possível. Então aceitei.

— Eu tenho compromisso agora. — Deixei meu prato na pia. — Shion, vamos? Peço pra Toneri te deixar em casa.

Depois de tanto insistir, eu acabei contando ao Sasuke por que havia chorado aquela noite na festa. Ele disse que era normal, já que foi minha primeira vez tendo contato direto com o sexo oposto. Mas, óbvio que ele deixou bem claro para Toneri que se ele fizesse algo para mim já podia cavar a própria cova.

— Uuh, médico gostoso? Vamos.

Eu disse que ela não tinha caráter. Mas as vezes não fazia por mal, então apenas sorri rolando levemente os olhos para cima.

Tentei de todas as formas ignorar o olhar do loiro o tempo todo em mim. Mas de algum modo, eu sempre o olhava também. Chegava a ser irritante. Ele fez muitas piadas durante o almoço, e Shion sempre ria, por mais que a maioria nem tivesse graça.

— Mas e o trabalho?  — Perguntou Shion.

— Marcamos outro dia.

Meu celular tocou outra vez, e era Toneri avisando já estar na esquina.

— Vou pegar minhas bolsa lá em cima pra gente começar isso logo, tá? — Ouvi Sasuke dizer ao loiro. Então ele saiu da cozinha, deixando como sempre seu prato sujo na mesa.

Enquanto esperava Shion lavar seu prato - que nunca acontecia quando estávamos sozinhas -, observei Naruto se levantar e vir em minha direção. Gelei.

— Com licença. — Ele disse. Desprendi minhas mãos do armário atrás de mim e dei dois passos para o lado. Ele estendeu a mão e pegou um copo de vidro. Soltei o ar que nem percebi ter prendido. Ele era abusado! Quem havia deixado? — Espero que não se incomode de eu beber um pouco de água.

Mexeu o copo em minha frente. Minha cabeça apenas balançou um não.

— Fique à vontade.

Me desencostei totalmente do armário e passei a porta para a sala. Fugindo de seu olhar.

...

— Que imã é esse que você tem pra macho bonito? — Shion perguntou quando estávamos já do lado de fora. — Por que, porra, seus irmãos são uns gatos, o médico bonito então nem se fale, e agora esse loiro que tem todo um jeitinho de coisa errada, mas não deixa de ser o mais bonito, em minha opinião.

— Sabe que você não presta, né? — Ela me acompanhou na risada dando de ombros.

Encontramos Toneri na esquina, e antes de entrar no carro, olhei para todos os lados checando se não tinha nenhum conhecido meu. Toneri me cumprimentou com um selinho e gesticulou com as mãos para Shion. Deixamos-a em casa e acabamos por tomar sorvete na praça.

Gostava da companhia de Toneri, gostava mesmo, mas também não é como se eu ansiasse por isso todo momento. As conversas eram boas e rendiam bastante, mas depois de um tempo se tornava monótona e chata. Ou talvez eu era a chata que levava a conversa a esse ponto.