Capítulo 90

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|| Maria Valentina Felipinne ||

Suspiro fechando os olhos. Um passo. É é a distância que me separa de ver o Giorgian.

Se fosse alguns meses atrás, talvez eu não pensasse duas vezes antes de abrir essa porta e sair correndo em sua direção. Eu não teria incerteza se sentir o toque dele me faria bem.

Mas por que tudo mudou de repente?

Eu estou com medo, tanto medo como uma criança sente do escuro. Mas medo de quê? Do Giorgian? De me sentir mais culpada quando vê-lo? De que a Aurora não me perdoe nunca por ter matado o pai dela?

Tenho medo de tudo e, talvez, o maior medo que eu esteja sentindo seja de não conseguir me perdoar.

-Tina? - Marília sussurra o meu nome chamando a minha atenção. - Você não vai entrar?

Suspiro forçando um pequeno sorriso.

Minha mão entra em contato com o trinco frio daquela porta. Engulo seco abrindo-a lentamente.

Eu não olhei para ele. Eu não tive coragem de ver o amor da minha vida daquela forma. Mantive o meu olhar para baixo fechando a porta em seguida.

Eu me aproximava com passos lentos. Sentir a sua presença fazia o meu coração saltitar.

E, então, eu finalmente levantei o meu olhar e passei a vê-lo. Levo as minhas mãos até minha boca sem conseguir acreditar naquilo.

O médico disse que há uma grande possibilidade do Giorgian ouvir e sentir tudo o que acontece ao seu redor mesmo estando em coma. Tento segurar toda a vontade que eu estou de chorar por ele.

Me aproximo um pouco mais. Suspiro tocando sua mão.

Sua pele não estava tão calorosa como o de costume. Foi inevitável segurar as lágrimas.

-Acho que você leu a minha carta. - sussurro olhando-o. - E, assim como eu pedi nela, espero que você consiga me perdoar.

A necessidade de ouvir a voz de Giorgian era enorme e, por um momento, eu passei a acreditar nos enredos dos filmes onde o cara acorda assim que sua amada chega perto dele.

Mas ele me amava? Ou tudo o que sentia foi embora no instante em que descobriu todas as minhas omissões?

Engulo o choro fechando os olhos. Minha mão ainda estava sobre a dele.

-Sabe, eu queria que fosse diferente. - confesso acariciando os seus fios de cabelo que estavam um pouco maiores do que o que ele costuma deixar. - De verdade, eu não queria que isso tivesse acontecido com você.

"-Eu não quero morrer antes de você. - Giorgian murmura arrumando o meu cabelo. - Mas eu também não quero te ver morrer.

-Não gosto de falar sobre mortes. Isso me apavora."

-Abre os olhos pra mim, por favor. - suplico acariciando o seu rosto levemente. Eu estou com medo de machucá-lo. - Eu amo o castanho deles.

Isso é verdade. Nunca pensei que eu fosse gostar tanto de uma cor como eu gosto da cor dos olhos de Giorgian. O brilho no seu olhar sempre combinou muito bem com ele e, principalmente, com o céu.

Os olhos castanhos de Giorgian cabem tão perfeitamente nele quanto as estrelas combinam com a Lua.

-Eu estou com saudade de tudo. Saudade de ouvir a sua voz, do seu olhar, do seu carinho... - minha voz embargada fazia o som dela sair baixo. - sinto falta dos seus beijos.

Antes que você diga Adeus! - Giorgian De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora