Capítulo 9 - Começando Não Tão Bem

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CAMILA

Eu me atrapalhei toda, logo na chegada, falando sobre os olhos dela.

Certo, não foi exatamente a forma de aproximação mais polida do mundo, mas ficar frente a frente com Lauren me deixou muito mais nervosa do que eu imaginava que aconteceria.

Junto a isso, tem o outro probleminha de que não consigo manter meus pensamentos para mim mesma.

Quando eu era adolescente, culpei a imaturidade, hoje sei que não é bem assim.

Simplesmente não há como me impedir de dizer o que penso, ainda mais se estou ansiosa e quando a vi, uma onda de excitação percorreu meu corpo, como se eu tivesse dado duas voltas seguidas em uma montanha-russa radical.

Eu não estava preparada para uma guerra-fria, no entanto.

Ela me repreendeu como se eu tivesse cinco anos, só porque devolvi sua grosseria e não disse "olá" ao chegar.

Por vontade, eu daria meia volta, pegaria um táxi e iria sozinha para o apartamento, porque a ideia de passar mais meia hora, que é mais ou menos o tempo de carro entre o aeroporto e a cobertura deles, segundo pesquisei, presa em um veículo com a morena antipática, não me agrada.

A chance de que eu fale alguma besteira é grande e pode se tornar uma possibilidade real ela resolver não me deixar ficar na casa que divide com meu irmão.

Eu sei que não estou em posição de confrontá-la, então, ao invés de me comportar como um bebê e destruir minhas chances de começar a dar os primeiros passos como uma adulta, respiro fundo e cedo quando ela pega minhas malas.

Ando ao lado dela em silêncio porque posso ser inexperiente, mas sou inteligente também e aprendo rápido. Lauren já deixou bem claro que serei um estorvo pelo tempo em que meu irmão estiver viajando.

Penso na revista que li no avião e tenho uma ideia. Havia uma reportagem sobre a ilha de Saint Barthélemy, no Caribe, e decido que vou passar alguns dias lá na semana que antecede o início das aulas.

Entramos na garagem do aeroporto e eu dou um pulo quando sinto sua mão na parte de baixo das minhas costas.

Eu viro para trás, tentado acalmar as batidas do meu coração, mas acho que meu corpo inteiro me trai, porque minha respiração fica pesada e sinto as bochechas esquentarem.

— Calma. Eu não vou te machucar, Karla.

— Não estou com medo. Foi só o susto.

— Por quê? Ninguém te tocou até então?

Fico sem saber o que responder. Ela quer dizer literalmente, como em um aperto de mão, por exemplo, ou em um contexto mais íntimo?

— Já me deram apertos de mão — respondo sem pensar, decidindo guardar o episódio com Sebastian como segredo porque algo me diz que Ethan iria pirar se soubesse de algo assim.

Ela me encara de maneira tão intensa depois da resposta que sinto os joelhos bambos.

— Nada mais, Karla?

Jesus, eu odeio meu primeiro nome, mas na boca dela, soa como o marshmallow derretido que vovó fazia quando eu era criança.

— Não. Eu vivi desde os doze em um colégio de freiras e minha vida em Paris não foi exatamente uma farra de festas.

Por que estou me justificando? Depois do que disse há pouco, que se não fosse por Ethan, não me deixaria passar nem da porta do apartamento, eu nem deveria me dirigir a ela, para início de conversa.

Ela abre a porta do carro e me espera entrar.

Observa-me fechar o cinto de segurança e a sensação que tenho é de que quer tomar a tarefa para si, porque me olha impaciente quando eu me atrapalho.

As minhas mãos estão tremendo. Não consigo controlar a ansiedade.

Finalmente, depois da terceira tentativa, consigo.

Apenas então, ela coloca minha bagagem no porta-malas e se acomoda ao meu lado no carro luxuoso.

Eu a imaginaria dirigindo uma picape, não um sedã com bancos de couro.

Não tenho dúvidas de que esse carro custou mais de quinhentos mil dólares, porque apesar de não saber dirigir, eu adoro tudo sobre carros.

Não é o provável alto valor, o que me causou espanto. Qualquer um de nós três têm dinheiro de sobra para extravagâncias assim, mas o fato de que ela parece combinar com algo mais bruto, rústico.

Olho-a de relance. Lauren é um contraste. Nem um pouco polida, mas ao mesmo tempo, tem alguns gestos que mostram que recebeu uma educação refinada e talvez seja essa dualidade entre sofisticação e rudeza o que a torna única.

— O que quis dizer com sua vida em Paris não ter sido uma farra de festas?

— Pensei que não ia querer conversar comigo. Lembro-me que há apenas alguns minutos, disse-me que se eu não fosse irmã de Ethan, eu não estaria aqui.

— No entanto, teremos que conviver por quase um mês.

A raiva que estava começando a diminuir, volta.

— Sim, teremos. Mas não se preocupe. Se há algo que sei fazer bem, é me manter nas sombras.

Olho para a janela, chateada para caramba por ter me exposto.

Como eu posso me sentir atraída por uma ogra dessas? Devo ter batido a cabeça!

— Conte-me por que não saía em Paris.

— Por que quer saber?

— Preciso saber de tudo a respeito das pessoas com quem convivo.

— Por curiosidade?

— Não, por necessidade de controle.

Engulo em seco, sem entender por que a resposta dela faz os bicos dos meus seios incharem contra a camiseta.

— Não precisa ser educada comigo. Já vi seu pior lado.

Ai, meu Deus! Cale a boca, Camila.

Para minha surpresa, um canto de sua boca se ergue em uma sombra de sorriso.

— Não esteve nem perto de ver meu pior lado. Não faz ideia do que está falando. Agora, conte-me, Camila ...

CAMREN: Confiar Outra Vez (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora