Pupila

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"Como que eu vou dizer pra ela?
Que eu gosto do seu cheiro
Da cor do seu cabelo
Que ela faz minha pupila dilatar

Eu quero dizer pra ele
Que a rima fez efeito
Agora penso o dia inteiro
Só ele faz minha pupila dilatar"
 

                                                            ( Intérprete Anavitória e Vitor Kley)

*** 🍳 ***

— Eita, Rodolffo. São sete horas da manhã do domingo. Aconteceu alguma coisa ? - Rael veio abrir a porta da sua casa pra mim, meio sonolento.

— Aconteceu ! - respondi com urgência e entrando rápido dentro da sua sala.

— Rael...quem está aí? - Laís veio até nós preocupada, também com cara de sono - Oi, Rodolffo tá tudo bem?

— Tá sim, cumade. Eu só preciso ter um dedo de prosa com o seu marido - falei em um tom mais calmo de voz  - Ó, passei no restaurante, trouxe uns pães para o café da manhã e fiz uns waffles de limão siciliano. Eu sei que ocê gosta de comer essas coisas cítricas por causa da gravidez. 

— Nossa, obrigada ! O cheiro tá delicioso - ela falou abrindo o pacote - E ainda estão quentinhos ! Vou preparar o café prá nós. Dá licença.

Assenti com a cabeça e ela foi para a cozinha.

— Ocê passou no restaurante agora de manhã?

— Na verdade, passei a noite... eu não estava conseguindo dormir e fui pra lá testar umas receitas.

— Uai, mas ocê não ia sair com a sua deusa motoqueira?

— Sim. E saí, Rael. Fui com a Ju no forró do centro.

— Não tô entendendo nada ! Se ocê foi com ela no forró, por que dormiu no restaurante e madrugou na minha casa com essa cara de que aconteceu um desastre sem precedentes?

— Cumpade. Eu 2ô a9ai5o$a6o. 

— É o que, Rodolffo ? Fala a minha língua.

— EU TÔ APAIXONADO !

— Ah...mas isso eu já sabia. E como ocê "descobriu" isso ? - ele falou fazendo aspas na palavra descobriu.

— Ela mexe comigo por demais ! O jeito dela, o sorriso, os cabelos, a risada, a voz...

— Tá, já entendi que ocê tá arriado por ela. Mas, o por quê desse desespero todo?

— Não sei se quero me machucar de novo. 

— Ocê acha que não é correspondido?

- Não é isso...eu acho que ela também gostou de mim. Quando dei um selinho nela pareceu que ela também havia gostado.

— Ocê beijou ela?

— Não, cumpade. Foi um selinho.

— Ah, não importa ! Se realmente ocês tiverem se apaixonando um pelo outro , ocês passam de um selinho para um beijão rapidinho. Mas e depois do selinho?

— Depois ela me deu um pisão no pé e saiu brava.

— Brava que nem cupim?

— É...brava que nem pimenta rosa: esquentadinha, mas...doce e perfumada.

— É cumpadi, já era. Ocê tá caídinho por ela - Rael  disse dando um tapinha nos meus ombros.

— O que eu faço?

- Uai, vai lá e se declara pra sua garota, irmão.

*** 🛵 ***

— Eu vim assim que tu me ligou. Me conta esse babado, mulher !

— Ah, Lucy tô lascada.

— Por que?

— Acho que me apaixonei.

— Como é?

— Tô caídinha por um cabra aí, que eu mal conheço.

— Isso é..

— Rápido, né? Eu sei...

— Eu ía dizer incrível !

— Como incrível, mulher ? Nem bem meu coração se cicatrizou por causa do Rodrigo e me aparece aquele desacato de homi.

— Ele é tão bom assim?

— Mulher...ele é maravilhoso, visse. Ombros largos, barba perfeita, olhos castanhos penetrantes, uma voz que causa arrepios, um sorriso de derreter calcinhas e um jeito tão simples, verdadeiro e protetor..

— Ok, onde eu assino o diagóstico?

— Oxente, que diaboéisso de diagnóstico?

— Aqui ó - ela disse fingindo escrever algo em um papel imaginário - A paciente Juliette Freire, encontra-se em total estado de apaixonite aguda. Caso grave, de arriamento dos quatro pneus...

— E mais o estepe! Inclua aí - falei divertida.

— Mas, me conta. Tu acha que ele também se apaixonou?

— Ele me deu um selinho.

— Ele te beijou?

— Tecnicamente foi só um roçar de lábios.

— Mas, mesmo um selinho pode ser bom...como foi?

— Foi delicioso...longo e demorado.

— E depois? - ela perguntou empolgada, se sentando ao meu lado.

— Depois do selinho, eu continuei em seus braços e nós ficamos nos olhando por alguns segundos. Ele me olhava profundamente e eu acho que não consegui disfarçar que estava gostando de estar em seus braços. Mas daí eu...

— Ai, o que tu fez Juliette ? Pelas caridades...

— Eu dei um pisão no pé dele - falei com a voz tremidinha - E saí correndo...

— Por que tu fez isso, Ju?

— Eu não sei...eu senti medo. Eu ouvi tanta coisa do Rodrigo que eu achava que conhecia tão bem e agora o Rodolffo é tão lindo e a gente nem se conhece direito. Não vou suportar passar por aquilo de novo.

— Eu sinto muito, Ju - ela disse apertando minha mão.

— E além do mais, talvez pra ele foi só um selinho mesmo. A gente não estava tendo um encontro, era só um passeio pra curtir do carro que a gente tinha roubado.

— É o quê, Juliette ? Tu roubou um carro com o boy?

— Não...foi só um modo de dizer. A gente estava com um carro emprestado. Foi isso...

- Ah, ufa...Mas é aí?  Depois que tu saiu correndo ? Ele foi atrás ? Conversaram ? Trocaram telefones desta vez?

— Ele veio atrás de mim e me pediu desculpas. Percebi que ele também parecia meio transtornado...talvez arrependido. Não sei...Pedi pra ele me trazer embora e ele me deixou em casa. Ele deixou o número do telefone, para eu ligar.

— E tu vai ligar?

— Não sei.

— Ué, mas tu não gostou dele?

— Gostei, amiga. Mas, se não der certo de novo? 

— Oxente, tu só vai saber se tentar.

Respirei fundo.

— O que eu faço, Lucy?

— Reaja, mulher ! Bota um cropped e agarra esse homi, peste.

A arte do encontroOnde histórias criam vida. Descubra agora