G A E L
Observo a minha mulher dormir e respiro fundo me aproximando da varanda grande do meu quarto. Tenho a visão inteira da minha favela. Totalmente iluminada.
Ver essa favela desse modo tão amplo é como reviver o meu passado. Quando eu cheguei aqui, fodido, metido com bandido filho da puta e completamente perdido. Eu me sinto culpado pra caralho por ter escolhido essa vida. Quem diria? Da Suíça para o Complexo da Pedreira, Rio de Janeiro. Eu não vou menosprezar o lugar que eu vivo, 'tá ligado? Não posso fazer isso, seria covardia e uma má educação do caralho, eu não sou um cuzão a esse ponto.
Acontece que eu só descobri o meu verdadeiro lar quando eu vi uma preta gostosa se aproximar de mim com a porra de um trambolho nas mãos e os olhos assustados. Me lembro exatamente como foi e o que a minha mente pensou naquele momento.
"[...] Que dor do caralho! Me arrasto com uma mão suportando todo o peso do meu corpo enquanto a outra está sobre o ferimento, tentando segurar esse sangue da porra. Respiro fundo quando me encosto na ilha da cozinha da casa que eu invadi, por ser a única com a porta dos fundos aberta e fecho os olhos tentando pensar em alguma coisa que eu posso fazer para estancar essa porra.
Procuro com os olhos e visão meio turva, algum pano e levanto o braço sentindo uma dor insuportável subir no meu corpo e gelar o meu sangue. Minha mão procura algo em cima da bancada e acabo encontrando um pano de louças, mas acabo derrubando alguma coisa no chão.
- Sangue do caralho! - Esbravejo desejando a morte. A fúria da vingança chega em minhas têmporas e isso aumenta a minha dor de cabeça, puta que o pariu!
Mesmo desnorteado, eu ouço passos cautelosos se aproximarem de mim e um cheiro doce preenche o ambiente, junto com o cheiro de sangue. Murmúrios são ouvidos e aperto os olhos quando sinto a dor se intensificar.
Quando abro os olhos, tenho a visão de pernas torneadas e pretas ao longe de mim. Minha visão horrível não me permite ver mais e quando subo o olhar tenho a visão de uma luz branca. É isso, morri e por algum engano do caralho, vim para o céu.
A dor me atinge com mais força e eu não consigo segurar o rosnado que sai da minha boca, como a porra de um pedido animalesco. Assim percebo que não estou no caralho do céu.
- Seria muito útil da sua parte, se você viesse me ajudar ao invés de ficar parada aí, como uma estátua!
Eu perco todas as lembranças a partir desse momento, mas a única coisa que eu lembro é de ser abençoado por uma preta muito da gostosa. Quando eu olhei aquele monumento à minha frente, tive certeza, ela seria minha. [...]"
É justamente por causa dessa preta, que eu estou pensando a um tempo já de largar tudo. A porra toda pela minha mulher. Eu entrei nessa porra porque não tinha nada a perder e o meu objetivo era reformar essa favela da melhor forma para quem precisa. Mandei a porra toda para a puta que o pariu diversas vezes, sem me importar em voltar vivo ou não e era uma sensação de libertação fora do comum.
Mas agora porra, eu tenho uma vida. Uma mulher que eu preciso proteger de tudo quanto é caralho nessa vida e a servi-la a vida inteira. Ela não pode passar pela porra de um perigo sempre que algum bastardo de merda chegar e achar que pode me 'peitar. Não irei permitir essa porra nunca!
Pela Starr, eu luto contra o Diabo e peço perdão a Deus de joelhos, apenas para que ela fique bem e fora do alcance de qualquer perigo que for. Com esse pensamento, eu irei negociar qualquer trabalho meu e dar uma vida digna a minha mulher. Minha preta.
Com essa porra atrás de mim, o alvo certeiro é a Starr. Irei resolver do meu jeito, com bala em todo mundo e sumir no mundo com a minha preta rara.
Meu pescoço gira e volto a olhar a Starr dormindo calmamente, mesmo com toda a tensão do dia. Me aproximo da minha mulher, sento na cama e pego em sua mão com o anel de noivado que lhe dei.
- Eu vou te proteger, pretinha. Nem que para isso, eu tenha que me sacrificar.
[•••]
Cabelinho me olha assustado e eu me ajeito na cadeira.
