Capítulo 22

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AMY

Ele faz questão de levar o bolo:

- Já que não fiz nada, pelo menos eu carrego. 

No meio do caminho, lembro de algo importante:

- Ih, será que eles estão em casa? 

- Acredito que sim, mas você pode perguntar -ele diz e aponta com o queixo, na direção da minha mão. Olho e lembro da existência tal algema... digo, pulseira! Pulseira inteligente. -está conectada ao celular e ao sistema da casa. 

- Ainda não sei usar. Pensei que era só pra me monitorar -arrisco dizer.

- É para segurança, isso inclui monitoramento. Mas também comunicação. Vou ensiná-la quando voltarmos. 

Assinto e continuamos em silêncio.

Chegamos à porta e bato. Jason olha estranho.

- Há anos não vejo ninguém bater numa porta. 

Só então me dou conta da campainha. Mas nesse momento, Jane abre e nos recebe com um sorriso caloroso. 

- Vimos fazer uma visita e trazer um bolo. Espero que gostem.

Jason entrega o prato a ela:

- Foi Amy que fez, está muito bom!

- Que maravilha, obrigada, minha linda. Vamos entrar. 

Entramos e Jason se mostra um pouco desconfortável, parecendo não se sentir à vontade.

- E Thomas?

- Foi verificar uns estoques.

- Vou procurá-lo. Amy, você pode ficar com Jane e conversar coisas de mulher.

Ótimo! Era exatamente o que eu queria.

- Por mim, tudo bem.

Ele se vai e Jane me leva para a cozinha e me envolve em uma conversa sobre receitas.

Quando no meio do assunto, ela comenta que Jason come bem e de tudo, aproveito a deixa:

- Vocês o conhecem desde criança, não é mesmo? Ele sempre foi tão fechado e sério?

- Ele sempre foi tímido e introvertido. Mas sempre foi um bom garoto. Ainda é.
Nós não tivemos filhos e o amamos como se fosse nosso. -ela diz e parece consternada. Seu olhar é tomado de emoção.- você é uma pessoa muito especial, Amy, só assim pra mexer com ele. Não esperava ver esse menino casar. Mesmo não oficialmente -ela ri de canto.

- Ele contou como nos conhecemos?

- Não. Só que foi durante uma viagem a trabalho, e que você morava num vilarejo que nem existe no mapa. Sinto muito pelo que você passou. Mas esteja certa que nosso Jay jamais tocaria num fio de cabelo seu. E como ele mesmo disse, aqui é o lugar mais seguro do mundo.

- Desculpa, Jane. Mas o que ele falou do meu passado? -pergunto curiosa.

- Quase nada. Mas disse que você morava naquele lugar distante para evitar um "ex" abusivo. Ele não é de falar muito, nem de si mesmo, muito menos de uma história que não lhe pertence. Só explicou o necessário para que soubéssemos como nos portar com você.
Sabe, não dizermos ou fazermos algo que seja um gatilho, que a entristeça.

- Sim, entendo. Realmente Jason não é de conversar. -faço uma pausa mínima e continuo- e os pais dele?

- Morreram quando ele tinha 11 anos. E fomos designados tutores dele, pois já trabalhávamos para a família, éramos muito amigos. 

- Meu Deus, ele era só uma criança! -expresso com tristeza, lembrando que eu também perdi meus pais na infância. 

- É verdade, minha querida. Mas fizemos tudo ao nosso alcance para criá-lo com amor.  

- Que bom que ele tinha -e tem- vocês. 

- E você, minha menina? Tem família? -percebi a tentativa de mudar de assunto.

- Ah, não. Também perdi meus pais quando era criança. É uma longa história. Algum dia eu conto. -um dia, pode ser... 

Ela concorda e acho que percebe que o tema é meio sombrio, então prova um pedaço do bolo e elogia, daí continuamos o assunto sobre comida.
Estamos na sala tomando um chá, quando os homens retornam.
Para meu espanto, já escureceu. 
Não percebi o tempo passar. 

O Sr Graham me cumprimenta com um sorriso e um aceno de mão:

- Olá, jovem senhora Cooper. Como vai? -Jason está com as mãos nos bolsos, em pé, ao lado da cadeira onde estou e só observa.

- Ah, Sr Graham, só Amy, por favor. 

- Então, nos chame apenas Thomas e Jane. 

- Prometo tentar. Thomas

- Claro, menina Amy.

Ele sorri e Jason pergunta se já quero ir embora. 

- Sim, vamos. -não quero abusar, vamos ter tempo para conversar e nos conhecer mais aos poucos.

- Tudo bem, mas quero convidá-los para jantar ainda essa semana. Antes que Jason volte ao trabalho. -Thomas convida.

Enquanto Jane, empolgada, já começa a combinar com o marido os pratos que pretende preparar, olho para Jason, querendo saber se ele concorda. Por incrível que pareça, ele entende meu olhar e aproxima-se um pouco mais:

- O que você decidir, eu aceito -sussurra e seu hálito quente me causa um arrepio tão bom, que quase me desconcentro.

- Claro que viremos. -respondo aos dois que continuavam falando dos pratos. Novamente olho para o homem ao meu lado -amanhã, pode ser? 

Ele assente e então acertamos voltar no dia seguinte, para o jantar. 

Saímos, depois de confirmar o compromisso e, no caminho de volta, percebo Jason pensativo, quase cabisbaixo.

- Você está bem? Se não quiser vir, podemos cancelar. 

- Tudo bem sim. É só que... não sou muito de socializar. Mas iremos sim. 

- Tem certeza? 

- Sim. 

*** 

Dia seguinte

Levanto cedo para ir à academia. Como combinado antes, Jason me encontra no corredor e vamos juntos. Ontem ele fez sexo comigo novamente, agindo igual às outras vezes. Pode parecer loucura, mas acho que já estou me acostumando. 
Acho que não só parece, devo ter enlouquecido de vez.

Após treinar, tomarmos banho e café, ele me ajuda com o almoço e arrumamos algumas coisas na casa. Depois disso começo a fazer a sobremesa que vamos levar. 

Não sei o que vão pensar, mas vou fazer pudim de leite, uma receita que adoro e que aprendi no orfanato. Espero que gostem.
Na verdade, vou fazer dois, levo um e deixo outro em casa para amanhã. 

Jason até se oferece para me ajudar, mas não acho que ele possa fazer nada por enquanto. 
Enquanto cozinho ele fica mexendo em seu tablet.

A hora passa rapidamente e já estamos nos preparando para ir à casa dos Graham. Ops... de Jane e Thomas! 
Embalo o pudim que vamos levar. Enquanto o outro já está na geladeira. 

*** 

Após cumprimentos afetuosos, sentamos para jantar. Jason ao meu lado e nós dois de frente para os anfitriões. 

Observo-o tirar a máscara e o sinto um pouco constrangido. Fica quase o tempo todo de cabeça baixa e pouco interage. Gostaria de aliviar um pouco esse incômodo, mas não sei o que dizer ou fazer. 
Conversamos, Jane, Thomas e eu, sobre o jantar, enquanto Jason comia em silêncio. Sem pensar, num impulso, levei minha mão, por baixo da mesa, até sua coxa tocando-a suavemente sob o tecido da calça.
Quase instantaneamente, ele virou a cabeça para meu lado, me encarando com olhos saltados.



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