Capítulo 29.

2.9K 275 139
                                    

Na madrugada eu já não me sentia vazia. Estava cheia de álcool e sensação de sangue em minhas mãos... me sentia bem, primeira noite em que consegui dormir profundamente.

Acordei com dor de cabeça infernal, olhei para o relógio que dizia ser três da tarde... Caralho.

Meu quarto estava uma zona e eu tinha dormido com a mesma coisa que sai ontem a noite. Tomei um banho quente na intenção de lavar o corpo e a mente. Até que ouvi alguma gritaria na sala ao lado de meu quarto, logo me assustei e me arrumei rapidamente para que eu pudesse ver o que estava acontecendo.

Andei rapidamente pisando no chão de madeira com os pés descalços e o ouvindo ranger. Minha mãe estava segurando a cabeça com as mãos enquanto se apoiava na mesa da cozinha, ela parecia irritada, decepcionada, como se tivesse acabado de brigar.

-Mãe? O que foi? - perguntei.

Ela suspirou e não disse nada, olhei para o lado e encontrei meu pai, me encarando como se eu fosse uma criatura que ele não conhece.

-Pai? - esse filha da puta tinha me largado aqui, o que ele pensa que está fazendo agora?

-Lilian... Vamos conversar - era tudo que eu menos queria. Faziam anos que eu não via meu pai e eu não tinha vontade de conversar com ele.

-Eu voltarei pro meu quarto.

-Faz tanto tempo que não nos vemos, seja uma boa filha - eu queria voar em seu pescoço e arrancar sua cabeça nesse momento.

-Boa filha? Você está maluco? - rosnei. Meu pai tinha uma feição culpada mas seu olhar era frio e rígido.

-Converse com seu pai - minha mãe disse logo atrás de mim.

-Onde está Joan? - perguntei agressivamente.

-Mandei ela sair - disse minha mãe rapidamente bloqueando a passagem.

-Eu não tenho nada para conversar com você - fui em direção à meu pai - minha vida deixou de ser de seu interesse no momento que você nos abandonou aqui para viver de migalhas.

Ele agarrou meu braço com força, mas aquilo não doía de certa forma.

-Fale direito comigo. Eu quem comi a sua mãe para você nascer - uma onda de ódio e repulsa percorreu meu corpo.

Ele me jogou no sofá me forçando a ouvi-lo e sentou-se ao meu lado.

-Olha - ele suspirou - não queria ter começado assim, só quero que você me escute.

Suspirei.

-Eu não acho que aqui seja seguro para você - ele me encarava - sua mãe não pode te dar a supervisão que eu posso.

O olhei enojada sabendo exatamente onde isso dar.

-Quero que venha comigo para Flórida.

-Você realmente está maluco - o olhei de cima abaixo e me levantei - eu não vou para lugar nenhum com você.

Ele se levantou rapidamente e gritou comigo.

-EU SOU SEU PAI! EU SEI O QUE É MELHOR!

-NÃO GRITE COMIGO - ele bateu em meu rosto achando que eu iria aceitar, mas soquei o seu.

Ele empurrou meu rosto contra a parede e o segurou contra ela.

-Você só pode estar pedindo para morrer.

-Me mate - eu disse sorrindo.

Ele me jogou no chão me fazendo cair, pegou um vaso de flor que tinha no móvel ao lado do sofá e jogando na parede perto da minha mãe.

-É ASSIM QUE VOCÊ CRIOU ESSA MENINA? - ele foi na direção dela e bateu em seu rosto e eu vi as lágrimas dela caírem - Você é mesmo uma inútil.

Ele me levantou do chão pelo cabelo.

-Vá arrumar suas coisas, porque eu vou te levar comigo - ele me empurrou em direção ao meu quarto.

Bati a porta e gritei de raiva, tranquei a porta e quebrei tudo que era quebrável em meu quarto, o chão estava cheio de cacos de vidro, pedaços de madeira e folhas de livro que eu rasguei durante o surto. Batiam na porta o tempo todo, meu pai tinha a intenção de arromba-lá mas não tinha toda essa força. Depois de passar o dia inteiro do lado de fora da porta do meu quarto ele decidiu ir embora e voltar pela manhã, disse que mataria minha mãe se eu não saísse do quarto.

Fiquei o dia inteiro sem comer, ou sair do quarto. Já estava de noite e pela janela vi minha mãe saindo de casa, provavelmente foi beber para esquecer o que aconteceu hoje... Eu não sou muito diferente dela. Significava que estava sozinha em casa. Precisava fugir agora. Quem diria que eu fugiria da minha própria casa... Irônico. Mas para onde eu iria? Eu não tinha ninguém. Não tinha ninguém. Ninguém.

A ideia de estar sozinha... Doía. Eu sentei no chão sentindo os vidros cortando minha pele, chorando da dor interna e externa... Eu estava completamente sozinha. Não aguentava isso. Chorei histericamente até cansar.

Levantei com raiva da minha própria fraqueza e decidi... Não quero mais viver. Peguei o maior caco de vidro do chão e cortaria minha garganta. Acabaria com isso. Não sofreria, não sentiria raiva, não sentiria falta de ninguém, não sentiria culpa, seria perfeito, era minha única solução.

Me olhei no espelho uma última vez. Eu estava destruída. Os olhos fundos, os lábios machucados, o cabelo bagunçado, estava mais magra evidentemente... A vida realmente me destruiu, tinha esperança que a morte me reestruturasse.

Posicionei o caco bem na garganta onde sabia que morreria se atingisse. Pensei no livramento que seria não morar com meu pai, não lidar com minha mãe, não lidar com a falta de Jeff... Jeff....

Eu precisava tanto de Jeff.

Mas era tarde. Pressionei na garganta, sentindo o caco entrar na minha pele e o sangue quente escorrer, era confortável, sorri a todo momento, estava feliz com aquilo, queria morrer. Antes que pudesse fazer o corte ouvi algo no meu quarto. Parei. Olhei para fora do banheiro e vi uma figura entrando pela janela.

Era Jeff.

Ele olhou curioso o caco ensanguentado em minha mão, olhou meu pescoço que escorria sangue e manchada minha roupa e descia até meu peito.

-O que você pensa que está fazendo? - ele disse... Era bom ouvir sua voz.

My killer lover - Jeff the KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora