Diga o seu preço

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Marília sentia-se como um condenado a caminho da guilhotina e Almira seria seu carrasco. A loira ainda se recordava do choque momentâneo, ao ver a sogra na portaria de seu edifício. Seu choque só não foi maior do que o de receber um convite de Almira para um café, quando Marilia sugeriu subirem para seu apartamento. Alguns minutos depois, chegaram a um finíssimo bistrô, escolhido pela matriarca, que alegou ser discreto e que se sentiriam mais à vontade.

Sentadas em uma mesa mais afastada, uma de frente para a outra, pediram dois cafés; Almira um café expresso, e Marilia um cappuccino com creme. A atmosfera era tensa, a loira esperava que a mulher falasse logo o que queria, mas Almira parecia se divertir com o nervosismo e impaciência da loira, que se remexia na cadeira, os cafés chegaram e Almira, pacientemente, deu um gole no seu, fitando Marilia, e finalmente quebrando o silêncio.

– Você deve estar se perguntando o meu motivo para procurá-la, Srta. Mendonça! – Novamente, Almira levou a xícara à boca.

– Na verdade, Senhora Pereira, eu imagino que o seu motivo para me procurar tenha nome: Maraisa. – Marilia, rebate.

– O relacionamento de vocês, para ser mais específica! – Almira enfatiza.

– Posso até entender sua preocupação, Almira. Talvez pense que eu não seja a pessoa certa para Maraisa, mas eu posso lhe garantir que...

– Sabe, Srta Mendonça... – Almira a interrompe. – Se algum dia pretende ser mãe, há uma importante lição que posso compartilhar com você, é o que significa ser uma boa mãe: sempre terá que fazer o que é melhor para os seus filhos. – Fala incisiva.

– Eu estou certa que sim... – Marilia fala, compreensiva. – Mas acredito que Maraisa já é adulta e sabe o que é melhor para si...

– Acredito que esteja equivocada! – Almira a corta, em um tom mais sisudo. – Maraisa não sabe o que é melhor para ela, mas eu, que sou a mãe dela, sim. E tenho a certeza, que minha filha merece mais que uma simples arquiteta criada por freiras. – Almira cospe as palavras e Marilia enrijece.

– O que acha que sabe sobre mim, senhora? – A loira franziu o cenho.

– Absolutamente tudo! – Informa, encarando a loira com desdém. – E é por saber da sua trajetória um tanto trágica, mas que no fundo carrega a ambição de ser algo a mais, que me atrevo a perguntar: – Almira mexe em sua bolsa, tira o talão de cheques e coloca sobre a mesa. – Quanto? – Ergue os olhos para encarar Marilia.

– Acho que não entendi? – Marilia arregala os olhos, confusa.

– Sei que entendeu, Srta. Mendonça, mas se quer que eu repita, o farei: diga seu preço, para acabar de uma vez por todas com esse romance estapafúrdio com minha filha, e desaparecer da vida dela. – Almira completa, friamente.

A mente de Marilia ainda não havia processado as palavras de Almira, a loira não acreditava que a mulher à sua frente estava atribuindo valores a seu amor por Maraisa, que a estavam tentando comprá-la de maneira tão torpe. Para a loira, o que sentia por Maraisa, tinha proporções inestimáveis, portanto, nem todo dinheiro do mundo, teria valor diante daquele sentimento.

– O que está pensando que eu sou, senhora? – Marilia disse, aumentando o tom de voz. – Acha que seu dinheiro pode comprar meu caráter, meu amor por sua filha? – A loira conclui, com a voz embargada e os olhos marejados.

– Eu já fui como você, Marilia, e sei que tudo tem um preço! Portanto, não se faça de ofendida. – Almira desliza sobre a mesa, para perto de Marilia, um cheque já preenchido. – Creio que isso, seja o suficiente para você viver por muitos anos, uma vida muito melhor do que tem hoje, porém, bem longe da minha filha!

Quando Você Me Olha nos OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora