Capítulo 12.

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Eu estava ali a dias...estava completamente escuro, meu olhos não conseguiam se acostumar com a escuridão. Eu não sabia se estava morta, mas desejava estar.

Havia alguns barulhos ali embaixo, barulhos que me impediam de dormir, alguns ratos, outras vezes uns estralos nas madeiras, eu também podia ouvir alguns baques dentro da casa onde Jeff perambulava.

Sonhava com o dia que ele apareceria pela porta e enfim me mataria, mas isso não chegava a acontecer. Eu não sabia mais o que era real, eu não conseguia sentir meu corpo e a escuridão se apossou de mim.

Quando de repente, a porta no topo da escada se abre, quase me cegando, ele descia os degraus bambeando, quase caindo.

A medida que ele se aproximava eu sentia o cheiro do álcool. Ele se agacha na minha frente e sorri feliz.

-Eu estava com tanta saudade de você - ele falava torto.

Ele puxa a fita da minha boca, e algum sangue escorre assim como um pouco de baba.

-Está com fome? - eu não sei a quanto tempo eu não comia, mas estava faminta, sentia um vazio imenso na barriga.

Jeff trazia consigo um prato completo de refeição, tendo até carne.

-Faz "aaaaaah" - ele me pede para abrir a boca, e eu obedeço, sentindo o azedo de meu estômago vazio.

Jeff leva o garfo cheio de comida até minha boca, ele sorria, se divertindo com aquilo. Ele não me queria morta. Eu apreciava cada mastigada, para mim, era a refeição mais deliciosa que eu ja tive na vida.

Eu pude notar como sua roupa era a mesma cheia de sangue de antes e algum sangue fresco, provavelmente andou matando alguém... Seu cabelo estava bagunçado, e seus ferimentos pareciam infeccionados.

-Me deixe... - tentei falar - cuidar desses machucados. - ele iria me soltar para que eu pudesse cuidar dele. Seus olhos arregalaram.

-Eu não preciso disso - ele insistiu, com os movimentos desengonçados de um bêbado.

-Estão infeccionados. - me solte, Jeff. Pensei.

Ele considerou. Ergueu uma faca e cortou a corda que me prendia na cadeira, cortou a corda que prendia meus braços e pernas.
Levantei com dificuldade e cai em seus braços, estava fraca demais. Ele me ergue, me segurando firme e me levando escada acima.

A luz que entrava de uma janela na sala me cegava. A casa era antiga e um pouco escura, os móveis eram tão antigos quantos os tapetes e os lustres.
Ele me senta em um sofá de couro que estava rasgado de faca, e do lado haviam inúmeras garrafas de álcool, cerveja e vodka caídas e empilhadas, deixando a sala com cheiro de bebida.

Ele mexe em uma cristaleira do lado do sofá, nela guardava-se algumas taças e um kit de emergência.

-Use isso - ele me mostra o kit.

Eu o abro e está completo, tem todo tipo de instrumento, curativo, remedio, linha e agulha.

-Eu preciso esterilizar isso.

Ele pede para eu segui-lo até um banheiro, ando pelo corredor do hall de entrada de madeira escura, e encaro as costas de Jeff na minha frente enquanto eu seguro o kit com as duas mãos, ele ainda cambaleava.

No lado esquerdo do corredor tem um banheiro grande e iluminado, feito de azulejos azuis. Lá, abro o kit e lavo as mãos. Jeff tira sua roupa e vejo seu corpo pela primeira vez, ele era magro mas tinha músculos e abdômen definido. Eu o encarei por tempo demais.

-Gosta do que vê, é? - ele falou provocador.

-Calado... - murmuro.

Hesito em o tocar, mas eu disse que iria cuidar dele. Melhor do que estar naquele inferno escuro. Então, começo limpando as feridas e tirando o sangue com gaze e soro. Ele não parece se incomodar.

-Preciso queimar a ponta disso aqui - levanto um bisturi. E ele tira um isqueiro de seu bolso.

Ele confiou em mim a ponto de me deixar segurar um bisturi perto de si, de cortar-lo...? Eu podia esfaquear-lo ali e agora mesmo com a faca em minha mão. Mas eu tenho certeza que ele não morreria.

Fiz um corte atrás de seu ombro, onde ele tinha levado um tiro quando estávamos na moto, para que eu conseguisse arrancar a bala que estava alojada ali. Vi seu sangue vermelho escorrer, mas ele não emitiu nenhum som. Com a pinça esterilizada procurei a bala dentro de sua carne.

-Seja gentil - ele disse com malícia.

Estralei a língua e não mudei o jeito que eu trabalhava.

Puxei a bala que caiu no chão tilintando.

-Muito bem, Lilian. - ele disse orgulhoso. Fiz um curativo com gaze.

Fui para a parte da frente de seu corpo. E ele se sentou na pia do banheiro.

Eu sentia seus olhos em mim enquanto eu limpava sua barriga para tirar outra bala, por sorte, não atingiu um órgão vital. Eu sentia a malícia em seu olhar enquanto eu o cortava e mexia dentro de sua pele.

Dessa vez eu limpava um corte em seu braço que foi causado por uma bala que passou de raspão e ele sempre me elogiava após eu terminar algum e colocar um curativo.

Eu estava limpando suas costas que estavam com um corte enorme de alguém que o esfaqueou por trás, parecia mais recente que os outros. Iria precisar costurar.

Peguei uma linha e agulha.

-Pode doer - avisei.

-Eu prefiro assim.

Eu costurava, e ele permanecia imóvel, aquilo não o incomodava.

-Como aconteceu esse corte? - perguntei sobre o mesmo que eu costurava, queria quebrar o silêncio.

-Foi só um maluco com uma faca que tentou me matar - ele disse com certa hipocrisia.

-Hoje?

-Foi.

-Hm, faz bem ficar longe de malucos com faca - eu disse.

Ele riu da minha graça. E eu consegui sorrir com o som de sua risada.

Coloquei o curativo.

Ele não agradeceu, apenas colocou a mão no topo da minha cabeça num gesto afetuoso. E eu encarei sua boca, cortada. Ele parou de sorrir.

-Essa eu ainda quero. - se referindo a sua enorme cicatriz que ia de orelha a orelha.

My killer lover - Jeff the KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora