CAMREN: Confiar Outra Vez (G!P)

Capítulo 28 - Ele Sente Demais

LAUREN

Estou ficando louca.

Obcecada sobre o meu passado eu sempre fui, mas cada vez que Jonathan e Maria me escapam, a sede por vingança aumenta e os planos do que farei quando finalmente os capturar se tornam mais e mais cruéis.

Essa perseguição tem que chegar ao fim. Eu preciso encontrar os desgraçados ou acabarei entrando em uma espiral de ódio da qual nunca mais poderei sair.

Unido a isso, tem o fato de que vou para casa hoje e não consegui falar com Ethan ainda. A minha vida está longe de ser um livro aberto, mas dele, do homem que representa minha única família, eu nunca a escondi.

Eu sei que Camila merece uma pessoa melhor e que eu deveria deixá-la ir, mas também sei que não vou fazer isso.

Todos os dias em que estive longe, nos falamos e eu queria saber cada detalhe do que ela estava vivendo. Não aqueles que os guarda-costas me contavam, mas dos íntimos. Seus pensamentos, principalmente.

Ela não é de se abrir também e eu acho que agora sei a razão: Camila se acostumou a que não a notassem, a ser invisível.

Nos momentos livres nesse período fora, eu pesquisei Ramon.

Não precisei de mais do que uma hora e uns poucos telefonemas para descobrir tudo o que eu necessitava sobre o padrasto dela, e até agora, minha raiva não diminuiu.

Será que Sinu sabe que as dezenas de concessionárias de automóveis que ele possui são uma fachada?

Tem alguma noção do que o marido está realmente envolvido?

Não me surpreenderia se ela fechasse os olhos àquilo.

As atividades dele consistem basicamente em clubes de acompanhantes para clientes exclusivos, o que se pode traduzir em uma linguagem simples, é um agenciador de prostitutas de alto luxo.

Ainda que explorar os corpos de mulheres não seja o tipo de empreendimento mais honrado, não seria da conta de ninguém, não fosse o perfil das garotas envolvidas.

As mais velhas têm a idade de Camila.

Há meninas de 14 anos sendo abusadas para satisfazer aqueles malditos pervertidos.

São em sua maioria, provenientes do leste europeu, de famílias pobres.

Por mais que, até onde pude descobrir, não tenham sido trazidas contra a vontade, oitenta por cento não têm idade legal para consentir relações sexuais.

O que há de errado com a porra do mundo? Por que porcos como Ramon e Jonathan dirigem sua atenção para crianças, ao invés de se relacionarem com mulheres de sua idade?

E o que Ramon faz com Sinu há mais de cinco anos, se o negócio dele são garotinhas?

Camila conviveu com ele todas as férias em que passou em casa.
Nesse momento, de algum modo, eu sou agradecida à víbora da mãe dela por tê-la feito estudar em um colégio interno.

Apesar de ter conseguido uma visão geral da vida secreta de Ramon, ainda não acabei com ele. Não importa que Camila agora esteja longe do alcance das garras do filho da puta. Há outras garotas provavelmente ainda sofrendo em suas mãos.

Eu tenho meu melhor homem em segurança da tecnologia rastreando e revirando todas as atividades do marido de Sinu do avesso.

Quando terminarmos, não haverá segredos entre mim e o miserável e para o bem dele, é bom que não encontremos nada sobre Camila nesse meio.

Ela disse que teve a sensação de sentir uma luz, como um flash de uma câmera de celular.

Gostaria de poder acreditar que talvez fosse só impressão, como ela tão ingenuamente insinuou, mas qual é a chance de um explorador de menores ter uma beleza como a dela ao alcance das mãos e não fazer nada?

No fim, foi uma sorte ela ter vindo ficar conosco. Pela minha experiência, abusadores de mulheres se aproveitam da oportunidade para pôr em prática seus desejos doentios e embora Camila já seja uma adulta agora e na teoria esteja fora de seu radar, já que sua preferência são as mais novas, eu não a quero naquela casa.

Ela tem bons instintos. Mesmo sem fazer a menor ideia do tipo de homem com quem a mãe se casou, manteve-se cautelosa.

A cada vez, eu percebo o quanto Ethan está equivocado sobre a irmã. Camila não é um cristal. Pode ser nova e inexperiente, mas é inteligente e sabe o que quer.

Ele acha que a conhece? Eu duvido. Talvez enxergue nela o que deseja ver somente.

No pouco tempo em que convivemos, percebo Camila desabrochar de menina a mulher.

Fico em silêncio enquanto Blood dirige. Antes de irmos embora, quero passar para ver as crianças. Há dias, todos os menores salvos em nossa última operação foram levados para uma clínica, não só para receberem tratamento físico como também para um cuidadoso acompanhamento psicológico.

Eu não costumo interagir com as crianças que resgato. Envolver-me emocionalmente com as vítimas poderia me paralisar, mas dessa vez, foi impossível me manter à parte.

Eram dezesseis menores, contando com o garotinho, Bruno.

Passamos informações básicas sobre eles ao FBI e as levamos para os agentes com quem estamos trabalhando. Enquanto isso, meus homens trataram de incendiar a casa e o galpão, apagando quaisquer rastros de que estivemos lá.

Antes, claro, nós recolhemos provas para que eventualmente os pedófilos envolvidos possam ser levados à justiça.

Nada que encontramos fazia referência a Maria e Jonathan. Eles são serpentes escorregadias, sempre um passo à nossa frente.

Essa não é nem de longe a primeira casa de crianças exploradas que descobrimos, e sim, algo mais como a nona ou décima, mas apesar disso, das outras vezes mantive distância emocional.

Não consigo virar as costas ao menino, no entanto. Algo em seu olhar me chama para perto.

— Tem certeza de que quer fazer isso?

Sei que Blood está falando sobre visitar Bruno na clínica.

— Eu preciso verificar se ele está bem.

— Por que ele?

— Eu não sei. Talvez porque quando o olho, é como me ver em um espelho. Ele parece não sentir e é justamente por isso que eu sei que ele sente até demais.