Bem-vinda, Mendonça.

586 78 30
                                    

Mudanças, na maioria das vezes, geram desconforto e dificuldade de aceitação. Isso porque, ao longo da vida, o ser humano habituou-se a adotar uma postura de se acostumar ao que é cômodo. Quando as circunstâncias exigem tal atitude, num primeiro momento, pode desencadear conflitos internos, pois, dificilmente sabemos lidar, de modo satisfatório, com grandes mudanças em nossas vidas. O medo do desconhecido assola. Sair da zona de conforto é uma árdua tarefa. Com Marilia Mendonça não era diferente, ela havia passado por todas essas etapas. Ponderou os prós e contras do que uma mudança acarretaria sua pacata vida. Por esse motivo, ela estava nesse momento, diante de Maiara Pereira.

— Por favor, senhorita Mendonça, sente-se. — Maiara apontou para o assento posicionado à sua frente  — Senhorita, senhora?

—  Senhorita. Obrigada! —  A arquiteta respondeu à curiosidade da mulher, antes de sentar-se.

—  Marilia Mendonça, cursou arquitetura pela Boston University. Estagiou em uma grande empresa onde foi efetivada após se formar, a Dallas Constrution, uma das melhores de Boston diga-se de passagem. Permaneceu na mesma durante quatro anos, foi promovida duas vezes nesse tempo, chegando ao cargo de coordenadora da equipe de arquitetura. E há 4 meses pediu demissão. —  Maiara finalizou a leitura do currículo da arquiteta, a encarando um tanto admirada. —  Marilia? Eu estou impressionada com seu currículo. Acredite, você é exatamente o que eu preciso. —  Pigarreou se ajeitando na cadeira —  O que a Pereira necessita, mas se me permite perguntar: por que deixar a Dallas, algo tão certo, e se arriscar em Nova York?

Talvez essa resposta nem Marilia havia encontrado em si ainda, o que ela sabia é que não se sentia mais realizada naquele lugar.

—  Bem, senhorita Pereira, eu... — Antes de continuar a voz da ruiva a corta.

— Maiara, por favor. Me chame de Maiara, certo? — A mulher ruiva solicitou, gentilmente.

—  Está bem. — Marilia sorriu, para a simpatia daquela  —  Maiara, certas vezes a vida nos coloca diante de situações que nos levam a fazer escolhas, então, ponderamos. No fim, temos que  tomar uma decisão. Podemos ir em busca daquilo que acreditamos que nos trará plenitude, seja pessoal, profissional, ou permanecemos fincados no mesmo lugar, acomodados na nossa zona de conforto. Sem riscos, sem fracassos.  — A loira gesticulava suas verdades sobre os motivos de ter deixado seu antigo emprego e Maiara a ouvia atentamente e a arquiteta não poderia perder essa oportunidade — Eu gosto de liberdade nas minhas criações, Maiara. E o real motivo de ter deixado  o meu antigo emprego é que eu preciso sair da zona de conforto.  E é exatamente por isso que eu estou aqui hoje; por acreditar que a construtora Pereira pode me fazer ultrapassar os meus limites e me proporcionar a plenitude que eu procuro e que eu não mais encontrava ao trabalhar na Dallas.

Por um momento, as palavras de Marilia fizeram Maiara pensar em Maraisa. Nas escolhas que outrora a irmã fizera, se preparava para responder, mas uma batida na porta a interrompeu.

—  Pode entrar, Marcela. —  Observa a secretaria abrir a porta com a bandeja de café.

—  Os cafés, senhorita. —  Marcela serve as mulheres e aproveitou o momento para fazer um comunicado à chefe.  —  O Senhor Mioto está na sala de espera a aguardando.

—  Gustavo está aqui? Não lembro de ter marcado nada com ele. Marcela, diga que estou em uma entrevista de extrema importância, não posso atendê-lo agora. Mas, assim que terminar com Marilia, o receberei. Claro, se ele quiser esperar. 

—  O avisarei, senhorita Maiara.   Deseja mais alguma coisa? —  Perguntou, solicita.

—  Não, é só isso. Obrigada, Marcela! —  Assim que sua secretária se retirou, a ruiva retornou para a entrevista  —  Desculpe a interrupção, Marilia.

Quando Você Me Olha nos OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora