Capítulo 12

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AMY

Quando ele disse "minha mulher", todo meu autocontrole foi pelo ralo. Em milésimos de segundos, lembrei-me do inferno que vivi com o maldito Dawson e da tentativa de abuso do meu padrasto.

Meus olhos começaram a arder e sabia que logo não conteria as lágrimas. 
Enquanto eu estava quase colapsando de desespero, ele continuou sentado, recostado e com os braços descansados na poltrona.

- Amy, acalme-se. Sente-se. -a tranquilidade dele me apavora. É um psicopata!- Vai ficar tudo bem.

- Como posso casar com você, nem nos conhecemos. -tentei outra abordagem, mesmo ainda nervosa.

- Amy, por favor, sente. Não teremos que casar.

- Não?

- Não. Não vejo necessidade. Não entendo para quê ritos e documentos. Tudo que for preciso resolver da parte "legal", posso fazer sem isso. Apenas seremos um casal. Claro que não um casal normal, pois é nítido que não sou um homem "normal" -ele aponta o rosto e os braços, mostrando as marcas- mas cuidaremos um do outro e isso basta.

Ele inspira e continua:

- Não sou um bom homem, sou um verdadeiro monstro, mas cuidarei de você e a protegerei e você cuidará de mim. -sentei, mas continuava trêmula e com medo, pensando nos "detalhes" do que seria esse "cuidado", quando ele parece ter lido minha mente e prossegue- sim, nós faremos sexo, mas não há com que se preocupar. Vou tocá-la o mínimo possível, o ato será só o básico e serei sempre rápido.

Estou estarrecida, não posso acreditar que ouvi tamanhos absurdos.
Estou escandalizada!

É possível eu estar sob efeito de alguma coisa? Desmaiei e continuo desacordada?
Não pode ser real.

E se for?
C A R A L H O!

Deve ser o primeiro palavrão que falo em anos. Mas é tudo que consigo pensar.

Ele continua com semblante sereno, como se não tivesse falado uma tremenda loucura.

- Tudo bem, Amy? Você entendeu?

- ...

Não sei o que estou sentindo.
Um desespero tão grande que de verdade, não sei se rio ou choro.

Ele é completamente desequilibrado.

E pensar que estou nessa porque me solidarizei com ele e o ajudei.

Pelos céus!

- Amy? -quando dou por mim, ele está em pé, na minha frente, me entregando um copo com água. Pego e bebo quase todo de uma vez e só quando termino, penso que poderia ter algo nesse líquido. Já era...

Ele leva o copo até a cozinha, volta e senta no sofá, no lado oposto a mim.

- Claro que é muito repentino e estranho, mas vai ficar tudo bem, ok? Acho melhor você ir dormir e amanhã poderá conhecer tudo, tenho certeza que vai ser bem melhor. Vamos? -ele levanta e acena em direção à escada.

O sigo lentamente, como se estivesse "fora do ar". Há uma infinidade de ideias e pensamentos desconexos em minha mente nesse momento, não consigo formular um só raciocínio. Acho que meus neurônios entraram em curto.

Chegamos no topo da escada e paro desorientada.

- Dormiremos em quartos separados. Se não lembra, o seu é ali -aponta para a última porta à esquerda, o cômodo onde acordei mais cedo- e mais uma vez, não se preocupe, aqui está protegida.

- Protegida de quê ou de quem? -pergunto, ironicamente.

- Você sabe de quem, mas não precisamos falar sobre isso. Por hoje, apenas esqueça e fique tranquila.

Não pude esconder o espanto com o qual recebi sua resposta. Quis me referir ao próprio Jason, mas ele claramente, estava se referindo ao meu passado.

- Boa noite -diz, já abrindo a porta que fica bem de frente pra escada, entra e a fecha atrás de si.



JASON


Entro no quarto, fecho a porta e me encosto nela. Ponho as mãos na cabeça em franco cansaço. Tive que deixá-la rápido, estava difícil me controlar.

Não sei distinguir e lidar nem mesmo com meus sentimentos, que dirá os de outros, mas acredito que a assustei com todas as minhas peculiaridades. 

Mas não poderei ceder.

Você é minha, Amy e vou cuidar de você. Estou cuidando.

Essa ereção está me matando e me esforcei muito para não deixar que percebesse, e aparentar frieza e tranquilidade.

Sei que após adulto nunca toquei ninguém, exceto por tê-la carregado mais cedo; e nunca fui tocado por ninguém, não conheço a sensação, mas a vontade que tive de fazer isso agora estava me enlouquecendo. Aliás, está me enlouquecendo.

Seu cheiro me deixa inebriado, sua pele parece macia e quente.

Ah, como eu gostaria de poder! -involuntariamente, emito um grunhido de frustração.

Mas não farei isso! Por mais que ela tenha mostrado não sentir nada negativo ao ver minhas marcas, não arriscarei.

Não a submeterei a experimentar o contato com minha deformidade, grosseira e nojenta, em sua pele perfeita e delicada. 

Se ela não sente repulsa ao me ver, não resta dúvida que sentiria ao meu toque, e eu compreenderia perfeitamente, mas seria traumatizante para ela e isso acabaria comigo.

Ela não é como as mulheres com quem já estive, mas essa é a única forma de nos relacionarmos intimamente sem que ela se enoje de mim.

Amanhã à noite irei até ela.
Teremos nossa "primeira vez" e vou lhe mostrar que não tem o que temer.
Nunca a tratarei como seu "ex" a tratou.

Se não fosse sério, seria engraçado seu questionamento, sobre de quem precisa ser protegida. Mas não quis falar de seu passado, perturbá-la sem necessidade, lembrá-la de um tempo tão ruim e do qual vem tentando se esquecer.
Jamais usaria essas informações para convencê-la que está guardada comigo.

Ela não imagina o quão perto ele estava.

Queria caçá-lo e acabar com esse demônio, mas isso demandaria tempo e não a deixarei só, principalmente nestes primeiros dias, e muito menos a levaria comigo. 

Já disse, não ligo se ajo como um doido varrido e se estou sendo possessivo.
Não consigo evitar, uma força maior do que posso controlar, me impele a isso.

Se exagerei com a pulseira? Sim, é claro, mas não me arrependo.

Espero que ela não tente, mas se resolver "testar", será desagradável, mas não lhe causará nenhum dano, apenas evitará que se ponha em risco desnecessário.

Visto um pijama, deito e fecho os olhos mas meus pensamentos não param.

Pudera eu entender o que está acontecendo comigo, o que é tudo que venho sentindo e o porquê de tudo isso.
Só sei que é tudo novo e não compreendo, me sinto muito confuso e perdido. Estou tentando lidar da melhor maneira que consigo.

Se meus pais estivessem aqui, talvez eu conseguisse conversar com eles.
Ainda tenho Thomas, mas está tarde demais para esse tipo de aproximação.
Nem sei como o abordaria, nem sei o que diria. 

Vou tentar dormir, amanhã é um novo dia!

MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora