Capítulo 87

703 59 88
                                    

|| Maria Valentina Felipinne ||

Sinto o olhar de todos pairando sobre o meu corpo, fazendo-o pegar fogo. Encolho os meus ombros enquanto Letícia acariciava as minhas costas em uma tentativa de me acalmar.

-Vamos nos sentar. - ela me guia até uma cadeira mais afastada.

Engulo seco ao perceber que as pessoas não paravam de me olhar. Algumas com ódio, outras com pena e outras desejando me matar.

Talvez eu realmente mereça todo esse desprezo, afinal eu fui a culpada por Giorgian ter entrado naquele avião.

Passo a mão pelo rosto tentando evitar esse tipo de pensamentos. A minha filha não merece passar por isso ainda estando na barriga.

-Alguém tem alguma notícia sobre ele? - pergunto assim que Marília se aproxima junto com Bruna.

Elas me olham com pena. Sinto o meu coração estremecer e a vontade de chorar voltar outra vez.

-Acho melhor você não se preocupar com isso agora. - Marília murmura forçando um pequeno sorriso. - Só pensa que ele ainda está vivo.

Eu ainda estava no aeroporto de Madrid quando recebi uma mensagem da Bruna avisando que, por um milagre, Giorgian havia sido retirado com vida de dentro do avião e que ele já estava no hospital. Pelo pouco que entendi, a pancada do pouso forçado foi no lado contrário ao que ele estava, mas isso não o impediu de receber um forte impacto.

Infelizmente o seu caso era bem grave e ele teria que passar por uma cirurgia urgente.

-Ainda? Como assim ainda? - indago sentindo os meus olhos marejarem.

-Tina, fica calma. - Bruna suplica ganhando a minha atenção.

Nego com a cabeça. É impossível ficar calma em uma situação como essa.

Elas se olhavam nervosas. Isso estava acabando comigo.

-Alguém pode me explicar o que está acontecendo? - questiono um pouco brava. - Por favor.

Letícia suspirou se sentando ao meu lado. Ela segura a minha mão e eu pude sentir seus dedos se tremendo.

-Você sabe que em quedas de avião dificilmente há sobreviventes. - ela inicia fazendo-me concordar. - Foi um milagre absurdo o Giorgian ter sido salvo com vida.

-Não enrola, por favor. - peço limpando uma pequena lágrima.

-O Arrasca chegou aqui com um estado de saúde muito grave. Os médicos levaram ele direto para a sala de cirurgia e passaram horas com ele lá dentro. - sua voz estava embargada. - O médico responsável não nos escondeu nada.

-Letícia. - murmuro o seu nome como uma forma de induzir para que ela continue.

Mas ela não fez isso. Letícia fechou os olhos permitindo que suas lágrimas caíssem.

Levanto o meu olhar até as outras duas. Elas me observavam com pena.

Bruna pareceu entender o meu olhar e suspirou antes de continuar a contar.

-O doutor Oscar informou que a cirurgia foi delicada e, infelizmente, o Arrasca não reagiu bem. - ela faz uma pequena pausa. - Tina, não me faça continuar.

-Eu preciso saber de tudo. - respondo rapidamente enquanto ela concorda com a cabeça.

-O Arrasca está em coma. - abro a boca procurando por palavras, mas nada saiu.

-Não. - sussurro levando a mão até minha boca. - Não, não, não.

-Tina. - Letícia diz o meu nome segurando o meu rosto. - Você precisa se acalmar. - ela acaricia a minha barriga.

-Eu quero saber de tudo. - digo com certa dificuldade por conta do choro.

-Dificilmente ele irá sobreviver. - Bruna continua limpando suas lágrimas. - E se isso acontecer, ele terá sequelas graves.

Cubro o meu rosto com as minhas mãos. Isso dói, dói muito.

-O Giorgian não... - soluço não concluindo a fala.

Sinto braços me envolverem. Mas, ao mesmo tempo em que eu era consolada, os olhares de julgamento me queimavam.

Gabriel me olhava com certo desprezo e talvez ele tenha razão. Eu causei isso tudo.

Por que sempre tenho que tomar as decisões erradas?

O Giorgian está correndo risco de morte por minha causa. Ninguém sabe o quanto esse sentimento de culpa está doendo em mim. Ninguém tem a noção do quanto eu estou caindo aos poucos com toda essa situação.

Ninguém gosta de cair. Cair machuca, dói, causa machucados e, em algumas vezes, deixa cicatrizes. Mas as cicatrizes nunca vão ser curadas, elas ficam para te lembrar onde doeu e, sempre que isso acontece, você se machuca mais e mais.

O pior de tudo é que eu nem sei até quando vou continuar caindo. O meu penhasco tem incontáveis metros de altura. Talvez eu não consiga me salvar quando chegar ao solo.

-Isso tá doendo. - confesso assim que Letícia para de me abraçar. - Ninguém entende o quanto isso está doendo.

-A sua filha, Tina. - Marília sussurra se abaixando para ficar da minha altura. - Pensa nela agora. Se acalma.

É impossível me acalmar agora.

Sinto que as minhas mãos tremem e uma sensação de frio passa por todo o meu corpo. Minha cabeça dói bastante, mas isso não importava agora.

-Eu preciso pegar um ar. - digo vendo-as negarem com a cabeça. - Eu vou sair daqui.

-Tina, você não tem que ficar sozinha. - Marília diz acariciando o meu ombro. - Não importam o que digam, isso não foi culpa sua.

-Isso é culpa das minhas mentiras. - engulo seco soluçando em seguida. - Talvez se eu tivesse sido sincera com ele desde o primeiro dia, a história seria diferente.

-Diferente, mas não menos dolorosa. - Bruna rebate.

Me levanto da cadeira e me afasto delas. Levo minha mão até a barriga onde minha filha chutava.

A gravidez já não é mais segredo algum. Toda a família e amigos sabem que eu estou esperando uma filha de Giorgian.

Sinto o olhar de uma pessoa fazer o meu corpo queimar. Me viro vendo que Gabriel me observava.

Mas, diferente das outras vezes, ele agora tinha baixado a guarda. Seus olhos estavam cansados e carregavam uma tristeza absurda.

Sinto uma leve brisa bater contra o meu rosto. Fecho os olhos tentando me manter calma.

Tudo pela minha filha.

"-Se algum dia tivermos um filho, qual seria o nome? - me apoio sobre o peitoral do Giorgian.

Ele pareceu pensar, mas logo abriu um sorriso.

-Sabe, eu sempre gostei de Matteo. - ele menciona tirando uma mecha do meu cabelo da frente do meu olho.

-E se for menina?

-Aurora. - diz convicto. - Sem dúvida alguma. Ela é a deusa do amanhecer, sempre irá trazer alegria para as nossas manhãs."

-Por favor, Giorgian. - suplico como se estivesse conversando com ele. - Aguenta firme. - pego o colar que ele me deu e olho para o pingente. - Por nossa filha, nossa Aurora.

.
.
.
.

Preparem os lencinhos...

Aurora já é tão amada, nosso solzinho 🥹☀️

Antes que você diga Adeus! - Giorgian De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora