Perto do fim

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Não estava frio ali fora, mas Sunoo seguia agasalhado, agarrado ao casaco e a capa que Niki o deu quando partiram para aquela missão. Seu namorado tentou convencê-lo a ficar na mansão, onde era seguro, mas não, Sunoo não se permitiria ficar para trás até para algo tão simples. Ele se sentia fraco, mas não seria fraco. São coisas diferentes.

Estava farto de não servir de nada a causa dos amigos, a que sua família participou, contra a rainha degenerada que fez um mundo inteiro de refém naquela fantasia lunática.

— Está feito — disse Niki, caindo ao lado de Sunoo no beco, depois de ter saltado do telhado próximo.

O namorado estava ofegante, o peito subindo e descendo rápido enquanto enxugava o suor da testa, a capa marrom ficou suja de lama e o machado de cabo longo que trazia também estava manchado, mesmo que a iluminação do beco não permitisse a Sunoo discernir o que era. Ele preferiu não saber, assim como decidiu não pensar muito sobre o que Niki fizera com o machado em sua mãe.

Ele deveria odiá-lo, não deveria? Mas não, havia apenas uma apatia inquietante sobre a informação, marcada pelo doloroso rancor desperto na imagem da mãe em sua cabeça, fortalecido sempre que lhe vinha à mente sua traição. A maneira como ela o entregou ao Coringa, como sabia de tudo nos últimos anos e mesmo assim preferiu sua posição social a cuidar dele. Cinderela escolhera a si mesma, mais de uma vez, sacrificando Sunoo e seu pai para estar bem na sociedade, assim como um dia largou a mãe e irmãs.

Então, não, Sunoo não conseguia odiar Niki por matar sua mãe, mesmo que aquilo lhe fizesse se sentir culpado, um monstro horrível, renegando a mulher que o trouxe ao mundo. O mundo onde fora jogado, e ela mesma o deixaram assim, endureceram seu coração ao ponto de precisar lutar para abafar as risadas cruéis da metade terrível de Sunghoon.

As risadas e os toques que não saiam de sua mente, e mesmo que fossem, na aparência, iguais a Sunghoon, ao Sunghoon que foi seu namorado, ele sentiu com Ben um horror tão imenso que Sunghoon jamais chegou perto de gerar. A mera memória das caricias gélidas faziam a bile subir a garganta

— Não se preocupe, não cortei ninguém, não a carne. — Ele esfregou o rosto, limpando a camada de suor. — Os portões foram arrombados, então todos podem fugir quando tudo sair de controle. Só espero que a batalha não saia de controle deles.

Sim, os demais estavam no palácio, lutando com seus poderes e habilidades, Sunghoon lhes deu aquela oportunidade, o plano veio dele, forjando a própria captura para colocar alguns do grupo dentro do palácio, sem contar o grupo de Sangyeon, Jiwoong e Seorin, que, depois de tudo o que passaram, lutariam lado a lado como seus aliados.

Na entrada do beco alguém veio, os cabelos dourados refletiram o sol forte quando Matthew entrou, tão cansado e agitado quanto Niki parecia.

— Feito.

— Ótimo, então temos que sair.

— Mas e os outros? — perguntou Sunoo. A mãe de Jungwon e outros da rebelião de Somin se espalharam pela cidade, incitando as pessoas a fugirem. — Alguma notícia?

Niki sorriu, lhe estendendo a mão.

— Vão ficar bem, confie em mim. Agora vamos.

O Kim observou a mão pálida do namorado, quente e cheia de calos das noites desenhando e pintando, mas ainda assim sendo a maior fonte de conforto que Sunoo encontrou. Aquilo sim o fez se odiar um pouco, a ideia de um dia ter destratado Niki, de humilhá-lo e ofendê-lo.

Niki não o abandonou. Nunca.

— Vamos — respondeu ele, segurando a mão do mais alto, os cabelos pretos dele balançaram a brisa fraca que passava, deixando que Sunoo visse seus olhos escuros entre as mechas.

Espelho Espelho Meu - JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora