Capítulo 2

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AMY

-POR ACASO PEDI AJUDA??? PERGUNTEI ALGUMA COISA??? EU FALEI COM VOCÊ??? -gritava comigo. Além da raiva, ele parecia mal, o pouco de pele normal estava pálida, ele suava, enxugou a testa e pôs a mão trêmula sobre os olhos novamente. Seu estômago roncou alto.

-Saia de perto de mim, não preciso de caridade nem pena!- falou, ainda irritado, mas sem levantar a voz.

Não posso negar que quase corri, mas não consegui. Sabia que ele estava faminto e cansado. Mas se não aceitava ajuda, o que eu poderia fazer? Enfiar comida na goela dele? Dei dois passos pra trás:

-Não é pena... -eu o encarava, mas ele continuava com a mão nos olhos- mas me desculpe, então. Espero que dê tudo certo pra você.

Dito isso, saí. Já passava um pouco das 6h e eu estava ficando com fome também.

Logo entrei no Rose's, único diner daqui. O lugar, que fica na rua onde se concentram os poucos comércios, leva o nome da principal -e maravilhosa- cozinheira e esposa do dono; é pequeno, aconchegante e tem cara de anos 60.

Abre cedo, antes das 6h e fecha bem cedo, já que não há movimentação à noite. Não costumo frequentar o lugar, mas como trabalhei num documento até tarde, vou me presentear tomando café aqui.

Cumprimento o Sr Wilson, o proprietário com cara de vovô gentil. Ele está organizando o local, e como sempre, procuro sentar no lugar mais escondido, a última cabine à esquerda, pois logo após entrar, tem biombos decorativos dos dois lados e a cortina externa deste lado ainda está abaixada, então quem olha de fora também não vê quem está aqui.

Peço o mesmo das outras vezes que vim: uma panqueca, ovos e café com creme e açúcar.
Não demora muito meu pedido chega, vou apreciando tranquilamente e já estou quase terminando quando ouço a porta abrir.

Não acredito! É ele, o cara estressado de fome.

Observo pelo reflexo do balcão onde o sr Wilson está, o grandalhão se aproxima dele.

JASON

Estou com muito ódio!!! Como eu vim parar neste fim de mundo?! Que diabos, um lugar que não existe no mapa, onde mal funciona internet e telefone e só aceita dinheiro em espécie como meio de pagamento!

Nunca imaginei que num mundo globalizado e digitalizado, precisaria recorrer a meios ultrapassados como um mapas impressos ou um guia, para chegar em um lugar e saber tudo dele, já que não há informações deste povoado na rede.

Para ficar perfeito, a lei de Murphy bateu com força e tudo aconteceu pra complicar essa viagem.

Primeiro, estava dirigindo à noite e surgiu um animal do nada, que não faço ideia de que bicho era. Fui desviar da criatura e bati.

Não passava uma viva alma nessa estrada e o celular não tinha rede. Fiquei toda a noite esperando, até passar um carro e oferecer ajuda, isso no início da manhã.

Eu não queria aceitar, mas não tinha opção. Fui levado por uma caminho "mato adentro" até um estacionamento de treilers, onde em um deles há uma espécie de mecânica improvisada, que também vende alguns itens básicos e foi aí que descobri que, provavelmente, caí em um buraco de minhoca que me levou direto para a era jurássica, pois apesar de aceitar cartão de crédito, a máquina estava quebrada.

Tentei fazer uma transferência, mas não havia rede (eles ainda usam telefone fixo, porém também estava quebrado!).

O que restou foi trocar meu relógio pelo conserto do carro, um pouco de combustível (que já está no final), e pouca comida, que acabou há 2 dias, já que, ao sair de lá para voltar para a estrada, meu celular aparentemente voltou a funcionar e liguei o GPS. Entretanto, meu aparelho de última geração, simplesmente surtou e acabei me perdendo!

E pra piorar, descarregou agora, justo quando ofereci fazer uma transferência na loja de conveniência (que foi mesmo que nada, pois não aceitam).

Ah, e a água potável acabou ontem. Quase parei num lago pra pegar, mas do jeito que estou azarado, é capaz de estar contaminado ou ser habitat de algum animal e este me atacar.

Estou morto, também não tenho dormido esses últimos dias. Quando achei este lugar, vindo pela estradinha no meio da vegetação, achei que seria a salvação, mas só passei mais raiva.

Descubro que a civilização mais próxima fica a 6 horas ou mais. A cidade anterior, é mais longe ainda. Nem o combustível do carro daria, nem tenho mais disposição pra dirigir.

A fome e sede não me deixam raciocinar. Sou um homem grande, preciso me alimentar bem!
Que INFERNOOOOO!!!!!!

Se acreditasse no espiritual ou sobrenatural ou destino, o que seja, seria mais fácil, pois eu pensaria que algo ou alguém está me castigando ou querendo me dizer que devo parar esta caçada.

Sim, eu vim parar nesta merda de lugar, caçando um desgraçado. Sim, eu sou um monstro, tanto por fora quanto por dentro. Eu mato sem dó. Mas não faço indiscriminadamente. Tenho meus alvos.

Meu nome é Jason Aaron Cooper, um exímio hacker, especialista em tecnologia e segurança cibernética e trabalho para o governo americano, diga-se, FBI. Porém não consto na folha de pagamento.

Sou como um fantasma, pois o sucesso do que faço, depende de ser invisível e desconhecido, o que é excelente para mim, já que não suportaria trabalhar numa empresa convencional, tendo que conviver com várias pessoas.

Eu era só um tímido garoto de 11 anos, que tinha uma vida boa e normal.
Certa noite um incêndio criminoso quase destruiu minha casa, matou meus pais e me deixou marcado para sempre.

Thomas Graham era uma espécie de mordomo e braço direito do meu pai, e Jane sua esposa, era nossa governanta. Eles trabalhavam em casa desde que nasci, e há muito tempo haviam sido designados por meus pais como meus tutores, caso algo lhes acontecesse.

Eles tentaram cuidar de mim como se fosse o filho que nunca tiveram. Ainda assim, me isolei emocionalmente deles. Morávamos juntos mas eu estava sempre distante. Eu sabia que me amavam, mas eu me odiava e não conseguia deixar que se aproximassem.

Quando me recuperei, passei a estudar em casa e me dediquei à informática e tecnologia e logo me descobri um gênio do mundo digital. Um hacker.

the_monster ☠️

Foi assim que me denominei e me tornei conhecido. Os alvos dos meus ataques eram empresas e políticos corruptos.

Com o tempo, fui contratado para prestar serviço para grandes empresas, na área de segurança cibernética.

Aos 20 e após algumas invasões aos sistemas do governo, fui chamado pelo FBI, requisitando minha colaboração para pegar um serial killer.

A partir dessa época, venho cooperando para capturar diversos tipos de criminosos.

Foi quando trabalhávamos numa rede de exploração infantil, que descobri minha capacidade de matar sem piedade.

Depois de muito esforço, só os "peixes pequenos" foram levados a julgamento e punidos. Os cabeças da organização se safaram, pois tinham muito dinheiro e influência.

Tomado por um ódio que me consumia, resolvi fazer justiça com as próprias mãos. Aprendi a lutar e usar vários tipos de armas de fogo e facas e sei como ninguém cobrir meus rastros e me manter invisível.

Desde então, todo criminoso que faz mal a crianças e não recebeu a devida punição, se tornou meu alvo.

Mas para todos sou apenas um herdeiro, órfão, nerd e horrendo, que vive de forma reclusa.

MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora