Monstro

Capítulo 27

AMY


3 semanas depois... 

Céus, as últimas semanas foram extremamente cansativas. 
Um cavalo ficou doente e me deu trabalho. 
Jane e Peggy adoeceram, então assumi quase todo o serviço da primeira e dei uma mãozinha às ajudantes da outra. 

Era só gripe, mas Jane ficou de cama. Eu também adoeci, mas já me recuperei.

Jason fez uma viagem de 4 dias que envolvia seu trabalho com o FBI; mal voltou, já precisou sair em uma outra, para resolver assuntos urgentes da própria empresa, à qual não pude ir, por causa da doença das meninas. Thomas foi com ele, deixando a esposa aos meus cuidados. 

Antes ele contratou uma segurança feminina para mim, como oferecera. Emma Hamilton é uma mulher afrodescendente de 29 anos, muito alta, linda e extremamente capaz, que foi quem acabou me dando muita ajuda nesse período.

Foi o que o permiti fazer antes de ir, pois garanti que daria conta de tudo.

Há 7 dias ele está ausente.
Estou aguardando seu retorno hoje.

Fiz pudim e estou terminando nosso jantar.

Não faço ideia de que horas ele chegará, mas espero que jantemos juntos.

O mais difícil nesses dias não foi o excesso de trabalho nem a gripe, e sim a ausência dele. 
Seria saudade? 
Não sei. 

A única pessoa de quem tenho certeza que senti isso, foi da minha mãe. Mas são duas pessoas, duas situações totalmente distintas. Mamãe sei que eu amava. 

Quanto a ele... não sei.

Mas sinto demais sua falta. De tudo que fazemos juntos: as refeições, a academia, as caminhadas; nossas conversas, embora não fossem muitas. Até do sexo inusitado que foi raro nesses tempos.
Senti falta da companhia, do cheiro, da voz, da sua presença que me faz sentir confiante de que tudo está bem. 

Me sinto tão tola... !

Pensei que os dias distantes, esfriariam a atração que estava sentindo, mas parece que só se multiplicou!
Mais do que antes, quero abraçá-lo, beijá-lo, quero me toque. 
Nem sei quantas noites tenho sonhado que ficamos juntos. As cenas dos filmes que vejo e dos livros que leio, as reproduzo em meus pensamentos, tendo nós dois como personagens principais. Inclusive, ideias tem me excitado muito, coisa que nunca senti antes. 

Mas e ele? 

Excitado sei que fica, porque... né...  é evidente.
Mas será que, apesar das suas dificuldades, ele tem vontade de beijar, abraçar também? 
Será que tem um jeito de saber? Não tenho cara nem coragem para perguntar. 
Não sei falar desses assuntos com ninguém. Nunquinha conversaria sobre isso com Jane. 
Nessa hora eu queria ter a Justine perto. 

Puta merda.

Será que ele vem mudado?
Será que ficou com alguma mulher por lá? 
Será que... 
Meus pensamentos são interrompidos pelo aviso do sistema, indicando que ele chegou!

Estou nervosa.
Meu coração está pra saltar pela boca.
Os minutos se arrastam. 
Será que vou até a porta recebê-lo?
E se ele estiver estranho? 

Oh droga!
Sinto um frio na espinha...
Sigo para a porta e seja o que Deus quiser!
No instante em que abro, a primeira visão que tenho é dele se aproximando. 
Suas pernas longas dão passadas rápidas.

Céus, acho que estou meio trêmula, e agora, o que faço? O que digo?
Socorro, me deu um "branco".
Orange se enlaça em minhas pernas e aproveito e o pego no colo. 
Fox vem junto e senta ao meu lado.

Finalmente, Jason está subindo os lances da escada e em 2 segundos, estamos frente a frente.
Fox vai até ele e o cheira. Parece alegre em vê-lo.

- Boa noite! 

