Perdão no escuro

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"Mesmo sabendo que o fim não é o fim do mundo
A gente só imagina o nosso fim junto"

( Intérprete: Israel e Rodolffo )

*** 🛵 ***

Ele estava ali na minha frente , se declarando e ao mesmo tempo sinto um desespero em seu olhar, como se não tivesse mais esperança da gente ficar junto outra vez. Vários pensamentos passavam rapidamente pela minha cabeça e eu precisei respirar fundo para tentar entender tudo o que está acontecendo.

— Então, Ju. Ocê me perdoa?

— Rodolffo, eu... - seus olhos percorrem por todo o meu corpo, parando em minha boca; fazendo eu ficar com as bochechas coradas, além de sentir outras partes do meu corpo se aquecerem - Eu preciso entender primeiro o que está acontecendo aqui.

— Tudo bem. 

— Era tu o tempo todo?

Ele me olhou meio com medo e concordou com a cabeça, analisando a minha reação.

— A Luiza, o Ricardo, os analgésicos, os almoços,  cuscuz pela manhã, o drink de tangerina...foi tudo...tu?

— Sim.

Olhei ao redor, verificando melhor o lugar em que estávamos e voltei pra ele, olhando o seu avental. Eu posso não entender dessas coisas, mas, certamente ele não estava vestido com todo aquele aparato chic de um chef de cozinha.

— Esse avental...tu tá trabalhando aqui? Como chef?

— Trabalho como cozinheiro auxiliar.

Abri e fechei minha boca várias vezes. Como assim? Não que seja vergonhoso ser um cozinheiro auxiliar, mas, ele é um chef. O chef Matthaus.

— Eu sei que pode parecer estranho, mas, trabalhando na cozinha foi a única maneira de fazer o meu plano dar certo.

— Ah...então tu tinha um plano? 

— A-hã.

— Que era?

— Ficar o mais próximo possível, sem ocê perceber, já que não me queria por perto.

— Quem mais sabia disso?

— Só o Rael.

— E os seus compromissos com o programa?

— Cancelei. 

— Tu fez tudo isso para eu tomar coragem pra enfrentar essa viagem sozinha?

— Não.

— Oxente...

— Essa coragem, determinação e confiança que cê tá tendo, estiveram sempre aí com você. São suas. Eu não fiz nada. Só te alimentei, te arranjei companhias para ocê não morrer de tédio, cuidei de algumas coisas da rotina...o resto foi ocê sozinha, minha pimentinha.

— Isso tudo é loucura - falei colocando a mão na testa sem acreditar, ele era adorável...mas um doido - Pra que isso tudo, Rodolffo?

— Porque eu te amo, Ju - ele declarou de uma só vez - E sei que dizer isso, não muda em nada o fato de eu ter te perdido. E agora, aquele lobo almofadinha te rodeando...

Lobo almofadinha? Fiquei pensando por alguns segundos e só daí me lembrei do moço com cara de galã de comercial de perfume francês, que deixei lá no salão.

— Você meu viu dançando com o Eric?

— Sim, infelizmente - ele disse fechando os olhos e fazendo uma careta - Quis te puxar pra mim e dizer para aquele purgante que ocê é minha...

— Opa, eu não s... - tentei dizer mas ele me interrompeu.

— Eu sei, eu sei. Ocê não é minha e nem de ninguém...Mas eu só queria que fosse eu ali, dançando grudando com você naquele salão, sentindo seu perfume, a textura da sua pele, tocando sua cintura, sentir o calor do seu corpo...

— Falando desse jeito, eu vou achar que tu ficou é com ciúmes.

— Mas eu estava...e ainda estou.

— Ciúmes? Achei que iria dizer que era cuidado.

Ele deu um sorrisinho amarelo e passou a mão nos cabelos, bagunçando o topete.

— Eu nunca senti ciúmes de mulher nenhuma. Talvez um pouco da minha mãe ou da minha irmã Bella, mas, nada que fosse tão dolorido assim. Quando eu te vi, ali...dançando com aquele cara e ele quase te beijando...eu tive sensações que nunca senti antes. Admito. Morri de ciúmes de você, Ju.

Ele ficou com uma carinha meio envergonhada e não olhava pra mim.

— Mas eu sei que vacilei e te perdi. Não é justo eu querer que ocê fique aqui, nessa cidade que inspira amores e paixões, trancada naquele quarto porque o idiota que prometeu estar ao seu lado e te levar à lugares incríveis, pisou feio na bola com você.

Rendida. É isso que eu sou por esse homem. Enquanto ele falava, mostrando seus medos, ciúmes, arrependimento e ao mesmo tempo, confessando tudo o que fez para cuidar de mim, inclusive trabalhar em um lugar escuro e tão diferente com o que ele estava acostumado; eu só poderia fazer aquilo que estava clamando alto, fazendo o meu corpo ficar alerta: eu precisava ouvir o meu coração. 

E esse coração, sabia exatamente o que fazer.

— Rodolffo, eu... - seus olhos escuros fixaram a sua atenção em meu rosto, sua ansiedade era palpável - Apesar de às vezes eu querer te matar com essa sua tranquilidade irritante, eu vejo verdade em tu e acredito em tudo isso que me disse e o que fez por mim. Eu confio em tu, visse.

— Então, quer dizer que ocê me perdoa? - perguntou ainda receoso pela minha resposta.

Me aproximei dele e segurei seu rosto entre minhas mãos, fazendo ele me olhar.

— É claro que eu te perdoo, meu amor.

A arte do encontroOnde histórias criam vida. Descubra agora