O Príncipe Encantado

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Gritos e mais gritos não é o que se espera da residência da Bela e da Fera às sete da manhã, mas para a alegria do Conselho Tutelar, os gritos que vinham de nenhuma violência doméstica ou ambiente familiar hostil, mas provindos das jovens primas de Heeseung discutindo entre si sobre vestidos e cosméticos que pretendiam comprar ou coisa assim.

O jovem Lee se mantinha silencioso em sua cadeira, comendo seu cereal com leite em colheradas generosas. Nem mesmo prestava atenção no assunto debatido entre as meninas, já estava acostumado a não ser incluído naqueles momentos. Isso sempre foi comum, por ser o único homem dessa geração da família, Heeseung nunca teve amizades masculinas e as meninas costumavam o excluir. Sunghoon foi seu primeiro grande amigo, sendo quase um irmão ao longo dos anos.

Mas agora Sunghoon não estava mais ali.

Depois de se apressar com o cereal, Heeseung levantou-se, partindo da cozinha sem ser notado por nenhuma das garotas. Naquele momento seu pai chegava ao cômodo.

— Bom dia filho — disse o moreno alto de porte real, o homem popularmente conhecido como Fera, mas que em casa era chamado de "Pai", "tio", Sr. Lee". Também havia "Woo", mas tal apelido era reservado para sua linda esposa.

Ele tocou o ombro do filho, sorrindo com tanto ânimo que Heeseung forçou-se a corresponder com o próprio sorriso. Hee não gostava de incomodar os pais, sabia como eles eram ocupados. Sempre soube se virar, então nunca foi de causar problemas a nenhum dos dois.

— Hoje de noite iremos jantar, sua tia convidou todos nós para o restaurante novo que está abrindo. Traga o Sunghoon, faz tempo que não o vemos.

Aquela era mais uma das tentativas de seus pais em ajudar. Heeseung não havia contado sobre a atual situação com Sunghoon, mas era óbvio que seus pais não demorariam para descobrir pelo menos o básico a respeito. Aqueles dois sempre foram bons em notar os detalhes, e a ausência de Sunghoon, que sempre esteve com recorrência naquela casa, era um detalhe gritante. Talvez se Heeseung tivesse jogado chocolate quente na pintura favorita de seu pai, tivessem demorado mais para notar do que a ausência do Park.

— Vou chamar ele, mas o Hoon anda muito ocupado.

— Tenho certeza que ele adoraria vir, Sunghoon sempre gostou de sair nos eventos da nossa família.

— Real. — Com um olhar desconfortável, Heeseung tentou pôr fim a conversa. — Preciso ir para a escola agora, pai.

— Ah, claro. E não se esqueça de pegar um casaco e cachecol, está esfriando muito nesses últimos dias. Talvez neve essa semana.

— Pode deixar.

E assim Lee Heeseung partiu para a escola, tendo esquecido seu cachecol, que por precaução seu pai já havia posto num dos bolsos da mochila do filho mais cedo.

Chegando na escola, Heeseung focou em seu sistema de sempre: ignorar a grande maioria dos alunos. Na gigantesca maioria das vezes, detestava a popularidade que o nome de sua família atraía, principalmente pela atual fama que A Bela e a Fera recebeu. Claro, isso sempre foi bom para atrair garotas e garotos interessados em Heeseung, sendo esse o caso de Eric e muitos outros estudantes da escola. Mas até para isso havia limite.

Naquela manhã, além de ignorar a maioria das pessoas, ele estava se focando em outra atividade, a de encontrar alguém. Contando com essa quarta-feira, faziam quatro dias que Park Sunghoon não vinha à escola. Em circunstâncias normais, ele teria ido à casa do melhor amigo no primeiro dia, antes mesmo das aulas acabarem, e iria arrancar respostas. Mas agora ele não estava mais falando com Sunghoon, então o máximo que podia fazer com sua preocupação era encontrar Sunghoon pela escola.

Espelho Espelho Meu - JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora