Capítulo 111

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||Giorgian de Arrascaeta||

Várias pessoas falam comigo como se as palavras delas fossem me confortar o suficiente para acabar com a dor que a morte de Valentina me trouxe.

Eu aceitava ouvir as palavras pois sabia que, embora me machucassem, elas eram um escape o qual eu me lembraria mais tarde quando fosse dormir sozinho no meu apartamento.

Ontem, quando voltei para casa e me preparei para ver o amor da minha vida dentro de um caixão, o cheiro dela ainda estava presente no lugar.

Foi tão doloroso sentir ela tão presente e saber que, se eu chamasse, ela não viria. Dói tanto entrar naquele apartamento e lembrar de todos os nossos momentos juntos, de todas as risadas, as gargalhadas, as brincadeiras, os choros... Simplesmente dói.

Eu me afogo em lágrimas todas as vezes que me lembro o motivo de estar vestindo preto, o motivo de nenhuma dessas pessoas conseguirem fazer eu relaxar. Ninguém aqui é Valentina.

Um pequeno choro chamou a minha atenção. É a minha filha.

Não sei como, mas Letícia e Gabriel conseguiram convencer o médico a dar alta para minha filha mais cedo e agora ela está fazendo parte do velório da própria mãe. Ela tem apenas um dia de vida.

-Me dá ela aqui. - suplico com a voz baixa.

Letícia me olha visivelmente cansada. Ela está destruída.

-Tem certeza? - Gabriel pergunta no mesmo tom.

Confirmo com a cabeça esticando os braços. Com cuidado, Letícia coloca aquela pequeno ser sobre o meu corpo, o que me causou um pequeno medo.

Eu já havia pegado Aurora no colo, uma única vez. Certamente eu não levo muito jeito com isso, mas Marília e Bruna têm me ensinado tudo o que preciso saber no momento.

Olho para a minha filha. Ela é tão pequena que eu sinto medo de apertá-la em meus braços sem nem ao menos perceber.

-Você está com saudade da sua mãe? - ao ouvir a minha voz, o seu choro se cessou aos poucos.

Eu sabia que seria difícil olhar para ela, mas nunca passou pela minha cabeça negar a minha filha.

Aurora me lembra Valentina não apenas pelo fato dela ser fruto do nosso amor, mas, tirando o nariz, tudo nela é igual a mãe. Seus olhos, embora eu tenha visto pouco com eles abertos, eram da cor avelã.

Seus poucos fios espalhados pela cabeça lembravam o tom dos da minha esposa. Até as pequenas covinhas na bochecha ela tem.

Me afasto das pessoas usando a desculpa de que irei acalmar Aurora. Tudo o que eu mais quero nesse momento é sair de dentro daquela sala melancólica e dolorosa.

Minha filha se tranquiliza só em ouvir a minha voz - isso quase consegue arrancar um pequeno sorriso meu.

A vida pode ser cruel e muito difícil, quantas vezes pensamos em desistir dela?

Mas são pequenos momentos como esse que me fazem esquecer de todo o caos que está atrás de nós dois. Afinal, agora somos só eu e Aurora.

Fecho os olhos suspirando. Em pouco tempo, o cheiro de bebê invade as minhas narinas e, tendo praticamente o mesmo efeito que o perfume de Valentina, faz o meu coração acalmar as batidas.

Eu tenho que ficar bem. Tenho que suportar essa dor por mim, por Aurora e por Valentina. Eu tenho que ser forte.

-Te encontrei. - Diego Ribas murmura se aproximando. - As pessoas que chegaram estão perguntando por você.

Antes que você diga Adeus! - Giorgian De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora