Lágrimas De Cura

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Maya

Desde que retornei a Alexandria me vi envolvida na guerra entre as comunidades e o Santuário, uma batalha interna ainda mais intensa começou a se desenrolar dentro de mim. Era como se minha mente estivesse constantemente dividida entre o que eu sabia que era certo e o que meu coração teimava em sentir em relação a Negan.

Ver as comunidades unidas contra Negan e os Salvadores era uma causa pela qual valia lutar. Eles haviam feito coisas terríveis, causado sofrimento e morte, e eu sabia que o mundo seria melhor sem eles. Mas ao mesmo tempo, não conseguia deixar de pensar nas nuances da personalidade de Negan, nas lembranças compartilhadas e nas emoções que havíamos compartilhado.

Cada vez que eu via Negan em meus pensamentos, um turbilhão de sentimentos se formava dentro de mim. Raiva, ressentimento, mas também uma estranha familiaridade e conexão. Era como se ele conhecesse um lado de mim que poucas pessoas haviam visto, e isso me deixava desconcertada. Eu sabia que Negan era responsável por muitas tragédias, mas também havia algo nele que eu não conseguia ignorar completamente.

O que importa? O que adiantava? No final do dia, eu continuava a lutar contra o que sentia por Negan, contra essa mistura complexa de emoções que me deixava confusa pra caralho.

Enquanto eu estava na enfermaria, organizando os medicamentos e suprimentos, uma tristeza profunda se apoderou de mim. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, silenciosas testemunhas das batalhas internas que eu travava. A aliança que Negan havia me dado ainda estava em meu dedo, um lembrete constante da complicada teia de emoções que eu estava tentando desvendar.

— Ei. — Nesse momento, a voz áspera de Daryl ecoou na enfermaria, trazendo-me de volta à realidade.

Levantei o olhar e o vi ali, parado à entrada, olhando para mim com uma expressão de preocupação genuína. Ele sempre tinha esse jeito direto e brusco, mas também podia ser incrivelmente perceptivo quando se tratava dos outros.

— Você tá legal? — Ele perguntou, sua voz rouca.

Balancei a cabeça lentamente, sem dizer uma palavra, incapaz de encontrar as palavras certas para expressar a tormenta emocional que eu estava enfrentando.

Daryl deu alguns passos em minha direção, parando a pouca distância. Ele sabia que não era o tipo de pessoa que gostava de mostrar fraqueza ou pedir ajuda, mas sua presença ali, sua preocupação genuína, fazia com que eu me sentisse um pouco menos sozinha.

— Que merda tá acontecendo Maya?

Eu o encarei, percebendo que ele estava oferecendo seu apoio de uma maneira que era típica de Daryl - sem muitas palavras, mas cheia de significado.

— Eu não sei... — Respondi, minha voz um sussurro carregado de emoção.

Daryl se aproximou mais, um gesto de proximidade que eu não estava acostumada a experimentar. Ele olhou para a aliança em meu dedo, depois para mim, seus olhos intensos transmitindo uma confusão silenciosa.

— Por que ainda está usando isso? — Perguntou, sua voz grave revelando o genuíno interesse que tinha na resposta.

Eu suspirei, sentindo-me um pouco vulnerável por abrir sobre esse assunto pela primeira vez. Mas, no fundo, eu sabia que confiar em Daryl não era uma decisão errada.

— É uma longa história. — Comecei, olhando para a aliança por um momento antes de voltar minha atenção para Daryl. — Conheci Negan antes de toda essa merda... Nos conhecemos em um bar...

E assim, comecei a contar-lhe toda a história com Negan antes do mundo desmoronar. Sobre aquele bar onde nos encontramos pela primeira vez, nossas conversas, as risadas e a atração que existia entre nós. Eu fui honesta, detalhando cada momento que compartilhamos, mesmo os que eram mais difíceis de relembrar era impossível não deixar algumas lágrimas escorrerem.

