Cap 35

2 0 0
                                    

Aquele dia

~Blake On~

▪︎Um dia atrás▪︎

Respiro fundo, apertando o travesseiro em meu rosto e sentindo o cheiro dela.
Bea é tudo que tenho – além do meu pai. Na verdade, se for para ser realista, eu só tenho ela. Meu pai nunca se importou comigo. Ele vive bêbado e quase não sai de casa. De vez em quando, eu me forçava a visitá-lo para me certificar de que ele não morreu de overdose.
Mesmo ele sendo um péssimo pai, ele continua sendo o meu pai.

A única pessoa que me mantia estável era ela. Bea sempre teve um jeito diferente de me manter na linha. E hoje em dia sou eu quem tem mais juízo.
Querendo ou não, eu sou uma pessoa que sempre demonstra estar feliz, sorrindo por aí e tentando tirar sorrisos das pessoas. Bea gostava disso em mim. Ela dizia que eu era a luz da escuridão dela.

Ela sempre foi mais fechada. Com tudo. Eu achava impossível conseguir ser seu amigo e estar em seu mundo. Mas eu consegui.

E mesmo que ela tenha deixado claro várias vezes para mim que ela não criava laços e vínculos, eu estive ao seu lado. Eu estive ao seu lado em todos os momentos. Quando ela quase morreu em um confronto com um cara que devia ela. Quando ela roubava todos os dias para se manter estável e não passar fome. Quando ela quase foi presa. Quando ela negociava com traficantes, se arriscando totalmente. Quando ela ficava sem energia e eu a convidava para ficar em minha casa.

Sempre fui eu.
E agora um Eletric chefe de uma gangue, assassino e traficante vem e diz que não vai sossegar até que ela esteje em segurança com ele? Isso não está certo. Ela só está naquela merda de Palácio por conta disso tudo aqui. Se ela estivesse na vila comigo, nada disso teria acontecido.

Ele não é bom para ela.

Depois dele me mandar limpar a bagunça que ele fez, eu e Maidy demos um jeito no cadáver e no sangue do local.

Olho na direção da porta do quarto de Bea quando alguém puxa a maçaneta.

— Blake?

— Oi.

Maidy entra no quarto e fecha a porta, para logo em seguida se sentar ao meu lado na cama.

— Sabia que estaria aqui.

Ponho o travesseiro de Bea de volta na cama, ainda com ela na cabeça e me viro para Maidy.

— Por que todos vocês seguem ele? — pergunto derrepente, me referindo a Kyle.

Ela hesita um pouco, não sabendo o que falar.

— Somos família, Blake. Todos aqui estão vivos e seguros por conta dele. Ele nos salvou.

— Como assim salvou?

— Não posso falar por todos. — ela olha em meus olhos — Mas ele com certeza me salvou. — ela morde o lábio inferior e completa: — Eu tive um passado de merda.

Fico em silêncio, observando os cabelos vermelhos de Maidy amarrados para cima em um coque. Com certeza limpar uma cena de homicídio deu trabalho. Ela pode até estar acostumada, mas eu não. Nunca vou me acostumar com essas coisas.

Ela sempre me pareceu durona, uma garota forte e destemida igual Bea. Talvez ela seja muito mais do que isso.
A poucos minutos atrás, ela e Kyle pareciam ter um certo vínculo. O modo como ela tentou o orientar, exigindo seu olhar como nunca vi ninguém fazer com ele.

— Qual é sua relação com ele? — pergunto, ignorando o fato de que só fiz perguntas até agora.

— Ele é como um irmão para mim.

O Sangue do Silêncio Onde histórias criam vida. Descubra agora