Capítulo Dezesseis | "Do Jeito que Machuca."

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G A E L

Gabriella me olha como se eu fosse alguma assombração, penso até que os seus olhos vão sair do seu rosto. De certa forma, eu sou mesmo, a porra de uma assombração que está louco para ir perturba-la novamente.

— Ga-Gael…

— O próprio — Sorrio de canto — Mas para você é L7, 'morô?

Seus olhos de puro desespero e sua feição de confusão, me divertem. Olho de relance para a minha mulher que me olha em confusão, mas no caso da Starr, quem fica preocupado sou eu, pois eu sei que eu vou ouvir e seria praticamente obrigado por essa preta a colocar todas as cartas na mesa.

Não é questão de confiança, nunca foi. Eu confio cegamente na Starr, mas esse é um passado que eu não gosto e nem quero relembrar. Minha vida antes da minha favelada, é um acaso para mim e nem faz diferença na porra da minha vida.

Só digo um 'bagulho, a vida me mostrou que se até a família vira as costas para você, não espere nada de mais ninguém. Quando você pensa que está rodeado de amigos, o mundo fodido vem te mostrar que a porra dos seus parceiros não passam de um bonde de almas compradas e vazias.

— Eu não sou mais responsável pelo seu marido — Starr se pronuncia após o momento de silêncio entre eu e a Gabriella. A mesma me olha em choque e eu apenas sorrio — Então, procure o diretor do hospital para falar sobre o seu caso, tenha uma boa noite.

Minha mulher segura em meu ombro, já que estou em sua frente e nós nos olhamos. Olhos lindos do caralho! Com esse olhar, eu me sinto paralisado. É como se eu estivesse sob a pior das drogas e porra, como eu gosto dessa droga.

Seus olhos são um aviso claro para eu entrar no carro. Olho uma última vez para a Gabriella, minha irmã mais nova, lhe mostro os meus dentes e caminho até a porta do motorista, a deixando plantada.

[•••]

— Oi, querida — Martha a cumprimenta quando a Starr entra em casa e eu logo a sigo, fechando a porta atrás de mim.

— Oi Martha, como está? — Minha mulher muito educada como sempre, a questiona com um sorriso fraco.

— Muito bem, filha.

— Martha, nos deixa sozinhos.

A mais velha me olha em puro questionamento e eu a olho duro, mostrando que não estou para brincadeiras neste momento. A mesma entende e logo se retira.

— A única coisa que eu pedi para você, foi para que não me deixasse no escuro e mesmo assim, você fez — Começa dizendo e eu bufo tirando a minha camisa, a jogando em algum canto. Arrumo o meu boné e sento no sofá, de modo preguiçoso — Não vai falar nada? — Starr cruza os braços, com uma pose séria e mandona, que a deixa ainda mais gostosa e eu deixo os meus braços no encosto do sofá, me aconchegando ainda mais ao conforto branco — Gael…

— Eu era um fodido de merda — A mesma para de falar enquanto eu começo a dizer, sem olhá-la — Não que eu não seja, mas na adolescência, eu arrebentava nas cagadas, uma pior que a outra — Solto uma risada no final da frase — E a pior de todas, sem dúvidas, foi ter me metido nas drogas, drogas pesadas e além disso ser fodido o suficiente, eu ainda inventei de revender essa porra — Balanço a cabeça em sinal de negação com um sorriso fraco — Péssima escolha.

— Escolha, Gael? — Starr questiona se aproximando de mim, ainda com o seu olhar sério.

— Preta, a maioria dos pretos que se envolvem no tráfico, são por necessidade, porque eles precisam trazer o sustento para casa, dar de comer aos irmãos, mãe e o sistema não os ajuda com porra nenhuma. Vivemos em um mundo fodido onde o preto tem que roubar para sobreviver — Finalmente, eu a olho — Nossa voz não tem moral, nós não temos espaço para caralho nenhum e tudo é movido pelos brancos filhos da puta que só servem para chicotear e abusar dos pobres — Digo com pesar — Mas sabe o que é pior? Eu fui um sortudo do caralho, filho da puta que nasceu com a bunda virada para a Lua e adivinha? Vim de uma família rica.

Starr não me olha em surpresa e eu já posso imaginar que alguma porra contou para ela sobre mim. Provavelmente, o marido da Gabriella e é por isso que eu deveria ter matado cada um.

— Nasci com privilégios mesmo tendo sangue escravo circulando pelas minhas veias, mas mesmo assim, eu fui atrás daquilo que eu não precisava — Continuo — Típico né? O menino rico, se afundando nas drogas porque sua família é uma porra e realmente, a minha família é uma porra, mas eu escolhi — Desvio o olhar para qualquer móvel da minha sala, apenas para não olhar para o possível olhar de pena que a minha mulher deve estar me mandando — Eu escolhi fazer parte de algo que eu não precisava e é justamente por isso, que eu continuo. Eu vou pagar pela minha decisão até os meus últimos dias de vida e tirar dessa porra, aqueles que entram por obrigação, porque não aguentavam mais ver seus irmãos chorando de fome. Esse é o meu pecado na terra, Preta.

Sinto o sofá afundar ao meu lado e continuo fixo a televisão desligada.

— Eu já fui um viciado de merda, um bandidinho fodido e um adolescente problemático — Afirmo sem vergonha nenhuma. Essa é a minha história porra — E eu poderia sim, colocar a culpa naqueles porras que me criaram, mas a escolha foi minha. A decisão foi minha e a escolha de me dar como morto, também foi minha.

— Aquela era a sua irmã? — Assinto.

— Gabriella Maria García — Solto uma risada — Eu sou irmão dela, mas nós não compartilhamos da mesma criação.

— Da mesma criação…?

— Meus pais me mandaram para um colégio interno na Suíça, para tratar da minha rebeldia — Mordo os lábios — Rebeldia… Como uma criança de 13 anos pode ser rebelde? — Questiono não esperando uma resposta — Então, obviamente, ela foi criada de um jeito e eu de outro.

— E de que jeito você foi criado, Gael?

— Do jeito que machuca — Respondo curto — Do jeito que dói, porque eu sempre fui o bastardo daquela porra.

— Gael… — Suas mãos tocam o meu braço.

— Com 16 anos, um ano depois de ter voltado daquele inferno, eu conheci um parceiro muito bem vestido e claro, maconheiro. Eu experimentei, gostei e comprei. No começo, era tudo divertido até o momento que aquela porra era a única coisa que fazia a diferença. A única coisa que importava e a única coisa que eu queria. Eu queria ficar chapado por 24 horas inteiras e me deliciar em todas as sensações que aquela porra me trazia — Pauso — Comecei a roubar dinheiro dos meus pais, porque eu não recebia mais mesada, roubar os amigos dos meus pais e até mesmo, a pobre da empregada. Eu fiz um inferno na vida daqueles porras e foi assim, que eu parei em uma clínica de ajuda.

— Gael… — Ofega — Calma, são coisas demais para processar.

— Você não queria saber da história toda? Então, você vai saber da porra da história toda.

[•••]

não revisado, flores.

MEUS AMORES---

MAIS E MAIS REVELAÇÕES, EU NÃO AGUENTO--

Gael sofreu sim, meus babys e o que ele falou, é a mais pura verdade.

O que acharam da primeira parte da história?? Logo mais, Gael irá se abrir e falar ainda mais.

Feliz dia 12 para quem está namorando, feliz dia 12 para os solteiros rejeitados e feliz dia 12 para você, que não namora, mas fica com alguém e não sabe se manda feliz dias dos namorados ou não. 😘
(esse é o meu caso).

Desculpas os possíveis erros ortográficos!

Espero que tenham gostado.

Beijão e até a próxima <33

Preta RaraOnde histórias criam vida. Descubra agora