93 • O orgulho de Fernando

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Viktor Bartholy

        Isabelly não queria deixar eu ir. Foi difícil convencê-la. Mas no final aceitou. E com meu teletransporte fui onde deduzi que Fernando estaria. Não o perdoei. Mas eu tinha a necessidade de fazer isso. Eu precisava encontrá-lo pessoalmente.

          E lá estava aquela bela casa imponente. À beira mar. Localizada num dos lugares mais belos do mundo. As Bahamas. A mansão que ficava em nossa ilha particular era de se encher os olhos. Belíssima, com enormes janelas de vidro e uma piscina de borda infinita, que se misturava com a água cristalina do mar.

         "Belo lugar para se esconder, avô."

          Fernando amava este lugar. Quando queria passar um tempo sozinho ou com a família era para cá que vinha. E ao chegar, já pude sentir sua aura. Ela me engoliu sombriamente. Estava fria, amarga e muito melancólica.

          Foi difícil decidir entrar, mas cedi.

          A sala estava vazia. O sentia no andar dos quartos. Uma sonata era ouvida pela casa. As teclas do piano pareciam doídas. Subi e de onde ouvi a música, entrei.

           Lá estava ele. Tocando piano. Vestido apenas com um robe vermelho de cetim e uma calça moletom. Jogado. A barba sem aparar. Descabelado.

         ─ Surpreende-me sua vinda. Pensei que me esqueceu. Não me perdoou.

         ─ Não te perdoei e te esqueci. Mas aqui estou. Diante de ti.

         Ele não me olhava. Mirava as teclas do piano.

         ─ Então o que quer? Me castigar mais?

         Sorri de lado. Ergui uma sobrancelha.

        ─ Castigar mais? Acha que teve punição o suficiente? Não, Fernando. Nem mil anos de sofrimento para ti será o suficiente.

        ─ Me julga como se nunca tivesse feito o mesmo. Hipócrita. Quantos matou? Quanta maldade fez? Foi minha culpa? Ou por que quis?

         Aliviei a expressão. Culpado. Ele tinha razão. Eu fiz muita maldade porque quis. Ele não era culpado por minhas ações.

         ─ Tem razão. Sou cruel. Assim como você. Afinal, sou seu reflexo, não?

         Sentei na poltrona em frente, não deixando de vê-lo. Olhar o homem que a vida toda foi minha inspiração, e agora se torna minha maior decepção, dá-me uma angústia profunda. Como ele foi capaz de chegar a tanto?

         ─ Quero seus motivos. Por que fazer tudo aquilo? Por que me machucar daquela forma? As Veiga... Elas não foram o verdadeiro motivo. Foram um pretexto. Então me diz. Por quê?

         Eu estava atento em sua resposta. Ele mantinha o olhar sobre as teclas. Tinha tristeza no semblante.

         Por fim, respirou fundo...

         ─ Por que eu não queria que você visse o lado bom das coisas. Você, no fundo é alguém capaz de enxergar e separar as coisas. Alguém com a capacidade de decidir entre o bem e o mal. Te fiz para ser meu reflexo. Meu eu. Não queria que se decepcionasse caso fosse para o lado do bem. Porque nesse lado só há sofrimento. Mas sua noiva, Isabelly, trouxe isso para você. Percebi que ela o havia mudado quando se juntou ao rei para resgatar os Bartholys dos Beaumont. Na minha concepção, se você decidisse ser benevolente, traria a ruína à família. Seria capaz de reparar todos os nossos erros. Porque você sempre teve essa capacidade, Viktor. Seria capaz de revelar a verdade sobre Yuki. Por isso te vigiei tanto. E vendo agora ─ olhou-me ─ percebo que fui tolo. Você nunca precisou de mim para moldá-lo. Te condicionei à minha maneira. Mas você não precisava disso. Porque é capaz de sempre decidir o que é melhor. Você é um líder nato. Nasceu para tomar decisões difíceis e sempre saber qual é a melhor opção.

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