06 - Test

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Só depois de estar em casa e olhar para o curativo bem feito em seu joelho, Enid se sentiu arrependida pela sua reação ao saber que Wednesday teve uma esposa, e que ela era lésbica. Foi ensinada desde criança que o correto era um homem e uma mulher, ela não tinha culpa por ter aprendido assim, mas ela se sentiu mal porque a mulher não merecia ter sido atingida pelas suas palavras preconceituosas.

Enid tinha noção de que preconceito não era algo bom, aprendeu isso no colégio, e sentiu na pele, não em relação a homossexualidade, mas em relação ao seu corpo, houve um tempo que ela enfrentou problemas de distúrbios alimentares e ficou muito magra, os alunos no colégio praticavam bullying com ela, e isso a deixava pior ainda. Começou a pensar em como Wednesday havia se sentido.

- Enid, saia desse quarto, você tem que comer alguma coisa. - Sua mãe apareceu na porta do quarto.

- Estou sem fome, mãe.

- Evan logo chega do trabalho e não vai gostar de saber que não está se alimentando.

- E eu com isso? Estou cansada desse homem, da senhora, de tudo! Me deixe em paz, por favor.

- Desde quando aprendeu a falar assim comigo, sua mal criada?

- Desde que a senhora só pense nesse homem e esquece que tem uma filha que precisa de você! Eu sinto falta do meu papai, Evan disse coisas ruins sobre ele, disse que ele era um bêbado! - Enid sentiu um nó na garganta ao pronunciar tais palavras.

- Ele não mentiu Enid, eu quis te poupar disso, mas Murray nos deixou, ele era um alcoólatra e ele me batia, é isso que queria ouvir? Então está ai a verdade. - Disse e a deixou ali sozinha com aquelas palavras girando em sua cabeça.

Seu pai havia mesmo a abandonado? Ele era um viciado em bebidas? Não conseguia acreditar, sempre o procurou, sempre quis poder abraçá-lo de novo e ouvir de sua boca um bom motivo para ter ido embora. Saber que o motivo era aquilo quebrou o seu coração completamente. Sentiu vontade de ter alguém pra desabafar naquele momento, mas ela não tinha ninguém, então apenas deitou em sua cama, abraçou o travesseiro e dormiu, tentando esquecer aquelas informações que tinha recebido.


[...]



Depois de uma semana sem contato algum com Wednesday, a mais nova percebeu que sentiu a falta dela de alguma forma. Via a mulher no trem, mas como ela havia pedido, a Addams não dirigiu a palavra a ela, passava direto, nem a olhava.

Enid apenas deixou sua semana passar normalmente, indo para o mesmo lugar que ia todas as tardes, o hospital de câncer, ela fazia visitas lá, lia para criancinhas, e ao sair de lá nessa tarde ela sentiu um pesar em seu coração, a falecida mulher de Wednesday havia padecido daquela doença e ela ignorou isso e foi rude mesmo assim. Agora se sentia um ser humano horrível, talvez pudesse lidar com a diferença entre elas, sabia que Wednesday não daria em cima dela.

A caminho para a estação ela se sentiu mal, comprou uma garrafa de água e molhou o rosto, se sentiu tonta, mas tinha comido não fazia nem tanto tempo, porém, achava que a refeição não tinha feito muito bem pra ela.

Quando o trem parou e ela entrou sentou no fundo, estava decidida que falaria com Wednesday, logo chegaria na estação em que ela adentrava o trem, iria pedir desculpas por ter agido de forma errada. Mesmo que tivesse sido ensinada que ser lésbica era uma abominação, ela sabia o que era respeito, e praticaria isso. Respeitaria Wednesday e pediria perdão.

O trem parecia mais lento do que ela se lembrava, estava ficando enjoada, e ela nunca ficava enjoada, andava de trem quase todos os dias e isso nunca acontecia.

- Se sente bem, moça? - Uma senhora perguntou. - Está um pouco pálida.

- Estou bem, obrigada, é só... o trem, está me deixando enjoada.

Lifeless Eyes - Wenclair [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora