É hora do chá

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Aquele palácio ficava tão vazio sem Sunghoon andando pelos corredores.

Claro, haviam outras peças, dezenas, talvez centenas, Jiyeon não havia perdido tempo para contar. Mas nem mil súditos pareciam suficientes. Seu filho havia lhe abandonado. De novo. Talvez ela devesse agradecer, era algo melhor que o marido asqueroso que tinha ajudado-a a gerar Sunghoon, ou o pai obcecado por dinheiro que tinha criado ela depois da morte da mãe.

Sunghoon era precioso, era a última família que restou depois de tudo. Havia se dedicado para agradá-lo, trouxe Juyeon, um presente, o primeiro amor do filho, entregue como um marido amoroso e lindo. Castelos, propriedades rurais com mansões gigantescas, riqueza, amantes, um reino! E ainda assim o filho a abandonou quando recobrou as memórias daquele mundo. Daquele maldito mundo que trouxe tanto sofrimento a ela.

Era melhor ser poderosa, para que ninguém pudesse pisoteá-la, usá-la e feri-la. Essa foi a grande lição que aquele mundo a ensinou, e Jiyeon faria tudo para tornar-se a mulher mais poderosa de todos os mundos, se pelo menos isso a permitisse ter seu filho e paz. Só um pouco de paz.

Havia passado a vida inteira pensando que Sunghoon seria como ela, melhor, aprimorado, aperfeiçoado e protegido. Sabia que um dia viriam desafios na direção do filho, que o filho de Somin surgiria, como o destino daquele mundo maldito proclamava, mas ela estaria pronta! Foram anos de preparação para afastá-los, mas algo magnético os uniu, guiava ambos na direção um do outro, não como inimigos.

Amantes.

Talvez, só talvez, se tivesse sido mais sutil, cobrindo os rastros mais cedo, visto que Sunghoon não era como ela, que não era seu herdeiro, poderia ter lidado melhor com a situação. Nunca descobririam o que ela fez a Somin, e poderia ter acolhido Jake como parceiro de Sunghoon, incluído ele na família. O garoto parecia legal, ela admitia isso, seu filho tinha bom gosto, mas o destino foi infeliz no caminho traçado.

A revelação de Sunghoon, no fim das contas, acabou sendo sua maior surpresa. Tão prepotente e tola, era como se sentia, cometendo os mesmos erros do pai, não observando melhor, não sendo atenta! Deviam ter dito pistas. É claro que houveram! Mas estava tão cega, era seu filhinho; infelizmente a cara do pai, mas sem um grama da maldade dele. Sunghoon sempre foi perfeito e ela o mimou, e se odiou por deixá-lo ser ferido pelo pai, mesmo que fosse parte do caminho para forjá-lo, torná-lo forte para o mundo que viria.

Mas no fim Sunghoon não era seu herdeiro, e sim do desgraçado com quem ela se casou. Tudo que Sunghoon lhe puxou foi um maldito sorriso, enquanto todo resto vinha daquele monstro. Aparência, gostos por esportes e cultura, até a magia…

O sobrinho e herdeiro daquela rainha da neve maldita.

Fora tantos anos criando seu filhinho, para que não houvesse absolutamente nada dela nele! Por que os deuses eram tão cruéis consigo? Devia ser o entretenimento predileto de Tragédia, o senhor dos dramaturgos.

— A senhora cansada. — A voz rouca veio de sua direita enquanto caminhava, os cabelos castanhos claros surgiram na extremidade do campo de visão, assim como o semblante sereno. Nada de humano.

Um deus. Não como os aspectos que região aquele mundo, mas um deus dentro daquele mundo maldito. Bem, do mundo que veio antes de sua criação.

— Uma péssima noite de sono, nada mais. — Se permitiu dizer, o mínimo, sobre sua condição. Estava exausta e cheia de dores.

Chernabog assentiu, compreensão brilhando naqueles olhos que deveriam ser o reflexo do próprio mal na terra.

Ele se parecia com o filho, mas não tanto quanto a esposa, que dera as feições gentis, o sorriso caloroso e os olhos ternos de Sangyeon. Suas roupas eram chiques, a costura quase tão perfeita quanto as obras-primas que a rainha vestia, apesar de serem menos espalhafatosas e caras.

Espelho Espelho Meu - JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora