Planos para Jake

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— Você vai se recuperar, já pode sair da cama e caminhar um pouco, se quiser.

Miriam levantou-se da extremidade da cama, onde havia se acomodado para examinar Jiyeon. Seus longos e ondulados cabelos castanhos caíam no movimento, as calças marrons e a camisa branca de botões foram ajeitadas com algumas batidinhas, então ela começou a recolher seu equipamento. Tão parecida com o filho, até no rosto arredondado e olhos calmos.

— Tem certeza? — perguntou a bruxa, receosa. Ainda se sentia muito fraca.

— O corpo não vai melhorar da noite do dia, mas os tônicos farão seu trabalho. — Ela pegou a prancheta na cama, conferindo suas anotações. — Há algo estranho no seu sangue, farei exames, então evite atividades muito desgastantes. Cherna cuidará do governo até lá.

— Ah, ele adoraria mesmo — respondeu, jocosa.

Miriam a encarou, e a máscara de simpatia profissional se desfez momentaneamente, menos de um segundo.

— Ele não a traíra, sabe disso.

— Você é a garantia, querida. — Jiyeon a observou, o olhar descendo para os pulsos da curandeira, escondidos pelas mangas longas e folgadas de sua camisa. Escondendo os braceletes presos por magia.

A apólice de seguro contra o deus do Mal e seu filho.

— Precisamente — Miriam limitou-se a responder, terminando de guardar as coisas. — A cicatriz nas suas costas, foi Malévola?

Ela a encarou, incomodada, mas tentou conter suas reações. Miriam já havia visto seu corpo mais de uma vez, precisava para os exames, tinha que ter certeza das condições físicas em que se encontrava. Até mesmo a maior médica do mundo precisava ter noção das condições de sua pior paciente.

— Quando lutamos. Ela deu um tiro forte com aquele cajado velho.

— Que você agora empunha. — A morena parou, repensando as palavras. — Ou melhor, esconde.

— Sou precavida. Posso ser traída por todos vocês, incluindo você, minha cara. Conheço os limites de sua lealdade.

— Conhece minha ética — corrigiu a médica, franzindo o cenho. Como ela podia parecer tanto o filho? — Nunca faria mal a meus pacientes. Mesmo pelo pior que sejam.

Reclinando o corpo na cama, acomodada nos imensos travesseiros macios, Jiyeon sustentou o olhar da Lee.

Era interessante falar com ela. Jiyeon tinha perfeita noção das opiniões de Miriam sobre ela, não eram tão diferentes da maioria daqueles conscientes do mundo antigo. Seus generais, pelo menos os mais poderosos, não a respeitavam, apenas a temia devido à ameaça imposta ou enxergavam oportunidades. A estúpida Úrsula via nela a chance de mudar a própria história, saindo por cima de Ariel após sua derrota. Chernabog, no entanto, enxergava apenas um incômodo, uma bruxa atrevida que ousava fazer sua amada de refém.

— Tenho algo para você, Miriam.

A médica se deteve, observando Jiyeon levantar da cama, ainda um pouco manca. O ranger das portas ressoou, e Chernabog entrou, o olhar voando de imediato para a esposa.

— Vou deixá-los falarem de maneira mais confortável, mas as portas ficarão abertas, por segurança. — Jiyeon caminhou em direção a saída, fazendo um breve sinal de cabeça para o deus maligno.

Talvez aquilo melhorasse a relação com a divindade.

Apesar de querer muito saber do que falariam, Jiyeon partiu, se contentando com o brilho que iluminou o rosto de Miriam, assim como o sorriso contido de Chernabog. Ela foi a passos tranquilos pelo castelo, tinha uma crise para lidar e precisava conferir seus projetos inacabados.

Espelho Espelho Meu - JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora