Além do Caos

Teia de Mentiras

Negan

Depois de trocar algumas mensagens com Maya, senti um misto de animação e nervosismo. A noite anterior ainda ecoava em minha mente, e a perspectiva de um futuro com ela parecia cada vez mais atraente. Levantei-me do sofá onde tenho dormido, decidido a começar o dia com uma nota positiva.

Ao chegar na cozinha, comecei a preparar o café da manhã. A cozinha estava quieta, exceto pelo som dos utensílios. Fui interrompido quando Lucille apareceu, e por um breve momento, parecia que poderíamos ter uma conversa normal.

"Oi, Negan. Espero que esteja tudo bem", ela disse, tentando manter um semblante tranquilo.

"Está tudo bem, Lucille. Apenas tentando colocar as coisas nos eixos", respondi, minha voz carregando um tom neutro.

Conversamos sobre coisas triviais por alguns instantes, mas logo ela trouxe à tona um problema que parecia não ter fim: as contas. Ficou claro que a situação estava tensa, e eu me vi preso em mais uma discussão sobre as finanças.

A expressão dela mudou, o que era um sorriso matinal se transformou em uma careta de frustração. As palavras dela começaram a sair mais agressivas, e eu sabia que uma discussão estava prestes a começar.

— Você precisa se responsabilizar, Negan! Não podemos continuar nessa situação! — As palavras carregadas de frustração e raiva.

— Eu estou tentando, Lucille, mas as coisas não são tão simples quanto parecem. — Tentei manter o tom calmo.

Ela cruzou os braços, a postura deixando claro que ela não estava disposta a aceitar desculpas.

— Não estou vendo resultados, Negan. Eu trabalho o dia todo, me esforço, e parece que estou fazendo tudo sozinha! O que você faz além de jogar videogame e passar horas e horas fora de casa?

Eu senti a pressão se intensificar, sabendo que estava atrasado para uma entrevista de emprego importante. Aquela discussão era o último obstáculo que eu precisava naquele momento.

— Eu também cuido da casa e todas as nossas discussões me fazem querer não ficar em casa! Por que acha que não dormimos mais na mesma cama Lucille? Eu estou indo para uma entrevista. Eu não posso lidar com isso agora. — Disse tentando sair da situação.

— Sempre há desculpas, Negan! Você precisa assumir suas responsabilidades ao menos uma vez na droga da sua vida!

Eu senti minha paciência se esgotar, a pressão da situação e a frustração do momento me atingindo com força.  Sai pegando minha jaqueta, as chaves da moto, e saí, sentindo o peso do estresse e da pressão das nossas complicações em minha mente.

A discussão estava pendente, e eu sabia que teria que enfrentar aquilo mais tarde. Por enquanto, eu estava indo para a entrevista, uma oportunidade que eu não podia deixar escapar, mesmo que a merda em casa estivesse apenas começando a feder.

Estacionei ao lado da loja onde seria minha entrevista. Era uma vaga como vendedor em uma loja de ferramentas, nada glamuroso, mas pagaria as contas.

Entrei na sala de entrevistas com um nervosismo palpável. Sabia que aquela oportunidade era crucial para minha situação financeira, e eu estava determinado a conseguir. Cumprimentei o entrevistador com um sorriso confiante, tentando esconder a tensão que estava sentindo.

O entrevistador, um homem sério com uma expressão avaliadora, cumprimentou-me de volta.

— Olá, sou o Sr. Thompson. Muito prazer em conhecê-lo. Por favor, sente-se.

— Obrigado.

O Sr. Thompson começou a fazer algumas perguntas sobre minha experiência anterior e minhas habilidades. Tentei responder de forma clara e convincente, destacando meus pontos fortes e mostrando meu entusiasmo pela vaga.

No entanto, chegou o momento inevitável em que ele tocou no tópico que eu tanto temia: minha situação legal. Ele olhou para o meu currículo e, apesar de tentar disfarçar, era óbvio que havia notado algo.

— Vejo que você mencionou que esteve trabalhando como professor. No entanto, há uma lacuna recente em sua experiência. Poderia explicar o que aconteceu durante esse período?

Senti o peso da verdade se aproximando. Era hora de lidar com a questão da condicional. Eu sabia que isso poderia ser um obstáculo, mas tinha esperanças de que minhas habilidades e determinação falassem mais alto.

— Na verdade, Sr. Thompson, houve um mal-entendido que me colocou na condicional por um curto período de tempo. É uma situação totalmente temporária Isso não afetará meu desempenho neste trabalho posso te afirmar.

— E como conseguiu isso?

Merda...

— Eu... Me meti em uma briga de bar. — Entre muitas camadas era isso que havia acontecido.

O Sr. Thompson olhou para mim por alguns instantes, analisando minha resposta. Eu podia sentir o suspense no ar enquanto ele considerava minha explicação.

— Compreendo. No entanto, nossa política exige que os vendedores tenham um histórico criminal limpo especialmente para assegurar a segurança dos clientes. Infelizmente, não podemos prosseguir com sua candidatura.

A notícia foi como um soco no estômago, não é a primeira vez que ouço as mesmas palavras, mas a decepção é sempre a mesma.

— Agradeço pelo tempo. — Tentei manter um sorriso profissional, e levantei-me para sair da sala.

Era uma derrota vergonhosa, uma prova de que as complicações em minha vida estavam se refletindo em oportunidades que eu tanto precisava.

— Merda... — Sussurrei subindo na moto.

O telefone tocou, interrompendo minha auto lamentação. Ao ver o nome de Maya no visor, tentei colocar um sorriso em meu rosto. Atendi a ligação, tentando não deixar transparecer a frustração da entrevista não tão bem-sucedida.

— Oi, Maya! A que devo a honra dessa ligação? — Tentei forçar um tom descontraído.

— Oi, Negan! Só consegui um tempinho entre uma cirurgia e outra para te dar um alô. Como você está? — A voz dela era animada do outro lado da linha.

— Tô legal, Maya, só tendo um daqueles dias nada empolgantes no trabalho, sabe como é.

Houve um breve momento de silêncio, como se ela estivesse avaliando minhas palavras.

— Sério? Parece que tem algo a mais aí, Negan. Você pode me contar o que está acontecendo?

Eu sabia que ela estava percebendo algo errado, mas não podia voltar atrás.

— Não é nada demais, só estou um pouco cansado e frustrado com as coisas no trabalho. É apenas um daqueles dias chatos.

— Tudo bem, Negan, se quiser falar sobre isso, estou aqui. — Mesmo parecendo receosa ela cedeu.

Senti um leve aperto no peito, mas insisti em manter a farsa.

— Eu adorei ter me ligado boneca. Prometo que vou melhorar o meu humor, tá?

  — Tudo bem, Negan. — Ela pareceu mais aliviada, mas ainda com um toque de preocupação.

— Nos falamos depois, até mais.

Encerramos a ligação. A culpa por ter mentido para ela estava sobre mim, mas eu não queria que Maya se preocupasse ainda mais, especialmente quando eu estava tentando entender meus próprios sentimentos em relação a toda essa complicada situação.