JASON
Infelizmente também tenho muitas outras preocupações.
Nesse período, só tive 2 serviços com o FBI, mas não precisei viajar nem tive que exterminar nenhuma praga.
Nem todo bandido é tão difícil de encontrar, e só faço justiça por minha conta, quando eles conseguem se safar.O único que tenho planos de matar da maneira mais cruel, é o desgraçado Craig Dawson, ex da Amy. Eu o venho monitorando desde Inuitville. Naquela ocasião, por pouco ele não a encontrou. Por isso eu fui rápido e fiz o que achei certo, por mais louco que tenha sido.
Depois que o tirei do rastro dela, ele passou um período quieto e está fora do país há algum tempo, o que dificulta um pouco pegá-lo.
Mas ele está no meu radar.Também tenho tido bastante trabalho na administração da empresa, é o que realmente tem sido minha maior ocupação.
Porém não como antes. Desde que Amy e eu voltamos ao serviço, estabelecemos uma rotina em que cada um tem suas atividades, mas temos também nossos momentos.Não falo só do sexo. Muitas vezes nem acontece, pois já houve dias em que um de nós estava demasiadamente cansado, ou dias em que ela está menstruada.
Mas temos momentos de conversar (apesar de pouco eu falar e quase sempre falamos amenidades ou sobre o trabalho), momentos de leitura, de assistir algum programa, ou apenas sentarmos à beira do lago, comer juntos ou sair para caminhar.Gosto de estar perto dela e de tudo que fazemos, ainda que seja pouco ou não pareça importante.
Neste exato momento, a estou observando terminar a montagem de uma torta, que é nosso jantar.
Já pus a mesa e fiz suco, e aguardo enquanto a admiro fazer tudo com perfeição.Após jantar, estamos sentados na varanda, passando tempo enquanto dá a hora de deitar.
Fox e Orange estão deitados a nossos pés.De repente, lembro de algo que deveria ter perguntado há dias.
- Amy. Está na época de marcar ginecologista?
- Ainda não. Por quê?
- Estava lembrando de perguntar. Quando for o período, posso providenciar buscar sua médica, se você preferir.
No caso dela, há médicos específicos, vinculados ao programa de acompanhamento de vítimas de abuso.
- Tá certo. Eu te aviso. Mas não precisa ser a mesma.
- Ok.
AMY
Nem acredito que já estou aqui há 2 meses.
Passou rápido depois que comecei o trabalho, que por sinal está sendo muito bom. Confesso que estou adorando.
Faz tempo não lembro de viver tão bem e em paz.
Apesar de estar mais restrita à propriedade, aqui é tão grande que não me sinto presa. Ando livremente e a qualquer horário. Conheço e falo com todos os funcionários sem medo.
Jane e eu nos ajudamos em várias atividades, já que o cuidado com os animais não toma tanto meu tempo.Já saímos algumas vezes para a cidade, que é beeem longe. Minha "pulseira de monitoramento" foi ajustada para isso. Jason nos acompanhou uma vez e as outras duas, fomos só Jane, eu e os seguranças. Fizemos compras, fomos ao cabeleireiro e almoçamos fora.
Os Graham me tratam como uma filha e isso aquece meu coração.
Criamos o hábito de fazer uma refeição com eles pelo menos uma vez por semana. Algumas vezes Todd e Charles nos acompanharam e cada vez vejo Jason ficar menos desconcertado de estar com outras pessoas.Ainda não consegui tirar nenhuma informação de Jane sobre o passado dele, a não ser que nunca teve um relacionamento sério. Eles nunca souberam que ele namorou alguém. Ela não tem certeza, mas parece que sempre que ficou com alguém, foi coisa de uma noite só.
Isso, pra mim, explica muito sobre o comportamento dele.
Quanto a isso, até hoje ele não mudou sua atitude comigo. Tem sido gentil e cuidado de mim como prometeu, e não foi grosseiro ou me tratou mal em nenhum momento. O sexo continua igual -daquele jeito esquisito, mas que não me fere nem ofende em nada.
Se ele tem um problema com contato físico, aversão ou dor, não sei, não dá para culpá-lo.
Talvez seja possível tratar, mas ele é difícil de se abrir e tenho receio de falar a respeito.O pior é que antes eu nunca me importei com isso, nem queria, mas agora eu passei a sentir necessidade de algo mais, dele. Com ele.
Às vezes, na relação, ele desliza as mãos pelas minhas coxas e, mesmo de luva, tenho gostado tanto, senti uma sensação tão boa, que acabou me despertando vontades que nunca tive antes.
Quero sentir suas mãos por todo meu corpo, abraçando, apalpando, acariciando.
Estou louca pra beijá-lo.
Não sei muito bem dessas coisas, mas posso aprender.Não vou dizer que não quis pesquisar na internet, mas não fiz, pois tenho receio que, devido ao monitoramento da rede, ele descubra, mas achei uns e-books de romances, com várias "cenas" eróticas, e aí minha imaginação tem voado à vontade.
Penso em como seria se pudéssemos nos tocar livremente. Já tive ímpetos de, na hora do sexo, pegar suas mãos de surpresa e levar até meus seios, já pensei em pedir, em conversar, mas me falta coragem. Tenho medo de como ele possa reagir, e não quero arriscar a paz em que estamos.O bom é que ainda é cedo. Ainda há tempo. Tempo para criar coragem, tempo para demonstrar o que quero. Não tem pressa. Vou pensar em algo.
2 semanas depois
Já está quase amanhecendo e mal dormi.
Hoje não é um dia legal pra mim.
É "aniversário" de uma de minhas tragédias pessoais.
Há 7 anos engravidei, fruto dos estupros daquele monstro.
Eu não queria um filho daquele ser maligno.
Mas eu não queria ter abortado às custas de toda a violência que sofri.
Não queria ter ficado entre a vida e morte.Apesar de tudo, foi isso que me salvou.
Mas é impossível esquecer. Impossível não doer.
Por mais que Jason me trate de uma forma totalmente diferente.
Por mais que eu esteja segura e me sinta bem.
Não apaga o passado.
O que aconteceu, aconteceu, e deixa marcas.
Eu tento evitar ficar pensando, mas às vezes não tem jeito.
As lembranças vem como avalanche e aí vem todas de uma vez.A perda da minha mãe.
Aquele outro demônio que era marido dela.
As surras. As humilhações. O quase abuso.
Os dias nas ruas. A fome. O frio. A solidão.Mando uma mensagem para Jason, através da minha pulseira, dizendo-lhe que estou com cólica e não vou descer.
Por mim não sairia da cama.
Nas poucas sessões de terapia que fiz, aprendi que nem sempre preciso ser forte.
Nem todo dia eu tenho que estar bem.
Eu não vou me acabar de tristeza e depressão. Não vou perder tudo que tenho.
Mas hoje eu só quero ficar quieta, só quero chorar, pelas tantas vezes em que eu não pude demonstrar fraqueza, em que tive que conter as lágrimas.Só hoje.
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Monstro
RomanceUm incêndio o deformou por fora e destruiu por dentro. Ele se vê como um monstro. A dor da perda e o medo da rejeição, o motivaram a tornar-se um hacker habilidoso e também um assassino, cujas vítimas são os algozes de inocentes. Ela não é mais um...