JASON

"A fumaça densa obstrui minha visão. 
Tusso desesperado. Meus pulmões queimam... Deus, que dor horrível!!!
Olho para baixo e... estou em chamas!

- PAI!!! MÃE!!! 

Grito correndo pelos corredores, abrindo portas, desesperado... não há ninguém.
O fogo no meu corpo não se apaga, minha carne fede a queimado, meus olhos ardem, abro mais uma porta... 

-PAAAAAAAAAAAAAAAAAIII !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!!!!!! NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!! 

Urro feito louco, as mãos na cabeça, o fogo me destruindo... 

Eles estão no chão. 
Mortos.
Carbonizados. 

Olho no grande espelho de seu quarto e caio de joelhos. 

A carne derretendo do meu corpo em meio às chamas. 
Olhos saltados, dentes expostos.
Um monstro diante de mim. 

De repente, um vulto às minhas costas. 

- AMYYYYYYYYYYY!!!!!!!!!!!!!  POR FAVOR!!!!! 

- Adeus! -ela diz e me dá as costas, indo embora em meio à fumaça e fogo.

- AMMMYYYYYYYYYYYYY !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! NÃO ME DEIXE, POR FAVOR, NÃO VÁ. 

Choro, mas as lágrimas não descem. Não tenho olhos. 
Não tenho mais rosto. Não tenho mais nada. Não tenho ninguém. 

Ela era tudo que eu tinha.
Ela se foi.
Ela me deixou.
Sozinho...
Queimando...
Morrendo... "

Acordo de um sobressalto, suado, em pânico.
Mais uma noite, solitário num quarto de hotel.
Mais uma noite, o mesmo pesadelo.
Ela me abandonando.

Eu mal tenho dormido e o pouco que durmo, esse terrível sonho me assola todas as vezes. 
Estou em frangalhos.
7 dias longe dela. 
Parece uma eternidade.
Cada noite, cada pesadelo me mata um pouco mais. 

Será um presságio?
Será que estará lá quando eu voltar? 
Os seguranças me dão notícias que ela não saiu nenhuma vez.
Trocamos algumas mensagens, poucas vezes, apenas trivialidades.
Será que ela mudou?
Será que pretende ir embora?
Será que se apaixonou por alguém? 

Estou com medo do que vou encontrar ao chegar em casa. 
Sinto tanta falta dela. 
Eu entendo que é saudade. Até hoje, só associava essa palavra à falta que sinto dos meus pais, mas agora, sei que é isso que sinto distante dela. 
Meu coração dói pela sua ausência.

A vontade que tenho de provar seus lábios e sentir o calor do seu corpo no meu é maior do que jamais foi. 
Quisera eu ter coragem de chegar correndo e me atirar em seus braços. 
Mas se eu não tinha antes, agora é que não tenho mesmo. 

***

Finalmente, estou quase chegando. 
O carro segue por mais algumas centenas de metros, até parar próximo à casa. 
Será que vou infartar? 
Sou relativamente jovem, mas a força e a rapidez com que meu coração bate, me amedrontam. 

Onde ela estará? 
Ela ocupa completamente meus pensamentos, não me deixando raciocinar. 
Só quero vê-la.
Só quero tê-la. 
Só quero você, Amy.
Por favor, não me deixe. 

Cada passo que dou é um aperto que sinto no peito.
Estou tremendo, mas tento disfarçar apertando a mala com força.
Olho angustiado para a porta fechada.
Dou mais 2 ou 3 passos e ela se abre!
Então a vejo:

Amy... 

Meu coração salta, entre empolgado e angustiado. 
Orange aparece e ela o pega nos braços.
Fox senta a seu lado, me aguardando. 
Caminho rápido em direção aos três,

Logo estou diante dela. Seu semblante parece sereno.
Nosso cachorro se levanta e me cheira, animado.
O doce som de sua voz soa como bálsamo em meu ouvidos:

- Boa noite.