Isabelly Veiga
Anoiteceu. O clima entre nós era constrangedor. Um silêncio pairava. Apesar da luz desligada ainda podia ver os detalhes do quarto. Estávamos um de costas para o outro. Prendi bem a toalha no meu corpo para que nenhuma parte minha ficasse exposta.
O senti se mexer e virar de peito para mim, abraçando-me. Fiquei estática. Sentir seu corpo protetoramente ao meu me fazia segura, sim. Mas o fato de eu estar tensa nesse momento, com medo de que encostasse em mim, gritava alerta na minha mente. Fechei os olhos e respirei fundo. Meu coração estava a mil. Meus músculos tensos.
─ Já disse que não faço nada que não queira. Não vou abusar de você. Não é como se eu fosse um desconhecido também.
Falou com a voz bem rouca no meu ouvido. O que me fez estremecer mais.
─ É que eu não sou acostumada a isso.
─ Sinto seu medo. O que deve ter é confiança e acreditar que eu não vou te fazer nada. Assim como eu tenho de você.
─ Eu sinto muito, Viktor.
Ele me virou para que o olhasse.
─ Você é tão inocente apesar de toda a sabedoria que carrega. Não se preocupe. Não sou um abusador. Se eu quisesse te fazer algo facilmente te seduziria ou te forçaria. Mas não sou depravado.
Sorri e fiz um carinho na sua barba.
─ Tudo bem. Acho que estou exagerando.
Ele passou o braço por trás da minha nuca e nos aconchegamos mais. Fechei os olhos e tentei dormir. Nesses dias foi difícil conciliar o descanso. Sempre fico em alerta e o meu sono se tornou leve. Sempre acordo no meio da noite e quando não consigo mais dormir levanto de vez. Nem durmo mais, apenas cochilo por alguns minutos.
Senti o sono vir. Realmente tê-lo ao meu lado me dava uma segurança a mais. Eu não estava só. Só de sentir sua aura que era bastante opressora, dava uma “tranquilidade” porque espantava qualquer coisa.
Coisas sem nexo surgiram no sonho. Sem pé nem cabeça como sempre. Mas teve uma parte que parecia roteirizada.
Eu estava tão feliz. Nossa casa a beira mar. Tão elegante e moderna. Paredes de vidro. Móveis luxuosos. E bem espaçosa. Ouvia ao longe várias vozes. De crianças. Sorriam alegres. Eu parecia estar na cozinha fazendo alguma coisa e a minha alegria era notável. Vi a silhueta de Viktor correndo atrás de um serzinho que não pude identificar. Era uma criança. Ele a carregou e veio até mim. Eu não via o rosto da criança. “Nosso filho está contente hoje”, ele falou. Logo vi mais crianças correrem. Dois já grandes. Era tudo um borrão. Não podia vê-los. Nem o rosto de Viktor. Mas a sensação de alegria que me passava era tão boa. “São nossos filhos. Estou tão feliz por ter vocês”, falei. Ele me abraçou e logo todos vieram me abraçar. Eram cerca de seis crianças. Duas grandes, duas de uns oito anos e mais duas menores.
Acordei com um barulho. Abri os olhos lentamente. Pareceu tão real. Olhei ao redor e uma melancolia se engatou na minha garganta. Fiquei com vontade de chorar. Viktor se vestia e não prestava atenção em mim. Sentei na cama e o observei. Não era justo. Por que esse sonho não podia se tornar realidade? Eu queria tanto aquelas crianças.
E sem perceber eu já estava chorando.
Maldita Red Corp que tirou tudo de mim. Minha família, a possibilidade de eu construir a minha família, minha vida humana, tudo! O dono dela... Dr. Isaac Rowland. Meu... pai. Ele tirou tudo de mim. Por que eu tive que aceitar trabalhar com ele acreditando na sua boa fé? Criar medicinas que ajudassem em tratamentos dolorosos? Baboseira. Ele me fez acreditar que a empresa era limpa. Mas com o tempo descobri que até o governo ela controlava. O mercado negro era seu principal cliente. E ele me fez fazer o vírus M e suas variantes para lucrar em cima da vida de outras pessoas. Além de me usar e usar a minha família como cobaia. No dia que descobriu o sobrenatural, eu não soube. Por sua conta criou a variante do vírus e usou em mim e em meus irmãos. Ele queria chegar no ápice da evolução humana. E pelo visto conseguiu. Felizmente não pôde comprovar isso. Porque eu... Eu o matei antes que pudesse se vangloriar com a sua criação.
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Indomáveis - Trilogia Paixões Indomáveis - Livro I
FanficEla só queria viver com aquela dor que a perseguia. Viver em paz com seus irmãos, sua única família. Ele queria continuar sendo cruel, carrasco e malvado. Sem se importar com o que pensariam os demais. Viveria do jeito que o ensinaram. Como nasceu p...