Capítulo XXXV • Cozinha

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~ 19 de Março ~
~ Domingo ~

Já faz três dias que eu, meu pai, minha madrasta e Zaya nos mudamos para esse esconderijo, organizado pelos próprios heróis para nossa extrema proteção.

Não é de todo ruim, há até uma loja de roupas acima, mas ainda é insuportável não ter nada de interessante para se fazer.

Eu me lembro de quando passei aqueles tempos no esconderijo, ainda no Rio de Janeiro, e o sentimento vivendo em um, mas aqui em Vitória, é o mesmo.

Queria poder sair, me divertir, divertir Zaya e meus pais, como uma família sem problemas externos e que nos afetam, mas colocar essa máscara e fingir que está tudo bem seria estúpido demais. Falso demais.

Até agora, não ouvi nenhum deles reclamar, nem mesmo Zaya, uma criança que detesta rotina monótona, e isso me frusta.

Será que só eu estou me sentindo sufocada aqui dentro?
Será que o problema está apenas me afetando?
Ou... mais um sintoma de uma gravidez indesejada é se sentir na mais pura e arenosa merda?

Ah, a gravidez indesejada.
Quando acho que a esqueci, algo me apunhá-la por trás e eu sinto aquilo dentro de mim de novo. Claro, não se passou nem uma semana para esse bebê crescer exponencialmente, mas parece que agora que estou ciente de sua existência tudo o que faço, e até o que deixo de fazer, me leva a pensar nele. Me leva a sentir ele. Sentir sua presença.

É horrível. Ainda mais quando se tem apenas uma pessoa para compartilhar suas frustrações com relação à essa criança. Eu só tenho uma opinião, e eu odeio que ela seja sempre para o lado positivo, embora quem a declare seja 90% do dia negativo.

Eu sei, preciso sair desse buraco. Mas, como?

[ 21:58 P.M. ]
| Cozinha do esconderijo |

Por ser domingo, meus pais decidiram que o jantar seria "diferente". Estava tudo delicioso e eu com certeza repetiria a dose, se não fosse eu a ficar com a secagem das louças. De todas as milhares de louças.

Madrasta: está tudo muito silencioso, não acha? ― eu nem tenho tempo de comentar, pois ela logo se vira para meu pai, que colocava as últimas louças na pia. ― amor, você viu a Zaya?

Pai: vi, sim. Ela está com o Bakugou. Desenhando. ― um sorriso resplandece em meu rosto, de maneira automática. ― ela gosta muito dele. Nunca vi igual.

Madrasta: ah, isso é ótimo para ela. ― me entrega mais um prato e eu o pego, para secar. ― Bakugou sempre mostrou ser muito atencioso, embora sua paciência seja um pouco... limitada. Mas... pelo o que parece, para certas pessoas a paciência dele não tem fim e nem se gasta. Não é mesmo, Liah?

Eu a olhei, um tanto surpresa, sem saber porquê me puxou para esse assunto. Mas, é claro que eu sei o porquê, basta apenas olhar o que está refletido nos olhos de ambos e você entende facilmente.

Liah: estamos nos resolvendo, se querem saber. De pouco em pouco, mas estamos. ― Agatha comemora e meu pai apenas sorri, um sorriso que diz mais do que palavras. ― quando me lembrei do meu passado, eu recordei dos meus sentimentos também e... tudo ficou mais fácil a partir daí. Até mesmo... me apaixonar por ele. De novo.

Madrasta: ah, eu super apoio! Além de formarem um casal lindo, sei que ele fará muito bem à você, minha filha. ― sela minha bochecha e eu sorrio, com meu rosto quente.

Pai: sua madrasta tem razão, Liah. ― afirma e também me beija na bochecha, com o mesmo carinho que ela. ― Bakugou realmente mostrou que merece você, meu bem.

De Repente, Você. (O Reencontro)Onde histórias criam vida. Descubra agora