AMY
Fiz uma comida bem simples, mas sei que estava saborosa.
Ainda bem que fiz uma boa quantidade, pois já percebi que Jason come bastante.Eu repeti uma vez.
Ele repetiu TRÊS. E esse "elogio" valeu por mil palavras.Não gosto de pensar nisso, mas é impossível não lembrar e por mais que lute contra, comparar.
Sei que só estou aqui há dois dias e que, se continuar, pode ser que amanhã, ou daqui a uma semana, um mês, dois, seis, um ano... tudo pode mudar.
Mas não tenho outros parâmetros, Craig foi o único homem com quem "vivi" e desde o primeiro dia que passamos debaixo do mesmo teto, ele me destratava e desqualificava tudo que eu fazia.
A princípio, eram "apenas" comentários constrangedores e brincadeiras ácidas, das quais só ele ria. Logo evoluiu para palavrões e xingamentos, para em pouco tempo descambar para violência física.
Nada prestava, nada era bom o suficiente, se não era duro, era mole demais; muito salgado ou muito insosso, a temperatura sempre errada, não importa o que eu fizesse, pra ele sempre estava ruim.
E assim era tudo, a forma que eu fazia qualquer coisa; o que vestia; meu corpo; se eu falava ou ficava calada. Tudo era motivo de agressão.
No começo eu quis revidar, mas por ele ser mais forte, sempre terminava mal pra mim.
Quem não sabe, pensa que permiti as coisas chegarem a tal ponto. Mas eu não tinha experiência com relacionamentos, nem uma figura materna pra conversar a respeito.
Ele se chegou aos poucos, se mostrando amigo e interessado, sempre presente, simpático e galante. Foi nessa época que me sentia tão só, que comecei a pensar que eu poderia ter minha própria minha família, conhecer alguém legal, por mais que eu não sentisse nada especial, acreditei que, se houvesse afeto e a mesma vontade dos dois, seria possível.
Nunca fui de me interessar pelos rapazes. A experiência com meu padrasto me fez ver os homens com medo e cautela. Nunca havia namorado, no máximo dado uns "selinhos".
Também nunca senti desejo ou atração por homem nenhum, nem pelo Dawson.
Acreditava que eu era assexual.
Mas com a intenção que tinha, decidi tentar com ele. Não achava necessário eu ter um vida sexual satisfatória pra me relacionar com alguém e ter uma família.Por isso eu o permiti se aproximar tanto.
Se eu imaginasse...Não planejei morar com ele.
Houve um problema no meu apartamento, e o proprietário não tinha onde me alocar enquanto resolvia, e Craig me convidou para ficar com ele durante este período. Só levei o suficiente para alguns dias, pois, por mais que cogitasse formar família com ele, fazia apenas 4 meses que namorávamos, e por mais que ele dissesse querer o mesmo, era preciso esperar, nos conhecer mais antes de dar um passo tão grande.Fui por vontade própria, mas acabei ficando à força, pois cerca de duas semanas depois, no primeiro tapa, terminei com ele e fiz as malas para ir embora.
Eu tinha como me virar, trabalhava e não dependia de ninguém. E mesmo que não tivesse como me sustentar, preferiria ficar na rua do que passar por aquele inferno.Porém fui impedida de sair.
Ele mentiu na empresa que a "noiva" estava muito doente e como moravam juntos e ela não tinha família, ele cuidaria "dela". Dessa forma, foi autorizado a trabalhar de casa, assim ele conseguiu me vigiar o tempo inteiro e não me deixar escapar ou pedir ajuda.
Foi como reviver a época em que morava com meu padrasto.
Eu o olhava e via o rosto daquele monstro se fundir ao dele.
Eles eram iguais.Ele confiscou e usou meu celular e, passando-se por mim, enviou um e-mail para meu chefe pedindo demissão e avisando que iria para outro estado, onde morava a família do meu "noivo", e lá nos casaríamos e eu não mais retornaria. Mandou mensagem para Justine, única pessoa que eu tinha um pouco de proximidade, comunicando minha "decisão".
