Dever e Emoção

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Maya

Eu estava na enfermaria, concentrada em organizar os suprimentos médicos, quando a porta se abriu e Rick e Daryl entraram carregando Negan, inconsciente e com um corte profundo no pescoço. Meu coração acelerou ao vê-los, sabendo que alguma coisa grave havia acontecido.

— O que houve? — Meus olhos estavam saltados.

— A guerra acabou. A guerra acabou Maya. — Rick explicou a situação rapidamente o colocando na cama. — Preciso que suture ele.

Meu olhar se voltou para Negan, que estava pálido e desacordado. Era difícil para mim acreditar que aquilo estava acontecendo, que ele estava ali, vulnerável e ferido. As memórias de nosso passado tumultuaram minha mente, mas eu tive que empurrá-las para o lado e focar na tarefa à minha frente.

Peguei os materiais necessários para a sutura, respirando fundo para me acalmar. Minhas mãos tremiam um pouco enquanto eu me aproximava de Negan e examinava o ferimento em seu pescoço. Era uma lesão séria, profunda e sangrando, mas eu estava determinada a fazer o meu melhor.

— Daryl, me ajuda a segurá-lo, não dá tempo da anestesia fazer efeito.

Daryl se aproximou e segurou os ombros de Negan com firmeza, seus olhos expressando uma mistura de preocupação e desconfiança.

Com um foco intenso, comecei a suturar o corte, meus dedos trabalhando com cuidado para fechar a ferida e estancar o sangramento. Eu podia sentir as lágrimas em meus olhos enquanto eu trabalhava, as emoções conflitantes se misturando com a concentração necessária para o procedimento.

Negan se mexia mesmo inconsciente, Daryl o segurava com firmeza contra a cama. Quando terminei, dei um passo para trás, observando o trabalho que havia feito. O corte estava fechado, mas a imagem de Negan naquela condição frágil me atingiu com força. Eu não podia deixar de me sentir triste por ele, mesmo depois de tudo o que aconteceu entre nós.

— Obrigado Maya. — Disse Rick tocando meu ombro.

— O que vai acontecer com ele? — Pergunto sem tirar os olhos de Negan.

— Ele vai ficar sob sob custódia.

— Entendo...

Ao ver Negan naquele estado, meu estômago se revirou instantaneamente, uma onda de náusea avassaladora me atingindo. Sem pensar duas vezes, eu me afastei rapidamente da enfermaria e corri para fora, buscando o ar fresco do lado de fora.

O gramado se estendia à minha frente enquanto eu me ajoelhava, as mãos apoiadas no chão. As lágrimas ardiam em meus olhos e uma mistura de tristeza, raiva e desgosto pesava em meu peito. O ato de vomitar era quase reflexo, uma maneira física de expressar toda a confusão e emoção que eu estava sentindo.

A sensação de alívio momentâneo que o vômito trouxe foi pequena diante da magnitude dos meus sentimentos. A imagem de Negan naquele estado vulnerável, ferido e capturado, era um choque doloroso. As memórias de nossos momentos juntos, as conversas, os olhares, todos se chocavam com a realidade da situação.

Eu respirei fundo, tentando acalmar as lágrimas e a agitação interna. Sabia que precisava enfrentar aquela realidade, mesmo que fosse difícil. Lentamente, eu me levantei do chão, enxugando o rosto com as costas da mão. Daryl estava ali, observando em silêncio, sua expressão indicando que ele entendia a complexidade dos meus sentimentos.

Eu respirei fundo mais uma vez, tentando recuperar minha compostura. A situação era desafiadora, mas eu não podia permitir que ela me derrubasse completamente. Olhei para Daryl e dei um aceno lento, um gesto de agradecimento por sua presença e compreensão.

Esperei do lado de fora da enfermaria até ver Rick e Michonne saírem, dando-lhes um breve aceno enquanto eles se afastavam. Eu respirei fundo e entrei na sala, encontrando Negan acordado, algemado à cama. Meus olhos se encontraram com os dele.

— Ah, olha só quem veio me ver. A doutora salvadora. — Disse sua voz um misto de provocação e dor pelo incômodo.

— Não faça esforço, Negan. — Falei rapidamente, meu tom mais suave agora, enquanto eu me aproximava da cama e observava o curativo no corte em seu pescoço. Uma mancha de sangue na bandagem me chamou a atenção, e eu franzir a testa preocupada.

— Merda... — Murmurei para mim mesma, pegando um novo curativo e alguns materiais para trocá-lo.

Com cuidado, eu retirei o curativo sujo e examinei o corte, certificando-me de que não havia sinais de infecção. Sua pele estava um pouco inflamada, mas nada grave.

Eu reprimi a sensação de nervosismo enquanto começava a limpar o corte com cuidado, sendo o mais gentil possível para não causar mais dor a ele. Eu estava focada na tarefa, tentando não pensar demais nas emoções tumultuadas que a situação estava provocando em mim.

— Desculpe por isso. — Murmurei, evitando olhar diretamente para ele enquanto trabalhava no curativo. Eu podia sentir seu olhar sobre mim, e isso só aumentava minha agitação interior.

— Não esperava que você fosse fazer isso. — Ele disse, e sua voz estava um pouco mais suave agora, quase surpreendida. Eu o ouvi respirar fundo, e me virei para ele, encontrando seus olhos.

— Eu sou médica. É meu dever cuidar dos feridos.

— Não esperava que você me abandonasse...

Senti um aperto no peito querendo me dominar aos poucos. Continuei trabalhando no curativo, focando na tarefa para não me deixar levar pelas emoções que a presença dele despertava.

Nós dois ficamos em silêncio por um momento, o único som sendo o suave ruído dos materiais de curativo. Finalmente, eu terminei de refazer o curativo, me afastando um pouco da cama e olhando para ele.

— Isso deve manter o corte limpo e protegido. Certifique-se de não fazer esforços bruscos e não tente mexer nas algemas.

Ele me olhou por um momento, seus olhos revelando algo que eu não conseguia identificar completamente. E então, ele deu um leve aceno de cabeça com dificuldade.

— Vou tentar seguir suas instruções, doutora.

Eu forcei um sorriso, não totalmente genuíno, mas fiz o meu melhor para parecer profissional e imparcial. Era um equilíbrio delicado, lidar com Negan dessa forma, mas eu estava determinada a não deixar que ele me afetasse mais do que já havia feito.

Negan olhou para mim com uma expressão que parecia genuína, quase vulnerável.

— Sabe, senti sua falta, Maya. — Sua voz mais suave do que eu esperava. Ele parecia estar sendo sincero, mas minha mente estava uma confusão de emoções e sentimentos conflitantes.

Eu não sabia o que responder a isso, então optei por um gesto mais simples. Me inclinei e dei um beijo suave em sua testa, um gesto quase automático e quase involuntário. Eu senti um turbilhão de emoções internas, mas não queria que ele visse isso em meus olhos.

Com um último olhar para ele, eu saí da enfermaria, sentindo o desconforto em meu estômago mais uma vez. Era difícil ignorar os sentimentos que ele estava despertando em mim...

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