Capítulo 7

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JASON

Vilarejo de Inuitville, 18:13

Já é noite nesse lugar esquecido de tudo e o senhor, que agora sei que se chama Joseph "Joe" Carlson, trouxe o jantar há pouco tempo, assim como a roupa que foi para a lavanderia.

Dormi quase o dia todo, acordei umas 15h e como não queria ficar mostrando minha cara medonha, muito menos conhecer ninguém nem conversar, fiquei no quarto mesmo.

Quando acordei, já passara da hora de almoçar e eu já estava com fome, pois mesmo aquele café sendo bem reforçado, foi muito cedo, então improvisei um sanduíche com pão e atum, comi um biscoito, uma barra de cereal e bebi água. Sim, gosto de comer bastante, sou grande, preciso de energia.

Infelizmente, enquanto comia, voltava a sentir o peito queimando, uma moleza estranha no corpo e a mente nublada por pensamentos, todos voltados para Amy Richards.

Talvez a fome e a sede prolongadas me deixaram alguma sequela. Eu até sonhei com essa mulher, com sua voz e seu cheiro e... acordei excitado.
Devo estar com alguma desordem hormonal. 

Pensando bem, acho que quando conseguir pagá-la, paro de pensar nela. É isso! Nunca precisei nem dependi de ajuda ou do dinheiro de ninguém, com certeza isso me afetou, me sinto em dívida.

Meu celular finalmente estava carregado, então tentei acessar a Internet e fazer algumas ligações, mas por Deus, é impossível! Nada conecta. Como essas pessoas vivem aqui?! É mesmo o fim do mundo!

Vou me organizar para sair pela manhã bem cedo. Até pensei em viajar à noite, mas não vou arriscar. Já basta o que passei nos últimos dias. Antes de sair, com certeza comprarei um mapa em papel e pedirei orientações ao Sr Carlson, assim como se fazia no período jurássico. Já diz o ditado: em Roma, faça como os romanos!

Só espero chegar nesta cidade e encontrar alguma boa pista daquele maldito, afinal, é por causa disso que venho passando "poucas e boas". Irei pegá-lo e farei justiça por cada criança que esse desgraçado molestou.

***

São 6h e sigo para a mesma cafeteria do dia anterior.
Será que a Richards aparecerá?
Creio que não, pelo que o senhor me disse ontem. Mas estou atento.

Como esperado, ela não aparece, na verdade, ninguém aparece, a rua está deserta.

Depois da farta refeição, que custou um valor incrivelmente baixo, volto para o quartinho e arrumo minhas coisas.

Pedi a Carlson um mapa, disse-lhe para onde estou indo e ele me deu várias dicas e observações sobre o percurso.
Comprei mais alguns suprimentos e antes de sair, me obriguei a fazer jus à educação que meus pais me deram e agradeci ao dono do lugar por tudo:

-Obrigado! - digo, somente, sem explicitar todos os motivos pelos quais estou dizendo essa palavra, pela segunda vez em 24h, sendo que não a usava há anos.

-Estamos sempre à disposição, grandão! Volte sempre. Quando quiser desligar da loucura da vida moderna, venha passar umas férias conosco - diz, sorrindo e acenando com a mão.

Aceno com a cabeça em concordância, enquanto respondo mentalmente: Deus me livre!

E saí quase correndo daquele buraco negro.

Claro que vou voltar, porém bem preparado e só porque tenho pendências aqui. Na verdade, eu nem precisaria vir.
Quem sabe eu descubra a conta dessa Amy e só transfiro o valor que lhe devo.

Não há a menor necessidade de vê-la ou falar com ela pessoalmente. Então, é isso que farei e assim não terei que voltar aqui.

***

Após quase 7h na estrada, finalmente cheguei a Knainsfield.

Só não vim direto de jatinho porque todas pistas indicavam que encontraria o criminoso no percurso. Agora me arrependo, mas já era. O importante é que já estou aqui.

Fiz algumas paradas conforme orientado pelo senhor da conveniência, me alimentei, fui ao banheiro, apesar da distância e do cansaço, cheguei são e salvo.

É uma cidade pequena mas bem estruturada, tem inclusive, aeroporto e um hotel de 3 estrelas, mais do que suficiente e principalmente, tem boa internet, acesso a rede celular e satélite, banco e caixa eletrônico.

Deu até vontade de agradecer aos céus.

Comprei e mandei entregar no hotel um bom notebook; o meu tem informações confidenciais demais para arriscar andar com ele.

O gerente ficou espantado, pois eu deveria ter chegado há 3 ou 4 dias; mas como a estadia está paga e há vagas, não tive problema. Óbvio que também ficou impressionado comigo de máscara e luvas, mesmo não estando tão frio.

Prefiro esconder minhas marcas assim, ao invés de apenas usar capuz, já que essa cidade é mais movimentada, diferente do vilarejo onde estive.

Almocei no hotel mesmo, configurei o note e deitei para descansar um pouco. Pus o celular para despertar 1 hora depois e em seguida comecei minhas buscas.

Tento manter o foco, mas a primeira coisa que digito é o nome da bendita mulher!

Por favor, Srta Richards, saia da minha cabeça e me deixe trabalhar!

Tenho uma praga pra exterminar!

Bufo comigo mesmo, apago a droga da pesquisa e volto à minha caça.

***

Knainsfield, 9 dias depois...

Depois de dias e dias de busca exaustiva, finalmente encontrei informação segura de onde encontrarei, com certeza, aquele imprestável.

Não posso mentir que foi fácil me concentrar, pois uma certa mulher não saiu um único dia sequer, das minhas duas cabeças

A bendita fragrância, que agora descobri ser lavanda, parece que me persegue, o que tornou ainda mais difícil não pensar nela. O cheiro não é o mesmo exatamente, mas trazia a lembrança.

Até fiz uma pesquisa básica por ela, para tentar descobrir sua conta bancária e lhe devolver logo os 200 dólares. Porém, estranhamente, não encontrei quaisquer informações consistentes.

Dos últimos anos, não há quase nada. Redes sociais, telefone, contas. E de anos anteriores, pelo que vejo, o histórico é forjado. Um leigo não perceberia, mas conheço muito bem essa estratégia.

Estou bastante intrigado, mas para fazer uma investigação mais aprofundada, em bancos de dados mais completos, porém restritos, preciso estar em casa, onde tenho todo acesso e segurança necessários.

Considerando que preciso mesmo esperar, depois que terminar tudo aqui, vou me dedicar a descobrir quem é essa mulher e o porquê do desse histórico falso.

Não pensei que passaria tanto tempo aqui. Até fui para outras cidades, mas de jatinho, porém nenhuma das vezes obtive êxito.

Também surgiram outros trabalhos de segurança cibernética e foi tranquilo fazer daqui mesmo. Quase todos os dias ligo para Thomas ou Todd, meu segundo homem de confiança.
Está tudo bem em casa, então não tenho com que me preocupar.

Já são 23h, me preparo para dormir, pois amanhã é quase certo que minha caçada será concluída.

Meus olhos pesam, estou quase dormindo, meu último pensamento antes de ser dominado pelo sono... Irá ocupar meus sonhos mais uma noite, Srta Richards?

MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora