O deus do Mal

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Jake estava entrando em pânico e não era um bom momento para isso.

Bem, quando era um bom momento para entrar em pânico? Pensar nisso o distraiu brevemente, mas não o bastante, ele não podia ser dar tal luxo, estava em sério problemas.

Coringa sabia a verdade, que ele estava acordado, e pior, que envenenou Jiyeon.

Sua mãe sempre falava sobre não roer as unhas, mas a ansiedade falou alto o bastante para Jake deixar de lado os ensinamentos de Yenjin. Todos os barulhos, até os mais ínfimos, o faziam dar pulos de susto. Esperava que aquelas portas imensas se abrissem a qualquer momento, Jiyeon surgindo, acompanhada de uma guarda armada, prontos para darem fim ao pequeno bruxo Shim mantido em cativeiro, dono de um senso de moda surpreendentemente bom.

— O que vou dizer? Talvez eu consiga me safar — sussurrou, mais para si mesmo, do que para a sala cheia de tecidos e planos de roupas inacabadas. — Talvez eu devesse ter pego mais leve nas doses, isso que me denunciou, tenho certeza. Jiyeon desfalecer logo durante nosso chá da tarde chamou atenção demais. Inferno!

Logo o Coringa desgraçado daria com a língua nos dentes, e a morte viria à sua procura. Jake precisava de um plano.

Podia usar sua magia, essa seria a via mais óbvia. Mas a torre era o problema, tinha algo de errado ali, ele não conseguia usar o poder direito, aquela chamada com Sunghoon foi seu máximo, exigiu quase todo poder que veio acumulado desde que acordou da maldição. Não tinha como lutar, seria suicídio. Ainda com força total, Jiyeon já era mais poderosa, e ela já deveria estar recuperada. Isso sem contar os generais, se tivessem muitos ali, ele jamais escaparia.

Chernabog, Úrsula e Cavaleiro Sem Cabeça eram os maiores perigos, isso sem considerar o Coringa — Ele parecia estar partindo, então talvez nem estivesse no palácio no momento. Madrasta, Caçador e Gancho eram ameaças, claro, mas as menores, eram humanos sem poderes, ainda que fossem pessoas horríveis.

“Que ironia”, pensou o jovem vilão.

Ele era um deles, um vilão, ainda que já fizesse muito tempo desde a última vez que se imaginou como tal. Ainda deveria estar fazendo maldades? Bem, ele envenenou a Branca de Neve, o suficiente para deixá-la de cama por quase duas semanas.

O destino, sem sombra de dúvidas, era engraçado e criativo nas maneiras de ser cumprido.

A madeira velha das portas rangeu.

Jake se sobressaltou, andando para trás, em direção aos montes de tecido, a mesa de trabalho e a máquina de costura. Encurralado. Merda, era cedo. Muito cedo.

Coringa já o havia entregado?

Não, ainda tinha esperanças. Então, na maior naturalidade que conseguia transmitir, empertigou-se, pondo o chapéu extravagante na cabeça, a pena longa de pavão caindo diante do rosto, e colocou as mãos nas costas, segurando uma longa agulha de tricô.

Se estava encurralado, ia pelo menos tentar enfiar aquilo na garganta da desgraçada da sua sogra.

Mas não foi Jiyeon que apareceu. Era muito pior.

Chernabog.

O deus de todo o mal adentrou o ateliê-quarto de Jake, a vestimenta azul-escuro bem alinhada, os olhos e cabelos negros como nanquim, e um sorriso quase imperceptível no rosto. Jake nunca sabia como reagir diante dele. Nas reuniões da antiga escola, quando Sangyeon levava os pais, sempre viu os vilões fazendo reverências a Chernabog. Malévola e Morgana fazia acenos de cabeça, eram as maiores vilãs vivas, tinham seus privilégios. Mas todos demonstravam um respeito unânime àquele homem. Homem não, deus. Deus do mal, logo seria o deus dos vilões?

Espelho Espelho Meu - JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora