Capítulo 42 - Um Anjo

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LAUREN

A cada passo, noto que a ansiedade dela, assim como a minha, aumenta.

Sinto como se toda a fortaleza que criei e trabalhei à minha volta ao longo da vida, estivesse ruindo porque apesar de tudo o que disse a ela sobre não fazermos planos para o futuro, Camila está se inserindo sob a minha pele.

Ela não se contenta, como as outras mulheres que tive, com o que eu quero oferecer apenas — meu corpo e o prazer que posso lhe dar.

Ela cava fundo e quer ver o que há por baixo da superfície.

Após darmos nossos documentos na recepção, entro no quarto. Pedi que ela esperasse um pouco, então Camila meio que se oculta às minhas costas.

De algum modo, ainda tento poupá-la.

Bruno, como da outra vez, encontra-se sentado na cama, mas agora está com as pernas puxadas contra o peito e o rosto molhado de lágrimas.

A enfermeira que contratei para cuidar exclusivamente dele anda de um lado para o outro, como se estivesse totalmente perdida e não esconde o alívio quando me vê.

— Hey, amigo. O que há de errado? Soube que você não quer comer — digo, fingindo não notar seu choro.

Ele me observa com muito mais profundidade do que uma criança de apenas cinco anos incompletos deveria ser capaz e eu sei exatamente o momento em que sua raiva vai aflorar porque eu já vivenciei aquilo vezes sem conta.

Revolta, dor, sensação de estar desprotegido, abandono.

Ela chega primeiro em seus olhos, como uma tempestade se formando e não me surpreende quando a despeja tudo em mim.

— Você é uma mentirosa! Disse que ia voltar, mas foi embora por dois dias inteiros! — E como para confirmar, representa os números
em que estive ausente com os dedinhos magros.

Quantas vezes eu mesma não agredi minha mãe daquele modo?

Quantas vezes não tentei mostrar para ela que, na verdade, não se importava comigo e que em algum momento se esqueceria de mim?

Tentando lembrar do que ela fazia para me tranquilizar, mantenho meu tom de voz baixo, como se seus gritos não fossem nada de
mais.

— Eu estava em casa. Há muito tempo não ia para casa e precisei voltar por um tempo.

— E esqueceu de mim. Esqueceu que disse que ia voltar!

Ainda mantenho Camila oculta e como se intuindo que o melhor no momento é permanecer nos bastidores, ela apenas aperta minha mão, solidária.

— Isso não é verdade, amigo. Eu não esqueci de você nem por um instante, mesmo quando fiquei fora, continuei caçando as pessoas malvadas.

Blood me contou ao telefone que quando acorda dos pesadelos, ele pede proteção contra a mulher má e eu não tenho dúvidas de que deva se referir a Maria.

A resposta parece finalmente acalmá-lo e seus olhos me contam, apesar da boca ainda se recusar a ceder, que ele sabe exatamente do que estou falando.

— Você matou os monstros, Lauren?

Deus, ele não deveria precisar fazer perguntas desse tipo.

— Não, amigo, mas a polícia irá prendê-los em breve.

Claramente não é o que desejava ouvir, porque a seguir ele começa a gritar de novo.

— Mentirosa! Vá embora! Eu não gosto de você. Você é uma mentirosa. Você não é minha amiga!

CAMREN: Confiar Outra Vez (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora