Capítulo XXVII • Lábios

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[ 23:18 P.M. ]
| Na cozinha do AP |

Liah: você só pode estar de sacanagem comigo! ― repito com mais ênfase na voz, mas nem mesmo se gritasse Bakugou olharia para mim. ― você está maluco, ou o quê?!

Antes que ele enchesse mais uma vez aquele copo com o maldito do Whisky ― que eu ainda não faço a mínima ideia de onde ele arranjou ―, retirei a garrafa das suas mãos e o próprio copo do seu alcance.

Liah: já deu dessa besteira! ― exclamo, lançando todo aquele líquido amarronzado direto no ralo da pia. ― JÁ DEU!

Bakugou: ei... Não. ― tenta me impedir com aquela sua voz embriadaga, que em poucos minutos se tornou ainda mais vagarosa e enrolada. ― p*rra, Liah!

Liah: "p*rra" é o cacet*, falou?! Eu já estou cansada dessa merda de bebedeira! Que coisa mais ridícula! ― lavo aquele copo rapidamente e lanço a garrafa no lixo, com todo o prazer. ― você não enxerga o quanto está sendo estúpido hoje? Ou melhor, em todos esses dias atrás? Você não vê, Bakugou?

Ele não me respondeu. Apenas se calou e levou as mãos ao rosto. Depois, aos cabelos e à nuca.

Parecia realmente fora de si, sem qualquer noção do que estava fazendo e eu, com essa merda de coração molenga, não consegui me manter mais com aquela faceta de inabalável e imparável. Me aproximei da cadeira vaga ao lado da sua e me sentei ali, com os antebraços postos sobre a mesa.

Eu também estava como ele. Não embriagada, é claro, mas perdida. Sem noção do que estava fazendo. Desde aquele almoço na casa dos meus pais. Desde o que rolou naquele carro. Desde o que não disse e o que não fiz naquela maldita hora.

Somos dois perdidos. Um que desconta seus problemas na bebida e outro que apenas resguarda no peito, para sofrer à noite, debaixo do edredom.
Dois idiotas ridículos, na verdade.

Liah: Bakugou... Me escuta. ― afasto uma mecha de cabelo do meu rosto, um tanto nervosa e sem saber o que dizer ao certo. ― nós... nós somos dois teimosos, falou? E dois teimosos não dão certo, contando que nenhum ceda, entende? Um de nós precisa ceder, apenas para manter uma boa relação aqui. ― ele continua da mesma forma, de cabeça baixa, com os nós dos dedos brancos por apertar tanto sua nuca. ― Zaya vai passar alguns dias conosco e... e eu não quero que ela nos veja assim. Fica chato, sabe? Argh! Eu nem sei o que estou falando.

A única coisa que quero é me resolver com ele. Entender o seu lado, e torcer para que ele entenda o meu.

Poxa, só agora que as coisas estão REALMENTE entrando nos seus eixos e... e eu até entendo que a Liah do passado teve algo sério com ele, só que... essa Liah não sou eu. Não mais.

Eu mudei, embora não quisesse mudar. Eu perdi a memória e não sinto mais nada de "amoroso", ou que reflita o amor em si, pelo Katsuki e... e está totalmente fora da minha ética fingir que no meu lado da relação existe algo igualitário ao do outro. Um amor de cinema, comovente e inabalável.
Não rola, p*rra.

Bakugou: eu te amo. ― as palavras saem naturalmente da sua boca, causando-me um misto de estranheza, surpresa e medo. Medo do que vai nos acontecer agora. ― eu te amo, Liah. P*ta merda, eu sempre te amei! Eu te amo mais do que tudo nessa desgraça de mundo!

Eu continuei paralisada desde o primeiro "eu te amo" da parte dele. Não esperava tamanha declaração. Nunca poderia esperar algo assim dele.

Eu te amo, Liah!
Eu sempre te amei!
Eu te amo mais do que tudo nessa desgraça de mundo!

De Repente, Você. (O Reencontro)Onde histórias criam vida. Descubra agora