AMY
Entro no quarto tão bonito e aconchegante, me sentindo perdida, completamente perdida.
Paro em frente à cama e olho para tudo.
Levanto o pulso e aliso a pulseira nele.
Como pode? Acho que estou bem acordada e tudo isso é real!Caio de joelhos com as mãos enfiadas nos cabelos.
Deus, o que está acontecendo?
Por quê isso comigo?
Eu realmente me atraio por gente doida e má!
Quanta loucura!
Queria chorar, mas nem consigo!Levanto, vou ao banheiro, faço minhas necessidades, escovo os dentes e decido procurar algo para vestir.
No guarda-roupas, além dos meu pijamas, tem umas camisolas bem bonitas e de ótima qualidade, de várias cores. Não são fofinhas nem sexies. Escolho um dos meus pijamas e deito.
Do que adianta tentar fazer algo agora? Não sei o que há lá fora, a não ser pela visão que tive da varanda. Vai que tento sair e me machuco. Além disso, ainda estou um pouco sonolenta. Vou esperar pra ver o que acontece e então analisar o lugar e a situação e pensar em um plano.
Fecho os olhos, mas os pensamentos não param!
Por que ele me sequestrou? Por que está me prendendo? Por que tenta me convencer que estou segura aqui?
Será que ele está falando daquele canalha? Se tem acesso a informações confidenciais, como diz, ele sabe mesmo; mas duvido -e acredito- que ele não sabe de onde eu realmente sou, do meu padrasto e de tudo que se passou naquela época.
Lembrar de tudo isso me faz estremecer.
Tenho mais medo de tudo que vivi antes -foi real, aconteceu- do que a situação atual, pois até agora Jason não gritou ou disse palavras ofensivas, nem me bateu ou fez sequer menção de fazê-lo. Este quarto é lindo e confortável, realmente aqui tem tudo que posso precisar e tive uma boa refeição.Mas não posso me enganar com isso, ele é louco e doentio.
Em algum momento ele vai agir como tal.
Já tem essa "algema" que ele me pôs, e a ameaça de me usar como mulher.Aliás, ele é tão lunático, que até sobre sexo ele fala de forma estranha.
Eu esperando um monte de depravações e o que ouço é algo totalmente diferente.
Como assim, me tocar o mínimo? Só faz o básico e rápido?
Tudo bem que também não sei de quase nada, mas tudo me soou estranho demais.Mas ainda assim, confesso que ouvir isso foi bem melhor que: "vou te rasgar, vadia"; "vou foder sua garganta até você sufocar"; "vou arrombar este cu".
Era este tipo de coisa que, entre tapas e empurrões, eu ouvia constantemente e, pior do que falar, ele fazia tudo que dizia, contra minha vontade.
Não consigo conter as lágrimas.
Só quem já viveu um sofrimento desse sabe o inferno que é.
A dor, a vergonha, o medo, a culpa, a vontade de morrer...Viro de lado e choro convulsivamente até pegar no sono.
***
Alasca, 8:22
Dia seguinte.Abro os olhos lentamente, estranhando a cama e o ambiente.
Aos poucos, vou recobrando as lembranças da dia anterior, em particular da noite. Lembro onde estou e começo a entender que tudo foi real.
Puta merda!
Pronto, agora me tornei uma boca suja. Segundo palavrão em horas.Aliás, que horas são?
Olho pra droga da pulseira no meu braço, são 8:22.
Lembrei que estes troços são cheios de funções.
Tento arrancá-la só pra perceber que não adianta de nada.Oh, ela está piscando, como se tivesse notificando algo.
Observo melhor e é uma mensagem que chegou às 8h. Clico no visor:
"Bom dia, Amy. O café está pronto e a aguardo na cozinha. Não tenha pressa"
Jason
Putz.
Ele já está lá me aguardando há quase meia hora.Por incrível que pareça, depois de chorar horrores, dormi a noite inteira.
O que é tão raro, que acordei revigorada.
Tomo um banho rápido enquanto penso no que fazer e como me comportar.Penso muito e opto por "ficar na minha" por enquanto. Ele disse que hoje eu conheceria tudo, então vou ver e analisar o local, as pessoas e me munir de informações que me permitam elaborar um plano para sair dessa insanidade toda.
Visto uma calça preta bem maleável e um pouco solta, blusa verde de algodão e uma chinelo confortável.
Afasto um pouco as cortinas e abro a porta da varanda.
A vista é linda! Os quartos ficam de frente para um lago incrível.
Por ser cercado de árvores e diversos tipos de plantas, há vários pássaros com cantos variados. Como bióloga que sou, é impossível não ficar impressionada e admirada com tudo isso.Fecho a porta da varanda e desço.
Seja o que Deus quiser!
Ele está à mesa, lendo algo num tablet. Quando me vê, levanta-se e põe o objeto sobre o balcão. Puxa uma cadeira para mim.
- Bom dia -falo, educada.
- Bom dia. Espero que tenha dormido bem.
Ele está novamente de calça e blusa pretas. Cabeça e rosto expostos.
- Sim, dormi muito bem, obrigada por perguntar. -respondo tentando ser simpática, mas sem sorrir.
- Como lhe disse, consigo me virar -aponta a mesa, e começa a servir panquecas, torradas, geléia, manteiga e leite. Ele segue para a cozinha, põe bacon para fritar enquanto pega ovos -como gosta dos ovos?
- Ah... eu... não tenho preferência, pode fazer como quiser -digo sem jeito. Ele acena com a cabeça e se concentra na comida.
O cômodo está banhado pela luz do dia, que não está tão forte, tornando o ambiente acolhedor.
Tudo aqui é muito bonito e de bom gosto, os eletrodomésticos são moderníssimos. A geladeira prata de duas portas tem uma tela e parece que a qualquer momento vai abrir e servir os alimentos por conta própria.
Antes que consiga analisar melhor, Jason se aproxima e nos serve, em seguida me oferece café e suco. Escolho somente café e começamos a comer.
- Sua casa é muito bonita e bem decorada. Você tem muito bom gosto -falo sem levantar os olhos do prato.
- Obrigado, eu mesmo escolhi tudo. Mas preciso corrigi-la: é nossa casa. Sua também, não esqueça -quase engasguei e achei melhor não dizer nada- depois pode mudar o que quiser, de acordo com seus gostos, desde que não seja nada relativo à segurança.
- Hmmm...
- O café está do seu agrado? Quer algo mais? -perguntou calmamente.
- Está tudo ótimo, obrigada.
Pergunto pelo gato e ele diz que já o alimentou e o deixou sair pra passear, e que na varanda tem uma casinha para ele, assim como a do cachorro.
Ele tem um cachorro!
Espero que não tenho comido meu gato.Como ele está calmo, de forma alguma eu iria reclamar, do conforto proporcionado e da boa comida.
Por hora, vou me privar de dizer ou fazer qualquer coisa que possa irritá-lo.
- Posso lhe mostrar tudo agora, o que acha? -ele oferece.
- Por mim, tudo bem. Vamos.
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Monstro
RomanceUm incêndio o deformou por fora e destruiu por dentro. Ele se vê como um monstro. A dor da perda e o medo da rejeição, o motivaram a tornar-se um hacker habilidoso e também um assassino, cujas vítimas são os algozes de inocentes. Ela não é mais um...