Capítulo 15

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AMY

Além de tudo isso, há pomar, horta, um belo jardim e estufa.
Não posso mentir que não estou encantada por tudo aqui.

No percurso passamos por diversos trabalhadores, devidamente uniformizados, que nos cumprimentavam polidamente. 

Aproximamo-nos de uma casa muito bonita, menor que a principal, mas diferente das demais.

Um casal elegante nos aguardava na entrada.

- Esses são Thomas e Jane Graham. -Jason nos apresenta -essa é a Amy.

O casal deve ter pouco mais de 60 anos e aparentam boa saúde e vitalidade. Enquanto ele dá um  sorriso de lábios fechado e faz uma leve mesura, ela me abraça suavemente.

- Bem-vinda, Amy, é muito bom tê-la conosco. -diz, afastando-se- Jason não é muito de falar, mas acredito que você já saiba quem somos. Estou à disposição para tudo que precisar. Pode me mandar mensagem ou vir aqui, sempre que quiser. -ela tem um sorriso no rosto e parece genuinamente feliz com minha presença.

Essas pessoas realmente acham que estou aqui voluntariamente? 

- Obrigada, Sra Graham. 

- Oh, me chame apenas de Jane, querida, por favor. 

- Claro, Jane, obrigada. -respondo sorrindo, pois não tive como me manter impassível diante de tamanha afabilidade. 

- Jay é como um filho para nós -o Sr. Graham, que até então permanecera calado, se faz ouvir- e nós a trataremos igualmente.

Meu coração aquece com aquelas palavras. Foi impossível não lembrar do meu falecido pai, que com quem nunca convivi, mas que creio teria sido maravilhoso; e do maldito que acabou com minha mãe, destruiu minha infância e me causou tantos males. 

Um turbilhão de sentimentos tomou conta de mim e precisei me controlar muito para apenas sorrir de volta e agradecer rapidamente, e então me voltar para Jason:

- Vamos continuar ou retornar? Depois venho passar um tempo com Jane e conversaremos melhor. -chamo, tentando disfarçar a comoção que sinto. 

- Sim, claro. Vocês terão muito tempo. 

Nos despedimos com um aceno e nos afastamos. 

Esse acolhimento caloroso, por um instante até me fez esquecer que estou procurando reconhecer tudo aqui, com o objetivo de descobrir um meio de ir embora. 
Será que alguma dessas pessoas me ajudaria, caso soubesse que fui trazida sem minha concordância? 

Ele me leva para conhecer a central de segurança externa. Parece uma casa de apoio e dentro é semelhante à sala que vi na casa, porém com mais aparelhagens e mais funcionários. O que parece o líder nos cumprimenta: 

- Bom dia, Senhor, senhora Cooper! 

Olho para Jason com cara de interrogação.

- Os principais funcionários já estão cientes de você. Todos foram instruídos a tratá-la como senhora Cooper e atendê-la em tudo , inclusive acatar suas ordens, desde que não conflitem com as minhas. Este é Roger, o chefe do setor e segunda pessoa de Todd.

Outra vez eu fico sem palavras. Pelo amor de Deus, qual a intenção dele? 

Pior que quanto mais vejo o aparato de segurança, sistemas e tudo mais, mais certa fico que não tenho como fugir daqui. Vou precisar pensar em algo muito bem elaborado. 

Voltamos para a casa e estou pensativa, calada. 

Já são mais de 13h e nem me dei conta. 
Logo que entramos, ele retira a máscara e o boné.
É como se, comigo, ele não tivesse problema em expor suas cicatrizes.

O almoço já está pronto. Segundo ele, Peggy deixa as assistentes no alojamento, vem, faz a comida e volta para lá. 

Decidimos tomar banho antes de comer, e quando desço para a cozinha, Orange ressurge, acompanhado de um retriever de pelagem ruiva. Só pode ser Fox. 

Almoçamos e me disponho a por a louça na máquina e arrumar a cozinha, enquanto Jason me dá algumas orientações sobre onde fica cada coisa e sobre a utilização dos eletros, afinal, tudo aqui é conectado e em Inuitville tudo era tão antiquado, que eu só faltava cozinhar à lenha. 

- Quer ver o lago? -ele convida.

Aceito e saímos pelos fundos, seguindo até a borda do píer. 

- Aqui é tudo muito lindo -elogio e ele assente. Permanecemos olhado a paisagem, calados, cada um absorto em seus próprios pensamentos. 

Dobro as pernas da calça, tiro a sandália e sento, molhando os pés na água. Olho para ele que continua em pé: 

- Você não vem? 

- Acho melhor não. -Ele se abaixa e senta de pernas cruzadas. Percebo que não quer expor mais nenhuma parte do corpo. -se quiser, tem bastante trabalho aqui, da sua área. Você pode escolher à vontade, se tiver interesse, claro. 

- Sim, mas acredito que você já tenha funcionários para isso. 

- Na verdade, não temos um funcionário. É apenas um contratado que vem periodicamente ou quando acontece alguma emergência. Eu gostaria que fosse você a cuidar dos nossos animais. -ele parece pensar um pouco e continua- Desculpe, sou péssimo em me expressar. Não quero pressioná-la. É só que, pelo que sei, você sempre trabalhou. Só pense nessa possibilidade.

- Tudo bem, você tem razão, sempre trabalhei. Vou pensar sim. -respondo no automático. Minha cabeça está fervilhando. Parece que ele está sempre pensando em algo que faça eu me prender a este lugar. 

Ficamos mais um tempo em silêncio e então ele me chama, diz que ainda temos coisas a ver. 

Andamos até quase o final da tarde e ao voltar para a casa, ele me chamou ao escritório e me entregou o "tablet" que eu havia visto sobre a "minha" mesa. E que na verdade, é uma espécie de telefone de tela gigante. 

Ele me ensina como usá-lo e configura comigo. Percebo que tanto no aparelho quanto nos demais objetos, meu nome está como Amy Cooper

- Amy Cooper? -questiono, sem saber se reagirá mal. Qualquer coisa, corro para a casa de Jane. 

- Mesmo que não casemos, nada a impede de usar Cooper. É até mais seguro, não acha? 

Acaba que entendo isso muito bem. Não foi à toa que mudei de nome algumas vezes. 

Infelizmente, além da questão do sobrenome, pelo que entendi, tudo que se faz online aqui, é rastreado, e se eu pesquisar na internet uma forma de fuga ou contatar algum órgão, autoridade ou polícia, é provável que seja bloqueado ou o sistema o notifique. 
E se ele realmente presta serviço para o FBI, não serviria de nada fazer algo do tipo. 
Só irritá-lo. E isso é tudo que não quero.

Pra minha completa frustração, me dou conta, que não tenho amigos ou parentes  a quem recorrer, não tenho para quem ligar ou escrever para contar o que está acontecendo e pedir ajuda. 
O que também não resultaria em nada. Como alguém conseguiria entrar neste forte?

Resumo da ópera: estou presa aqui.
Presa a Jason Cooper. 

P.u.t.a. m.e.r.da.  















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