Viktor Bartholy
Apalpei o espaço ao lado e dessa vez a senti. Abri os olhos e a vi dormir de costas para mim. Aconcheguei-me mais, a abraçando. Ela se remexeu e virou de frente. Admirei seu rosto tranquilo, sem nenhuma perturbação. O momento em que nos desligávamos da realidade era no momento do sono. E por um curto período de tempo.
Olhei o relógio e vi que eram quatro horas. O dia lá fora ainda estava escuro. Levantei devagar para não acordá-la. Entrei no banheiro e fechei a porta.
Uma estranha melancolia subiu a minha cabeça. Um nó se formou em minha garganta. Mesmo eu não precisando de tanto ar, minha respiração ficou descompassada. Eu me sentia preso. Um leão enjaulado. Agoniado. Estar ao lado de Isabelly significa se aventurar no desconhecido. Mas não imaginei que esse desconhecido teria meu avô por intermédio. Era um tiro no escuro. Eu não sabia o que planejava, pensava ou como agiria. Eu só aguardava sua posição. Esperava no seu tempo. A vontade que eu tinha de nesse exato momento me teletransportar para o pico de uma montanha qualquer e berrar o grito que está entalado na minha garganta era enorme. Eu só queria extravasar. Extravasar toda essa agonia que estava me assombrando. Era como se eu olhasse para os lados e não soubesse para onde ir. Eu estava perdido.
Pode ser que Isabelly não entenda a dimensão do poder de meu avô. Talvez ela não entenda o meu receio em relação a ele. Mas eu sei porquê estou tão preocupado. Ele não é qualquer vampiro. Ele não é qualquer cruel. Ele foi capaz de arrancar o coração da própria amada na frente do filho de seis anos. Foi capaz de destruir mais de vinte nações. Foi capaz de ordenar um ataque contra... Não... Pelo bem maior de todos os Bartholys eu não posso me recordar disso. O que ele permitiu que meu tio fizesse... Devo esquecer. Ele é Fernando, O cruel. Não se deve brincar com ele. E sei que disso tudo o mais afetado serei eu. Não temo por mim, pois estou preparado para enfrentar as consequências das minhas ações, mas temo por eles. As Veiga e seus maridos. A minha família. Com eles não sei do que Fernando seria capaz de fazer.
Vejo minha mão. Tremia sem meu controle. Minha respiração ainda irregular. Eu só quero que acabe logo. Ele está fazendo um jogo psicológico. Pois é com a mente que ele mais gosta de brincar.
Tento esquecer. Só... esquecer...
Entro no box e ligo o chuveiro. Deixo a água fria cair na minha pele gélida. Isso me acalentava. Lavo a minha cabeça como forma de tirar essas preocupações. Totalmente em vão. Saio e me enrolo numa toalha. Volto para o quarto e vejo Isabelly sentada.
─ Bom dia. Acordou primeiro hoje. Acordou bem?
Agachei-me em sua frente. Ela estava enrolada no lençol. Segurei suas mãos.
─ Muito bem. Obrigado por estar aqui. És o apoio que preciso.
Ela fez carinho no meu rosto e com seu simples toque fechei os olhos.
─ Eu quero acabar com a sua agonia. Te prometo que isso não vai durar mais que o necessário. Fernando e eu vamos nos encontrar. E vou garantir que ele não faça nada.
─ Não vou deixar.
─ Como? ─ perguntou confusa.
─ Não deixarei que se exponha a ele. Dele cuido eu. Chegará um dia que terei que voltar para casa e esclarecer tudo. Aí saberemos o que ele pretende. Isso se ele não vier antes. Tudo dependerá de quem agirá primeiro.
─ Não vai me deixar de lado...
─ Nesse caso sim. Deixarei você de lado. Isso é entre eu e meu avô. Você não vai se expor a ele. Isa, amor ─ a fiz me olhar ─, confie na força do seu par ideal. Ele é digno de estar ao seu lado porque é forte. Você é digna de estar ao lado dele porque é sábia. E ambos vão andar lado a lado complementando-se.
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Indomáveis - Trilogia Paixões Indomáveis - Livro I
FanfictionEla só queria viver com aquela dor que a perseguia. Viver em paz com seus irmãos, sua única família. Ele queria continuar sendo cruel, carrasco e malvado. Sem se importar com o que pensariam os demais. Viveria do jeito que o ensinaram. Como nasceu p...