— Eu estava me apaixonando por ele. — Admiti, abaixando o olhar por um momento antes de encontrar os olhos de Daryl novamente. — E então, descobri que ele era casado.

O silêncio se estendeu entre nós por um instante, um peso invisível pairando no ar. Eu podia ver que Daryl estava processando tudo o que eu havia contado, sua expressão refletindo uma mistura de compreensão e preocupação.

Daryl manteve o olhar fixo em mim, como se tentasse enxergar mais além, entender o que eu estava sentindo. Eu tinha contado a ele sobre algo que nunca havia compartilhado com ninguém antes, algo que estava enterrado profundamente dentro de mim.

— Foi um tempo antes de eu conhecer o Rick no hospital... E depois que o mundo caiu, tudo mudou. Eu achei que nunca mais o veria.

Mas havia outra coisa que eu precisava compartilhar, algo que estava me corroendo por dentro e que parecia queimar em minha garganta.

As lágrimas ainda em meus olhos, eu respirei fundo antes de continuar, minha voz um pouco trêmula.

— Eu descobri que estava grávida.

As sobrancelhas de Daryl se ergueram em surpresa, seus olhos fixos em mim enquanto ele processava o que eu havia dito. Era como se o tempo tivesse parado por um momento, e eu me senti exposta de uma forma que nunca havia sentido antes.

— Eu não contei a ele. Não contei a ninguém...

Daryl assentiu lentamente, parecendo entender o que eu estava compartilhando. Eu pude ver a compaixão em seu olhar, e isso me deu coragem para prosseguir.

— Eu fiz um aborto. — Admiti, minhas palavras pesando como chumbo em meu coração.

Eu senti um nó na garganta, as lágrimas voltando a cair enquanto eu revivia aquele momento doloroso. Era como se eu estivesse expondo minha alma para Daryl, mostrando-lhe as cicatrizes que eu havia carregado em silêncio por tanto tempo.

Daryl se aproximou um pouco mais, sua expressão gentil e solidária. Ele não precisava dizer nada, seu olhar e presença eram o suficiente para me fazer sentir compreendida e apoiada. Eu respirei fundo, tentando controlar minhas emoções enquanto continuava.

— Eu nunca contei a ele sobre a gravidez, nunca contei a ninguém.

Daryl se aproximou o suficiente me abraçando com força. Eu me permiti afundar no abraço reconfortante de Daryl, suas mãos fortes me envolvendo com gentileza. Eu chorei em seus ombros, deixando para trás anos de angústia e segredos que haviam sido enterrados profundamente dentro de mim.

Nós ficamos ali por um tempo, o tempo parecendo se dissipar enquanto eu me permitia desabar e liberar todas as emoções que eu havia mantido trancadas por tanto tempo. Daryl não me apressou, ele simplesmente estava lá, solidário e presente. E eu me senti grata por isso, por ter alguém em quem eu pudesse confiar com os meus sentimentos mais profundos e dolorosos.

Quando finalmente me acalmei, eu me afastei um pouco do abraço, olhando para Daryl com um sorriso trêmulo nos lábios.

— Obrigada. — Disse com sinceridade, minhas palavras carregadas de gratidão.

Daryl apenas assentiu, seu olhar suave enquanto ele me oferecia um sorriso reconfortante. Eu pude ver em seus olhos que ele estava ali para mim, que ele entendia e que estava disposto a me apoiar de todas as formas possíveis.

— Não a de que doutora.

Nós ficamos ali por um momento, compartilhando um olhar cheio de entendimento e camaradagem. E, com o apoio de Daryl, eu senti que finalmente poderia começar a superar o passado e a dor que eu havia carregado por tanto tempo.

Enquanto as lágrimas ainda escorriam por meu rosto, eu finalmente me senti um pouco mais leve, como se tivesse tirado um peso enorme de minhas costas.

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