Em menos de uma semana, ele providenciou uma mudança, feita de madrugada. Saí de lá quase desacordada de tanto apanhar e não tive condições de tentar reagir. Já tinha gastado minhas energias lutando contra e havia sido em vão.
Fui levada para um apartamento num bairro deserto, num prédio que parecia abandonado.
Foram meses de humilhações e agressões constantes.O sexo com ele foi horrível desde a primeira vez, nunca houve carinho.
Eu era estuprada de diversas formas, quase diariamente.
Lembrar disso me faz sentir a pior de todas as criaturas, me dói e despedaça por dentro.
Pouco depois, engravidei.
Ele me bateu tanto que sofri um aborto.
Devido às péssimas condições em que estava, tive uma grave infecção.Quase morri.
Desejei morrer para acabar com aquele sofrimento.
No terceiro dia desde que adoeci, estava deitada queimando de febre, quando percebi uma movimentação em casa, mas perdi os sentidos antes de entender o que estava acontecendo.Acordei dias depois num hospital, ainda muito debilitada, mas bem melhor.
Segundo me contataram, fizeram uma ligação anônima para a emergência.
Nunca soube quem fez a chamada, onde estava e o que aconteceu de fato.
Só sei que não tinha nada: roupas, dinheiro, documentos, celular.Pensei em procurar Justine, mas temia envolvê-la nesta merda e até torná-la um alvo da maldade daquele facínora.
Soube através de uma policial que acompanhou meu caso, que ela me procurou depois de receber a falsa mensagem, mas não conseguiu falar comigo, já que ele estava com meu celular; e que foi até meu antigo apartamento, mas ao chegar, encontrou tudo vazio e um aviso do síndico de que eu havia ido embora com meu namorado.Fiz a denúncia e fui encaminhada para um abrigo e incluída em um programa de proteção, que concedia mudança de cidade e nome, bem parecido com proteção à testemunha.
Tornei-me Anne Johnson.
Fui para uma casa de apoio em outro estado, lá consegui um emprego, aluguei um cantinho e aos poucos fui me reerguendo.
Isso foi há 6 anos.Após um ano, aproximadamente, comecei a receber ligações e bilhetes do maldito.
Fui à polícia, novamente solicitei mudança de estado. Dessa vez, simulei me estabelecer num local, ainda com o último nome, mas fui para outro e só então, mudei de identidade, me tornando Daiane Peterson.Levou 1 ano e meio, até eu receber uma mensagem dele, dizendo que já tinha meu número e que seria questão de tempo até me encontrar.
Por precaução, eu já estava procurando trabalho na Inglaterra, o que não demorou a acontecer. Dada a situação, fiz todo o processo com o pseudônimo de Mary A. Smith.
Eu procurava adotar nomes muito comuns, difíceis de rastrear.
Antecipei minha ida, ficando lá por 2 anos, mas devido a questões legais, precisei voltar, então ao invés de vir para os EUA, procurei trabalho no Canadá.Mudei de número e e-mail, solicitei uma nova mudança de nome e estava vivendo em uma cidade pequena, mas desenvolvida, até descobrir Inuitville.
Minúscula, fora do mapa e desconectada.Desde a Inglaterra eu vivia em relativa "paz", não havia indícios de que ele me encontrara, mas cultivava diversos hábitos que tornavam minha rotina mais segura.
E um lugar como aquele vilarejo era tudo que eu precisava para manter uma vida pacata e anônima. Meu meio de comunicação com aqueles para quem prestava serviço era a caixa postal dos Morris, que havia em Knainsfield, assim como o telefone fixo deles ou do Sr Carlson, para recados.
Essa era a forma de comunicação normal lá, ideal pra mim.
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Monstro
RomanceUm incêndio o deformou por fora e destruiu por dentro. Ele se vê como um monstro. A dor da perda e o medo da rejeição, o motivaram a tornar-se um hacker habilidoso e também um assassino, cujas vítimas são os algozes de inocentes. Ela não é mais um...