O Pequeno Tritão

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Uma maldição podia ser quebrada pela metade? Pelo jeito sim.

Juyeon não entendia, mas lá estava Heeseung para provar isso. O beijo de Sunoo havia sido um fracasso absoluto, mas o de Sunghoon… bem, seja lá qual fosse a maldição sobre Lee Heeseung, era poderosa demais para um beijo de amor verdadeiro.

As proporções do corpo mais bestial havia sumido, trazendo-o de volta a suas proporções normais, mas a pelugem macia, orelhas felinas e presas longas e pontudas não desapareceram. Heeseung permanecia metade fera metade humano.

Pelo menos agora podiam sair em público, ainda que ele precisasse usar um manto para esconder sua bestialidade, sempre cuidadoso e preocupado. Tinham que encontrar a pessoa que poderia quebrar a maldição, e na noite passada o colar de Sunghoon começou a brilhar, a luz ficando levemente mais forte quando andavam em direção a cidade mais próxima. Era um sinal, eles sabiam, os deuses os guiando para o caminho certo, então naquela manhã reuniram suas coisas e partiram juntos.

A cidade era movimentada, localizada próxima ao Lago das Lágrimas, a enorme catedral centralizava o local, as casas se estendendo a partir dela e da praça central. O mercado era vasto, a imensidão de barracas e vendedores tentando chamar a atenção do povo beirava o assustador.

— Para onde iremos agora? — perguntou Sunoo, olhando de esguelha o colar brilhante que Sunghoon mantinha cuidadosamente escondido na mão, por baixo do manto, deixando-o visível só para se orientar.

O platinado seguia caminhando, cabisbaixo, evitando os poucos guardas que mantinham suas posições nos prédios do governo, a prefeitura caindo aos pedaços era onde a maioria ficava.

— Não, isso não é bem uma bússola, com seta. Talvez brilhe mais quando chegarmos mais perto.

— Ótimo, só que faltava.

Heeseung grunhiu, desapontado, Sunoo seguiu murmurando reclamações, Winter seguia ao lado do amigo, Sunghoon a frente do grupo, e Juyeon, que ficara no fundo, parou de andar.

A atenção do tritão mudou, os olhos escuros brilhantes direcionados às madeixas douradas que viu ao fundo, de costas, sendo cobertas pelo capuz.

Ele sabia que podia não ser nada, mas algo dentro dele dizia o contrário, uma sensação gélida e quente, o traindo naquela direção de maneira magnética, como se semelhante atraísse semelhante. Juyeon se desviou, os passos ocultados pelo barulho da multidão, a mente centrada em não perder a figura de vista, deixando os amigos seguirem sem que percebesse essa parte.

O loiro encapuzado entrou numa rua principal do mercado, muito mais movimentada, e o príncipe tomou cuidado o seguindo, ficando atrás de uma senhora, depois de um mercador, e uma cortesão de decote profundo, os peitos estufados.

A sensação se intensificou a cada passo, à medida que a distância entre eles diminuía, ficando mais acentuada, podia jurar que sentia o cheiro de mar chegando às narinas, assim como a voz do irmão nos ouvidos. Tinha que ser…

Juyeon se arrependeu a cada passo, se arrependeu de não ter sido um irmão mais presente, apesar de sempre ajudar o irmão, eles nunca foram do tipo que saiam juntos com frequência, mesmo que gostasse da companhia um do outro. Eric quis vingá-lo com relação a Sunghoon, lhe dar uma chance de fazer justiça pelo que sofreu, e mesmo que agora estivesse sem memórias para serem recuperadas pelo livro, o tritão precisava, mesmo que de maneira boba, saber que o irmão estava bem e em segurança. Ok, ele havia feito sexo com Sunghoon, mas em defesa de Eric, Juyeon do contou seu antigo namorinho ao irmão depois daquilo, depois de assistir, escondido no quarto andar do castelo, a surra que Sunghoon deu em Sunoo. Quando viu o irmão saindo de um banheiro, com Park Sunghoon logo atrás, ele puxou Eric para longe sem Sunghoon perceber e contou tudo. O irmão ficou irritado, enojado e vomitou, dias depois convenceu Heeseung a começar o plano contra Hoon.

Espelho Espelho Meu - JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora