Morte

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Estava doendo. Estava doendo tanto.

Sunoo não conseguiu conter os ruídos que soltava, ganidos dolorosos escapando da boca sempre que aquela magia de gelo se arrastava, passando pelas algemas para dentro dele. Seus olhos lacrimejavam sem parar, a invasão do poder de Ben tomava espaço, deixando a pele rosada de um azul arroxeado nada saudável. O moreno já não sentia os braços, dos bíceps até a mão, aquele roxo ardia gelado, os membros imóveis, mas latejando tão dolorosamente.

A explosão de gelo veio quando ele achou que era o fim, o poder de Ben começou a engolir o lugar, Sunghoon, ainda longe, gritou, e a morte veio para todos os lugares.

Quando ele teve a certeza da morte, que começava a parecer um alívio em meio ao desespero crescente, o frio da neve não chegou até ele, quem estava ali na frente dele eram Jake e Sunghoon, os dois trabalhando juntos para conter o poder de Ben. O poder caiu, o falso-Sunghoon rosnou, criando duas espadas gêmeas de gelo nas mãos, Sunghoon, que estava alguns metros na frente de Sunoo, abaixou a cabeça, imitando a criação de sua cópia.

— Jake, tire o Sunoo dali rápido.

O Shim assentiu, virando as costas para o namorado e correndo até Sunoo, que viu sua chegada no centro das extremidades de sua visão que escureciam.

— Sunoo — disse o bruxo, gritando quando o Kim tombou com a cabeça para baixo —, resista, por favor. O Niki está vindo.

Niki...

(...)

O corpo de Eric gritou de dor com a queda, o chão estava duro, a terra macia da floresta tinha ficado rígida como pedra congelada naquele mundo, e algumas pedrinhas arranharam sua pele, perfurando o tecido da roupa.

Ao fundo, o Caçador se aproximava, arrastando seu enorme machado pelo chão, o olhar predador, o mesmo que deve ter sido dado quando ele perseguiu Bela e Fera décadas antes, antes de ser poupado pela piedade do casal apaixonado. Mas ali não havia piedade, ele não teria, isso ficou nítido quando levantou sua arma, pronto para atacar o rapaz loiro caído. Por reflexo, Eric buscou alguma fonte de água, mas não havia mais nada, tudo tinha secado, absorvido pela terra ou em porções tão pequenas que não fariam diferença. Juyeon gritou seu nome, a voz rouca, a voz do irmão que ele finalmente tinha voltado a escutar, mas Ju não o alcançaria a tempo.

O Caçador desceu seu machado, o golpe foi feito mas não houve dor, não quando o vulto dourado voou contra o homem e o jogou para esquerda sobre os espinhos.

— O que? — perguntou-se o príncipe tritão, ainda atordoando. Cambaleando, e tossindo pela secura na garganta, ele levantou e tentou entender o que acontecera.

Lá estava seu algoz, caindo sobre o chão de pedra, o machado em mãos num duelo de força com uma imensa criatura peluda de roupas rasgadas, pequenas demais para a estrutura corporal robusta, os olhos negros e sem qualquer rastro de branco ou das írises, dilatadas numa forma predatória diferente de todos os animais que Eric já viu. Aquele não era um animal, e ele não soube disso por causa das roupas rasgadas, dos pelos castanhos dourados tão familiares ou os ruídos bestiais. Ele soube sem precisar da aparência, ele soube porque seu coração se apertou tão forte que parecia prestes a parar de bater enquanto balançava a cabeça.

— Heeseung, não.

Heeseung sobrepujava a força do Caçador, os braços monstruosos tinham bíceps do tamanho da cabeça de Eric, e ele não teve problema em tomar a arma as mãos do general de copas, jogando-a longe demais para o Caçador recuperar. Assistindo a cena, incrédulo, Eric se apoiou numa arvore, o corpo dolorido precisando de ajuda para ficar de pé.

Sem piedade, Heeseung avançou na jugular do Caçador, as presas gigantes se cravando na carne enquanto as garras longas partiam tecido e músculos pelo restante do corpo. Não foi uma carnificina demorada, ele estava irado, uma cólera tão gritando que fazia o ar ficar vermelho ao seu redor, talvez pelo sangue jorrando, talvez pela aura cruel e predatória que Hee emanava. Os gritos do Caçador pararam poucos minutos depois, ficando molhados e borbulhentos pelo sangue na garganta destruída, antes de sessarem para sempre.

Espelho Espelho Meu - JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora