Capítulo 21

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AMY

Antes que saia, o aviso do horário que pretendo levantar amanhã. Como disse que faria. 

Ele se vai e fico sozinha com meus pensamentos. 

Apesar de ter vindo da forma que vim e de tudo que me falou quando cheguei, não consigo vê-lo como uma ameaça, não consigo temê-lo -embora às vezes tenha receio que ele surte e se torne violento- sinceramente, me sinto atraída por ele.
Desde que o conheci, na verdade. Mas não tenho ideia de que tipo de atração é essa. Se por ter me identificado com ele, afinal, mesmo não sabendo sua história, somos sobreviventes. 
Se é atração física ou romântica, não sei, pois nunca senti isso por ninguém.  

Mas não nego que ele tem um porte chamativo, que é atraente, sim, eu acho. Veste-se bem, tem um cheiro incrível, é másculo sem parecer um ogro. 

Agora, esse jeito dele lidar com sexo é muito estranho, mesmo para mim que só tive uma experiência infeliz, porém é mil vezes melhor do que aquela merda que tive. Dizem que existe de tudo por aí, esse deve ser alguma variação.

E considerando que nesse quesito só importa minha integridade física, estou começando a cogitar, sim, ficar por aqui de bom grado. 
Se a relação sexual sempre for assim, pra mim está ótimo!
Posso perfeitamente conviver com ele dessa forma. 

O problema é que é muito cedo para decidir. É cedo para saber se isso tudo é só aparência. 
E se for, preciso ter um plano B. 
Meu único temor é que tudo mude de repente.
Preciso sempre contar com o pior e estar preparada para isso. 

***

Encontro com Jason no topo da escada. São 5:28.

- Bom dia -cumprimento com um ar de sorriso. 

- Bom dia. Então, quais os planos?

- Academia. 

- OK.

Descemos e ele me explica como funciona o sistema "personal". Não estou entendendo muito, pois o único exercício que já pratiquei na vida foi caminhar. Mas ele demonstra paciência e vou aos poucos captando melhor. 

- Com o dias e o uso, logo você vai saber 100% -diz.

- Assim espero. 

Ele treina também e nisso ficamos cerca de 1 hora. 
Decidimos tomar banho e depois fazer o café. Durante o exercício só bebemos água e um pouco de suco. 

***

Já estou fazendo panquecas, quando Jason chega, segue para o fogão e começa a fazer o bacon. 

Ele vê as laranjas sobre a pia. 

- Vai fazer suco?

- Sim. 

- Então faço o café. 

Vamos dividindo as tarefas e rapidamente terminamos e sentamos para comer. 

Queria tanto perguntar a ele sobre sua vida, sua família, no acontecimento que lhe causou as cicatrizes. 
Mas não tenho coragem.
Já sei que não é bom em conversar, se expressar. Talvez nem fale sobre esses assuntos. 

A ideia que me ocorre é tentar me aproximar de Jane, já que o conhece há muitos anos, e tentar saber mais, através dela. 
Será que ela me dará abertura?

Já terminamos tudo na cozinha e estamos na sala, eu no sofá e ele numa poltrona, olhando nossos "celutablets". Tenho uma ideia e começo a olhar algumas receitas. 

- Vocês comem bolo? Os Graham gostam? -pergunto me dirigindo a Jason.

- Sim, gosto. Thomas e Jane também. 

- Deu vontade de fazer um. Estou vendo umas receitas aqui. -aponto a tela em minha mão.

- Tem preferência? Sabe se eles tem restrição? de açúcar, por exemplo. 

- Pode perguntar a eles. Os contatos estão gravados, é só mandar uma mensagem. Quanto a mim, o que você fizer, vou gostar. -ele responde sério e tenho certeza absoluta que enrubesci agora! Fiquei sem palavras. Ele levanta e vai em direção ao corredor -volto já, me espere aqui. 

Em menos de três minutos, ele retorna e vem sentar quase a meu lado, sua mão segurando um cartão, estendido para mim. Pego, é um cartão preto, de uma grande instituição financeira, o nome do cliente que está gravado: Amy J Cooper. Amy Cooper. Ele deu seu sobrenome a mim.

- Amy J Cooper? -perguntei, surpresa.

- Sim. Com ou sem certidão de casamento, você é minha mulher. -de novo isso. Ele me indica o tablet- vamos acessar sua conta. 

Com sua ajuda acesso o aplicativo do banco.
Tomo um susto: há 100 mil dólares de saldo. 

- Que dinheiro é este? -em Inuitville, levaria uns 2 anos para acumular esse valor, mas lá meu custo de vida era baixo. 

- Considere parte disso um adiantamento, outra parte é o dinheiro que você tinha em casa, que foi depositado aí -até esqueci do valor guardado em casa, oriundo de objetos que vendi quando me mudei para o povoado- Esta é sua conta individual, mas temos uma conjunta -ele diz e abre outra aba do app e me mostra.
O saldo é bilionário! 

- Jason! -exclamo, levando a mão à boca, em claro sinal de espanto.- precisa disso?

- Você não acreditou quando eu disse que o que é meu é seu? 

Em seguida ele me passa a senhas, que é a mesma para as duas contas e explica que é uma combinação de nossas datas de aniversário, no caso os dias e meses, apesar que normalmente se usa biometria. 

Certamente, eu não poderia "limpar a conta", pois o nível de segurança é altíssimo, mas sua atitude é surpreendente.
Será que está me testando?
Matei a charada, é um teste!

Merda! Será que é tudo um teste?
Inclusive o sexo? 

Continuarei alerta.

***

Jason me ajuda a fazer o almoço mas enquanto faço a massa, só fica olhando.

- Esse tipo de receita já ultrapassa meus dotes culinários -diz com ar simpático.
Impressão minha ou ele quase riu? Como ele ficaria sorrindo? 

Fiz uma receita grande e dividi em duas, pois vou levar uma para os Graham. 

A manhã passou rápido, almoçamos, limpamos a cozinha e ficamos um pouco na varanda. Peguei um e-book num app que Jason instalou para mim e comecei a leitura, enquanto ele está fazendo algo em seu celular. 

Ficamos assim um longo tempo. 
Pauso a leitura e vou sair para caminhar e visitar o casal.
Vou para a cozinha, desenformar os bolos e quando menos espero, ele está de olho neles, espiando sobre meu ombro. 

- Ooooi -digo, brincalhona.

- Nossa, ficaram lindos! -são de chocolate e estão bem fofinhos.

- Quer comer agora?

- Sim! Quero -ele mal fala e já está com dois pratinhos e garfos na mão. 

Ponho o bolo sobre a bancada, corto em várias fatias de tamanhos iguais e sinalizo para ele:

-  Pode pegar à vontade. Quer beber alguma coisa?

- Leite ou suco. 

Acho que combina com leite, então levo a garrafa e um copo e o sirvo. 

- Não vai comer? -pergunta e já está no segundo pedaço -tá muito gostoso! 

Ponho duas fatias no prato e sento à mesa. Ele também se serve mais e me segue. 
Quando dou fé, metade das fatias já se foram!

Pouco depois, Jason põe uma máscara e boné, e saímos. 





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