- Olha... - Começa - Eu não sei que chá foi esse que a patroa te deu, mas a bicha arrasou em? - Cabelinho solta uma risada e eu o acompanho balançando a cabeça.
- Você iria ficar com tudo, Victor - Nossos olhos se encontram seriamente - Status, dinheiro, renda da favela e o mais novo dono do morro.
Cabelinho me olha por breves segundos e caminha até a grande janela que eu tenho no meu escritório, na boca mesmo. O mesmo observa a minha favela e cruza os braços.
- Desde a Bella, eu já pensava em uma vida, 'saca? - Murmura - Uma vida fora disso tudo com a minha morena do lado.
Solto uma risada desacreditada. Fomos amarrados pelas bolas mesmo.
- Você era o único, o qual eu daria a minha favela em suas mãos.
- Mas eu não seria como você, patrão, ninguém nunca irá ser.
Suas palavras chegam aos meus ouvidos e eu respiro fundo, pensando se estou fazendo a escolha certa. No momento, a minha escolha é e sempre será a Starr. Eu não tenho dúvidas disso e mesmo que seja triste 'pra caralho, eu terei que deixar a minha favela de lado.
- Cabelinho, eu quero que você encontre alguém de total confiança que seja responsável por tudo que eu construí, 'fecho? Não vou ser o filho da puta que irá te privar de correr atrás do seu trampo - Victor Hugo assente.
- Vamos sair dessa porra, patrão!
Ouço batidas na porta e mando entrar. Xamã passa pela madeira com papéis nas mãos e se aproxima de mim.
- Aqui, L7 - Deixa essas porras na minha mesa e eu as pego - A ficha do sujeito e tudo que precisamos para esse sábado.
O sujeito, nada mais é do que o meu sogro. O filho da puta que pensou que poderia me trair, mas esqueceu que o burraco é mais embaixo e eu tenho controle de tudo que envolve a Starr.
Descobri antes mesmo daquela porra chegar a minha casa e inventar aquele show todo. A história realmente aconteceu, mas não foi com o Maverick saindo como vítima. Meus pais são manipuladores pra caralho, mas se eu conheço alguém mais ambiciosos que os mesmos, é Maverick Castro.
- Acreditou nele, ao menos algum minuto? - Cabelinho pergunta e Chefin chega na sala.
- Nem por um momento sequer, mas a minha mulher sim.
- Ele é o pai dela - Chefin diz e eu balanço a cabeça. O mesmo se aproxima e deixa uma ficha de ervas extremamente conhecidas e perigosas - São substâncias perigosas, mais sutis, quem ingere, não sente nem o gosto diferente. Tem efeito progressivo, ou seja, quanto mais ingerir, maior serão os resultados e o possível envenenamento fatal.
Ordenei por essa pesquisa, quando a Starr me contou sobre o possível plano de Maverick de batizar a minha mulher.
- Você não irá fazer igual fez com a mãe de Starr, Maverick - Murmuro lendo os documentos.
- O calvo usou essas "ervas" com a mãe da patroa?
- Sim. Maverick a matou lentamente e tentou fazer o mesmo com a minha mulher.
- O meu pai... - Meus olhos travam quando ouço a voz doce e trêmula da minha preta - Matou a minha mãe, Gael?! É isso que você está dizendo?! Me responde! - Seus olhos transbordam lágrimas e a mesma respira pesadamente - Ele... Ele... Destruiu a melhor coisa que eu tive durante a minha vida inteira.
Caminho rapidamente até a minha mulher e a abraço apertado.
[•••]
gente... NEM EU ESPERAVA ISSO, MISERICÓRDIA.
a coitada da Starr só sofre, pai amado-
EU DISSE QUE AS REVELAÇOES IRIAM VIR EM PESO!
quero deixar bem claro que eu não pago terapia de ninguém (não estou pagando nem a minha).
Gael deixando o mundo do crime pela Starr, é a minha nova religião.
AMO VOCÊS!
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Preta Rara
RomanceNÃO PERMITO ADAPTAÇÕES DESTA HISTÓRIA. - "E todo mundo tá' ligado que ela é a minha de fé, ai de quem cometer o pecado de cobiça a minha mulher." - Gael. Starr Castro já imaginava que a sua mudança para o Complexo da Pedreira, seria algo que mudaria...