Só me deixe te abraçar

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[Marilia POV]

— Eu estou aqui, Maraisa.

Sussurrei ao acariciar o rosto de Maraisa, vivenciando a brandura de sua pele entre meus dedos. Não pude explicar o que senti quando entrei por aquela porta e contemplei seu estado emocional aflorado. Só agi da maneira como meu coração pedia.

Ali, diante de mim, eu não via a Maraisa Pereira que encontrava nas manhãs de trabalho. Não era a Maraisa que ditava ordens, mandava e desmandava de forma única em sua empresa. Não era a mulher sagaz que eu tinha que lidar no meu ambiente de trabalho e nem a que me assustava com suas atitudes tão seguras e decididas.

Ali, diante dos meus olhos, eu vislumbrava apenas a Maraisa, livre da máscara que carrega no cotidiano em semblante sisudo. Uma Maraisa em seu estado de vulnerabilidade que, sinceramente, jamais imaginei presenciar. E agora, ao contemplá-la em sua solidão, conheci um novo lado dessa mulher que me perturbou a mente, desde que meus olhos caíram sobre ela.

Diante de tal situação eu não poderia e nem ficaria inerte. Suas palavras adentraram em meu cérebro e em meu coração. Mais que qualquer outra pessoa, eu sabia como era se sentir só. Como era acordar e dormir sem ter um abraço ou beijo de boa noite ou, unicamente, para me dizer o que era certo ou errado.

Nunca tive, desde os meus dez anos, alguém que perguntasse se eu estava bem, que se importasse em ouvir minha resposta, não apenas por mera educação. Então, naquele instante, percebi que Maraisa Pereira e eu tínhamos isso em comum: a solidão como companheira escondida por trás de nossos olhos.

Maraisa se encontrava com os olhos cerrados, enquanto eu acariciava seu rosto com o polegar, secando aquela lágrima que a vi derramar. Observei cada detalhe e guardei em minha mente cada trejeito. Ela parecia apreciar meu toque em sua face, tanto, que balbuciou meu nome. Pela primeira vez, ela tinha se referido a mim de uma maneira menos formal, só pelo primeiro nome, um ato que me fez sentir como se mil borboletas fizessem festa no meu estomago.

Me enchi de coragem e me aproximei mais da morena à minha frente, abaixei meus olhos até seus lábios tão convidativos. Sim, eu senti vontade de beijá-la. Mas eu jamais me aproveitaria da debilidade de Maraisa para satisfazer minha vontade. Talvez em outra situação, eu poderia fazê-lo, mas não, não naquele momento.

Eu só queria transmitir conforto àquela mulher. Não fazia ideia do motivo de sua dor, mas qualquer que fossem não me importava, eu precisava fazer com que ela sentisse que não estava só. Então, em uma fração de segundos, sem medir consequências e sem saber se seria correspondida, a envolvi em um acolhedor e sincero abraço.

[Maraisa POV]

Quando percebi o que acontecia entre a senhorita Mendonça e eu, senti meu corpo gelar. Por que ela estava fazendo aquilo? Por que eu estava permitindo aquilo? Então, tomada de uma sensação não identificada, com os batimentos um pouco acelerados, proferi algumas palavras:

— O que está fazendo, senhorita Mendonça? — Murmurei, sem desfazer aquele contato.

— Shi... não diga nada. Por favor, só me deixe te abraçar. — Ela respondeu. Eu não entendi o motivo, mas não me neguei ao seu pedido.

Ali estava eu, Maraisa Pereira, envolta nos braços de Marilia Mendonça. Sei que não deveria ter evidenciado meu estado frágil momentâneo. Disse para mim mesma que eu deveria me manter longe da loira, mas não consegui repudiá-la desde o instante em que senti o toque seu em meu rosto. Sim, aquilo tudo era um disparate, por parte daquela mulher, e disparate maior de minha parte por permitir tamanha aproximação. Porém, minha ação impulsiva, foi abarcar sua cintura enquanto eu era apertada por ela. Me deixei ser totalmente embalada pelo abraço cálido de Marilia, que me remeteu a uma sensação há muito não desfrutada, de segurança, conforto e paz.

Quando Você Me Olha nos OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora